Texto: Macio Amaral. Revisão: Larissa Lisboa.
Trajando brincos e um chamativo colar de pérolas, Josenaldo Veríssimo dos Santos diz: “Eu provei que queria viver”. O desabafo acontece à frente do cinema lotado no dia em que o 1º Festival de Cinema de Arapiraca iria exibir o filme que conta um pouco sobre a sua vida. Não é preciso muito para compreender por que o “Nazo” é uma figura pronta pra virar documentário.
NAZO dia e noite Maria celebra os 65 anos de existência de Nazo num tributo a uma história de vida carregada de violência e preconceito, mas que também conseguiu vislumbrar muita fé em Deus e vontade de resistir. Esse apego ao divino é visto em diversos trechos do filme e mostra a complexidade que permeia Nazo: um corpo queer e cristão.
Suas vivências são o foco do filme biográfico de Andréia Paiva. É um tributo mais que justo ao personagem, mostrado na escolha dirigida do curta, onde a única voz é a dele. Nazo tem força para ocupar a tela, seja com a sua fala, maneirismos ou movimentação corporal, e merece toda a reverência em cenas onde ele é cuidado, embelezado e desfila ovacionado pela cidade. Esses trechos fazem jus à personalidade carismática e alegre, ao mesmo tempo em que representam a paz encontrada em ser e exercer quem é após tantos anos de enfrentamentos.
A referência do título corresponde à indefinição do próprio Nazo. Ele quebra barreiras do ser ou vestir ao performar a si próprio, sem necessariamente se encaixar em determinado rótulo de gênero. A indefinição se Nazo é arte ou identidade, que muitas vezes é vista em suas próprias falas, não é um ponto de questionamento no filme. Nesse recorte, há respeito à memória e veracidade da figura penedense, e um apanhado sobre o discurso de autoexpressão LGBT. Caso contrário, o filme poderia cair em um anacronismo que apagaria a naturalidade do protagonista.
O que não resta dúvidas, no entanto, é a dureza da vida enfrentada. Mesmo sem se definir nos espaços e representações da sigla LGBTQIA+ que conhecemos em 2022, Nazo sofreu na pele toda a rejeição e a obra consegue mostrar, hoje, a potência dessa história. Nazo é uma figura que pode gerar dúvidas e trazer questionamentos, mas esse é ele. Cru, espontâneo e carregado de histórias. Deixai-o ser eternizado.
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