Texto: Tatiely de Holanda Barros. Revisão: Kátia Barros
Ninguém Nunca Vai Te Amar Como Eu Te Amo (Direção: Fernanda Magalhães, Gustavo Guives)
O filme da diretora Fernanda Magalhães e Gustavo Guives, de forma envolvente e até em certo tom, divertida, conta a história de um relacionamento abusivo entre o protagonista e uma manequim de plástico.
E com esse filme, não tem como não visitar os dicionários de estatísticas das doenças (CID -10 e DSM 5), em que o desejo sexual por manequim é descrito como um transtorno sexual ou parafilia. Para além disso, o que me chamou a atenção foi o paralelo com as mulheres reais, de carne e osso que são silenciadas em relacionamentos abusivos, e que toda a psicose de Beto parte apenas do que ele acredita. Os padrões de comportamento da manequim de plástico nada influenciam sobre a certeza de Beto, de que está a todo momento sendo traído por Letícia.
Quando Letícia recebe uma oportunidade de emprego em outro país, ganhando mais, as violências se intensificam e é escancarado o que a diretora propõe sobre o ciclo do relacionamento abusivo, em que o homem joga todas suas frustrações, mágoas e ódio na sua companheira e após algum tempo se mostra frágil, amoroso e arrependido, o que chamamos de fase da lua de mel. Essa é uma das formas que a mulher fica refém de relacionamentos abusivos, a iminência da mudança do outro, que a violência cesse, e que aquele homem seja o mesmo do início do relacionamento.
O curta tem a finalidade de denunciar e mostrar mais sobre o ciclo constante de violência doméstica, cumprindo bem esse papel. No meu ponto de vista, o plot twist não agregou à história, e sou ousada em falar, descaracterizou a mesma, pois o silenciamento não acaba quando a mulher decide sair da relação, o que vemos constantemente é o silenciamento para o todo sempre quando há tentativa de término do relacionamento.
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