Crítica: O Saldo da Guerra (dir. Mário Zeymison)

O que cabe em um minuto? O saldo da guerra (2018), curta-metragem alagoano dirigido por Mário Zeymison, responde: cabe um filme inteiro. Estruturado em relatos fictícios de rompimentos ocorridos por ocasião do nebuloso momento político do ano de 2018, a produção de cerca de 60 segundos apropria-se do drama da perda e entrega para o público um conteúdo crítico alicerçado em um texto simples, direto e cômico na medida certa.

Roteiro, direção e montagem se entrelaçam para contar uma história sobre desenlaces. Nas fotografias impressas nas mãos dos personagens, o recorte nostálgico dos tempos idos; nas vozes em off, o verbo no passado que se prolonga; nas expressões faciais, o registro do presente. Um fundo branco, rostos possíveis e a escolha do p&b. Para muito além de nós desfeitos, um filme sobre nós, desfeitos.

O curta diverte, mas, em contrapartida, gera uma empatia pesarosa. A construção dos personagens captura-nos, mas também sabe deslocar nossa mente até as lembranças dos embates travados por nós próprios durante aquele fatídico período eleitoral. Somos espectadores e somos personagens.

Todos perdemos. Perdemos colegas da faculdade, uma grande amiga de infância, fregueses de longa data, quase todos os seguidores, um tio que mora no Acre, os padrinhos de casamento. Perdemos a paciência, o respeito, os direitos, parte das conquistas democráticas… e seguimos perdendo. Já o tempo breve em que passamos vendo O saldo da guerra, esse foi ganho.