Texto: Livia Corcino.
O curta Segunda Feira conta, através de um roteiro simples e dotado de uma filosofia audiovisual denominada como “slice of life”, onde a vida como ela é contada de modo direto e sem muitos rearranjos, o dia a dia de uma feira popular localizada na cidade de Arapiraca, Alagoas.
Pode-se notar que a fotografia é dotada de uma iluminação majoritariamente natural; o que não podia ser diferente, de acordo com a proposta da produção. A presença de planos abertos e movimentos horizontais de câmera trás para nós, espectadores, a sensação de presença; é quase como se estivéssemos ali, adentrado no universo da feira.
A direção artística do filme, por sua vez, se constrói através dos elementos visuais presentes. Frutas, roupas, paisagens, construções e árvores montam a “locação”, sendo ministradas de maneira que a riqueza cultural e a realidade urbana da modernidade fiquem lado a lado, contrapondo-se, quase como numa espécie de briga por quem prevalece. Isso pode ser notado claramente por meio dos depoimentos prestados por comerciantes – antigamente, a feira era mais próspera. Com a mudança de localidade, em 2004, as coisas começaram a desandar, mas nem por isso toda a pulsação cultural que compunha um cenário que ia muito além da venda deixou de existir.
A montagem segue essa linha de raciocínio. Elementos lúdicos, música, brincadeira, cor, seguidos por rua, venda, promoção, não-perca… A realidade versus a magia do evento. Depoimentos são intercalados com sequências contemplativas dos estandes e do movimento popular.
O som, entretanto, deixa a desejar no aspecto da estabilidade. De acordo com o depoimento, a captação é bruscamente alterada. É fato que produções universitárias enfrentam inúmeras dificuldades, e sem um financiamento sólido a parte técnica pode ficar comprometida; assim, é natural a presença dos desníveis, por mais que aqui sejam observados de maneira intensa.
Portanto, Segunda Feira mostra-se um curta que desperta o interesse e a reflexão de seu público, uma vez que toca diretamente no assunto da preservação da memória e cultura popular. É preciso não só conscientizar o povo de como eventos, mas também o governo, de como feiras ao ar livre, rodas de coco e cantorias de rua vão além de uma prática frívola do cotidiano, sendo a mais pura e natural representação da cultura de uma cidade nordestina (ou de uma cidade brasileira, ou de qualquer cidade pelo mundo).
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