Crítica: Sideral (dir. Carlos Segundo)

Texto: Katia Barros. Revisão: Larissa Lisboa

E agora José?

Sideral traz para o campo do debate algumas questões interessantes que permeiam o mundo contemporâneo, como o caso da mulher moderna responsável por desempenhar dezenas de atividades diárias e suas insatisfações. Nos leva a refletir, também, sobre a função paterna no meio familiar tantas vezes executada de forma negligente numa sociedade pautada pelo patriarcado.

O roteiro desse curta nos apresenta a história de uma mulher/mãe, sobretudo cansada, não apenas da rotina exaustiva de trabalho e cuidados domésticos, mas também da invisibilidade que acaba adquirindo no meio familiar, vista apenas pelo olhar da necessidade de ser aquela que cuida de todos e de tudo, mas teve o direito de ser cuidada cortado junto com o cordão umbilical de suas proles, e enterrado dia após dia numa cova funda por um marido ausente e prepotente.

Com uma escolha assertiva do elenco, Carlos Segundo consegue conduzir de forma satisfatória e surpreendente esse dilema familiar, que chama atenção pela quebra de expectativa diante da situação interpretada pela personagem da mãe. Num contexto de filme tragicômico transcorrido em paralelo com o lançamento de um foguete, elemento este que traz pra o filme um toque de ficção cientifica, Segundo trabalha com uma fotografia em preto e branco talvez com a intenção de mesclar as diferentes temáticas propostas no curta.

Sem deixar claro o tempo exato o qual filme se passa, deixando a cabo do espectador decidir por um presente ou futuro, o filme acaba despertando em determinado momento certa tensão a respeito do destino final criado para a mãe da família, nos fazendo supor um fim trágico, porém comum na vida real de muitas famílias brasileiras.

Então, somos pegos de surpresa por um final ousado e nada óbvio, capaz de despertar as mais altas gargalhadas e um sentimento de satisfação, digno de despertar a inveja de tantas mulheres/mães que se identificam com a protagonista do filme. Ainda que não seja o objetivo do curta trazer soluções mirabolantes para problemas corriqueiros de nosso dia a dia, fica a reflexão sobre os modelos e padrões de relacionamentos e convívios existentes na nossa sociedade.

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