Crítica: Zero (dir. Sacha Bali)

Texto: Edson Granja. Revisão: Larissa Lisboa.

Em Zero, diálogos são encontros, projeções que buscam em cada fase de uma vida alento para o desolamento irredutível de existir.

O tempo é fluxo constante, em aceleramento, que a ficção de Zero (2021) subverte para apresentar seus cruzamentos. Três espectros de um homem – ou vários -, salvando-se e condenando-se através da memória – matéria de uma consciência que se reconhece no ir e vir contínuo da existência.

Com planos contemplativos que logo se contrapõem com uma “ação artesanal” (a intenção concentrada em cada cena, o mínimo confronto) vemos um filme que, no limiar do abstrato, mostra o suicídio como arranhão ponderável.

Pontuo aqui a dificuldade comum nas abordagens do tema da morte quando com a intenção do sutil. Muito comumente descamba-se para a romantização do suicídio que acaba apenas refletindo um fetiche estético de direção.

Zero não apenas não descamba com tomadas frívolas, como também é preciso em fazer o arco do personagem ser mais evidente que uma suposta poeticidade da morte.

Se Zero fosse uma dimensão seria a dimensão do que resta quando todos os sonhos se diluem no tempo; na membrana da memória (luz baça da chama que é fio condutor da vida e do assentamento do espírito). É a costura da sobreposição dos vários corpos que transitam em um só tempo: o começo, a solidão e o fim.

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