Crítica: Parteiras (dir. Arilene de Castro)

Texto: Felipe Duarte. Revisão: Chico Torres.

O Simples Fascínio

O Nordeste, o profundo Nordeste, é terra encantada. Foi cunhada pelos causos do seu povo e, exatamente por isso, mesmo que seu cotidiano possa parecer à alguns rudimentar, resguarda em seu interior o extraordinário do realismo fantástico. E o quão extraordinário pode ser para seus forasteiros. E exatamente disso que Parteiras, de Arilene de Castro, fez lembrar ao público da primeira noite da Mostra.

Tecendo os depoimentos de senhoras residentes dos diversos interiores, Castro resgata as tradições das entranhas do estado, e ilustra a força de tais tradições. Variando entre seus 60 e até mais de 90 anos de idade, as personagens do curta recontam histórias quase idênticas de partos e de como se fazia para “pegar menino”, atestando a solidez dos seus costumes.

Em casas e comunidades simples, são descritos casos mais simples ainda, nascimentos feitos com toalha e tesoura, repetidas e repetidas vezes, a qualquer hora que necessário fosse. Lembra-se das rezas, dos tabus e das superstições, porém nunca se exalta nada. “Era um favor”, repetem todas, listando as magias corriqueiras que se faziam valer na prática. E sem preciosismo com o que hoje seria ousadia sem tamanho, as honoráveis madrinhas transbordam seu carisma sem ambição.

Com uma montagem que atrela as falas e sobrepõe as recordações, a realizadora amalgama a memória coletiva e delega puramente às imagens a atenção mais detalhada à individualidade de cada uma, alimentando suas galinhas ou fumando seu cachimbo ou caminhando com sua bengala por uma realidade que aparenta ser bem menos fascinante do que realmente é.

E mesmo assim, apesar da construção do super-relato e do maravilhamento que este possa causar no público, não existe nenhuma grande pompa no filme ao homenagear essas mulheres, tampouco almeja-se caracterizar suas ações como momentos transcendentais. Para a diretora, felizmente, é tudo apenas um pessoal registro de memórias e momentos de outrem, simples e fascinado, mostrando o que já foi e ainda é o Nordeste, o profundo Nordeste.

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