Foto: Paulo Silver / Divulgação
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional lança na próxima quarta-feira (18) o documentário etnográfico Jangada de Pau, junto à comunidade de pescadores e jangadeiros de Maceió, e convida ao evento todos que se interessem por aprender e prestigiar os saberes tradicionais de nossa terra e a memória local. O filme é uma produção do Núcleo Zero, empresa que tem extenso currículo na realização de documentários em Alagoas, a exemplo de Imagem Peninsular de Lêdo Ivo (2013), História Brasileira da Infâmia – (2015), e EXU – Além do Bem e do Mal (2012).
Através de um rico registro audiovisual que documentou o modo de fazer jangadas tradicionais, o público poderá contemplar nas telas do cinema a sensibilidade de um trabalho que soube acompanhar com destreza o processo construtivo desta que é, provavelmente, a última jangada em pau de Pita construída no Nordeste. No documentário, são as mãos do Mestre Jesser que nos mostram o fazer, e suas histórias que nos contam do saber: Técnica e Poesia; Passado e Presente; Saberes da terra e dos mares.
O Lançamento do Documentário Etnográfico Jangada de Pau, resultado desta ação de salvaguarda da instituição, e que conta ainda com depoimentos de estudiosos e especialistas, ocorrerá no dia 18 de novembro, às 15 horas, no Cine Arte Pajuçara, em Maceió. Logo após a apresentação do documentário acontecerá um bate-papo entre o Iphan, os produtores do filme, o mestre jangadeiro e o público participante.
SALVAGUARDA DO MODO DE FAZER JANGADAS TRADICIONAIS
O Iphan/AL realizou no ano de 2015 o registro audiovisual do modo de fazer jangadas tradicionais, ação de salvaguarda que visou a elaboração de um vídeo etnográfico sobre o processo de construção da “jangada de pau”. O objetivo da iniciativa foi documentar este importante saber histórico, quase em extinção, além de incentivar e transmitir o conhecimento dessa arte para as novas gerações.
O Brasil, com a diversidade étnica da sua formação cultural, possui uma multiplicidade de tradições na arte de produzir os instrumentos de suporte à navegação e pesca. Nas terras marítimas alagoanas, que até na nomenclatura do Estado referencia a ligação com os meios aquáticos, as tradicionais jangadas, constituídas por cinco ou seis paus ligados uns aos outros por pinos ou cavilhas de madeira, são raridade, principalmente em Maceió, onde sua grande representatividade fez nomear avenida importante no bairro marítimo da Pajuçara de Av. Jangadeiros Alagoanos. E é neste bairro que se pode fazer um dos passeios turísticos mais tradicionais da capital: singrar, em jangadas autóctones, até as piscinas naturais de Pajuçara – aquários naturais, formados apenas na maré baixa, que distam 2km da costa, onde é possível ver diversas espécies da fauna e flora locais. O trajeto, que dura em média 15 min, é feito por pescadores em suas jangadas, porém estas não mais de paus e sim de tábuas.
A representatividade das jangadas de paus que permeiam as lembranças dos mais antigos do lugar pode vir a inexistir devido ao desuso da sua fabricação pelos mestres da madeira. Tal saber poderá ser esquecido se os poucos artesões que ainda o conhecem não o repassarem. Em 2011, Alagoas perdeu o mestre Valdemar Farias dos Santos, o último construtor de jangadas que ainda produzia jangadas tradicionais no Nordeste – segundo informações do especialista em Patrimônio Naval, Dalmo Vieira Filho. A informação gerou inquietude entre os técnicos da Superintendência Estadual do IPHAN em Alagoas – desapareceria a técnica da embarcação simbólica da paisagem litorânea nordestina. Reconhecendo a urgência do registro de todo o processo de produção das jangadas e a continuidade deste saber fazer, e preocupado com o desaparecimento de mestres que dominavam as técnicas, o Iphan-AL, por um acaso do destino, encontrou o mestre Jesser em Maceió/AL, que ainda detinha este conhecimento. Foi ele quem se tornou o executor deste exemplar de jangada em escala natural. Possivelmente tenha sido esta a última jangada em pau de Pita construída nos últimos anos na região. Com uma ação de salvaguarda no valor de R$ 75.784,44, todo o processo – desde a retirada da madeira na mata e o seu transporte para o local da construção, até a apresentação detalhada das ferramentas, técnicas e procedimentos utilizados – foi registrado por empresa contratada para produção de videografismo etnográfico.
A construção da jangada teve como cenário a praia da Pajuçara, em Maceió, diante das jangadas atuais, próximo ainda à balança do peixe, onde há significativo fluxo de pescadores. O processo de construção seguiu os passos tradicionais que tomaram forma pelas mãos do mestre Jesser, que afirmou terem existido jangadas com quase o dobro de tamanho dessa, que saíam com 3 pessoas para pescar por 3 dias, sempre na quaresma. Usavam rede de arrasto. Os peixes eram salgados no mar e cobertos por lona. Ali, dois dos pescadores dormiam, enquanto o outro ficava na “cadeira”.
SERVIÇO:
LANÇAMENTO ETONODOCUMENTÁRIO “JANGADA DE PAU”
DATA: 18 de Novembro de 2015
HORÁRIO: 15h00min
LOCAL: Cine Arte Pajuçara
ENDEREÇO: Av. Dr. Antônio Gouveia, 1113, Pajuçara, Maceió/AL.
Fonte: Divulgação.
Leave a Reply