Elinaldo Barros Soares é um alagoano que vive cinema. Nascido em dezembro de 1946, na Rua Santa Fé, no bairro da Ponta Grossa em Maceió, quando completava 51 anos do surgimento do cinema. Teve em sua vizinhança o Cine Lux e o Cine Ideal. Brincava com pedaços de película e com gibis para montar suas exibições e contar histórias dos filmes.
Ir ao cinema era uma programação em família, divertimento com os amigos, e ao gostar do filme ele não media esforços em assistir mais algumas vezes. Passava cotidianamente pela porta do Cine Lux, era só ver um cartaz com um artista conhecido ou com uma arte bonita que atendia ao chamado da sessão. Aos poucos, aumentou e aprimorou sua paixão, transformando-a em profissão e vida. Conseguiu ainda somá-la com outras paixões, escrever e ensinar.
Formou-se em Letras pela faculdade de Educação em 1970, mas, desde 1965, já colaborava no Diário de Alagoas escrevendo comentários esportivos. Não custou para trocar o futebol pelo cinema. Em 1967, começou a lecionar inglês e português, e foi convidado para escrever sobre cinema para o Jornal de Alagoas. Aprendeu a escrever sobre cinema e transpassar sua vivência de cinéfilo.
Por fim, colaborou com os principais jornais do Estado, com crônicas e resenhas sobre cinema. Assumiu a missão de professor de escola pública em 1971. Lecionou português no Colégio Guido de Fontgalland, de 1970 a 1998, e a disciplina Cinema no Centro de Ensino Superior de Maceió (Cesmac), de 1978 a 2009.
A partir 1977, tornou-se jurado do Festival de Cinema de Penedo, também participou de sua organização a partir de 1978 e realizava coberturas do Festival para jornais. Elinaldo é autor de três dos poucos registros sobre o cinema em Alagoas, Panorama do Cinema Alagoano (1983), Cine Lux – Recordações de um Cinema de Bairro (1987) e Rogato – A Aventura do Sonho das Imagens em Alagoas (1994). Teve atuações na Ematur, Secretaria de Cultura do Estado, Teatro Deodoro, Museu da imagem e Som e na Secretaria de Educação do Estado, onde colaborou com Ranilson França.
A partir de 1990 (na TV Gazeta) e até os dias de hoje (na TV Pajuçara) faz comentários sobre filmes em cartaz nos cinemas da cidade. Em 1995, consolidou a Sessão de Arte no Maceió Shopping (antigo Iguatemi), que está completando 15 anos de atividade neste ano. No dia 06 agosto, Elinaldo será homenageado com o lançamento da 2ª edição de Panorama do Cinema Alagoano no Centro Cultural Sesi, e com a exibição de um documentário sobre ele realizado por Pedro da Rocha, O catador de fotogramas.
Onde os nossos caminhos se cruzam
Em 2003, meu primeiro ano de jornalismo na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), fiquei surpresa ao descobrir no curso a disciplina de Fundamentos do Cinema. E ao saber que existia um escritor e pesquisador sobre Cinema Alagoano, vi a oportunidade de organizar uma palestra sobre com os professores Almir Guilhermino e Elinaldo Barros.
Tive a oportunidade de entrevistar Elinaldo algumas vezes para a elaboração de artigos e trabalhos da faculdade. E ao tomar conhecimento da existência de seus livros, busquei apreciá-los. Cine Lux é um registro das recordações de sua infância, adolescência e dos altos e baixos da história de um dos grandes cinemas de bairro de Maceió. Rogato é uma coletânea de registros pesquisados por Elinaldo para contar a trajetória do primeiro realizador de filmes em película em nosso estado, o italiano Guilherme Rogato.
Panorama do Cinema Alagoano é fruto da imersão de ter vivenciado as sete edições do Festival de Cinema de Penedo em que esteve presente, só não pode comparecer na primeira edição. Registra todos os filmes que concorreram no Festival, destaca as curiosidades de alguns filmes, de sua produção, dos realizadores. Panorama foi sua primeira publicação, com incentivo de José Maria Tenório Rocha que publicou a cartilha Subsídios à história da cinematografia em Alagoas (1974). Elinaldo criou um panorama do cinema alagoano desde o seu princípio em 1921 até o ano da publicação do livro, 1983.
E ao ler Panorama em 2005 fiquei extremamente curiosa para saber o que tinha acontecido com o cinema alagoano depois de 1983. Culminei por definir que o meu Trabalho de Conclusão de Curso seria uma maneira de atualizar e colaborar com o registro que Elinaldo havia iniciado. Em 2008, foi apresentado o Catálogo da Produção Audiovisual Alagoana, que ainda não foi publicado, mas que tem parte do seu conteúdo em www.audiovisualagoas.com.br.
Entrevistei Elinaldo, em 2008, para o documentário que fiz sobre Celso Brandão, e o que mais me impressionou foi a habilidade que ele teve diante da câmera, pois apenas indiquei o que gostaria de ouvi-lo falar e ele concisamente narrou a trajetória de Celso como cineasta. Em 2009, inspirada nas recordações de Elinaldo e com o depoimento dele e mais dois personagens, realizei o documentário, Contos de Película, uma sessão de cinema que marca o encontro de um projecionista, um crítico de cinema e um cinegrafista. Mais recentemente tive a honra de poder colaborar com a revisão da 2ª edição de Panorama do Cinema Alagoano. E será uma realização para todos que conhecem Elinaldo compartilhar desta homenagem.
As conversas com Elinaldo são sempre cinematográficas, e desejo que desperta é de ouvir mais. Estórias e histórias sobre episódios de suas lembranças, sobre os cinemas de bairro, os grandes clássicos de cinema, as produções alagoanas ou sobre muitos dos filmes que o marcaram. A cronologia da vida de Elinaldo é um longa encantador para os cinéfilos alagoanos.
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