Imaginário Alagoano como Potência: Relato da presença alagoana em Tiradentes

Texto: Pedro Krull. Revisão: Larissa Lisboa e Nilton Resende. Foto: Netun Lima/Universo Produção

“Quem já vai perdido deve ter cuidado// não perder a perda que é o seu achado// Já que perdeu tudo// não perder mais nada// Eles fofoca porque gosta// de mim que só a peste// mas quando me vê de longe// chega a cantar meus rap”

Mistura de Lêdo Ivo e DJ Thiago, o terror.

Fazia calor, quando os 35 alagoanos estavam reunidos na sala Cine Teatro SESI para debater sobre o filme Cavalo, na 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Essa quentura não era só do clima da cidade mineira, era da forte certeza de que estávamos vivendo um momento ímpar na história do cinema Alagoano, uma grande abertura de caminho.

Para contemplar o filme não era necessário saber da trajetória que seus realizadores e o cinema alagoano  traçaram para conquistar a realização de longas metragens através de editais de incentivo, que teve início em 2015, nem que atualmente há cinco longas contemplados por editais públicos em Alagoas em processo de desenvolvimento.

Ao final da estreia do longa dirigido por Rafhael Barbosa e Werner Salles, o debate, de certa maneira, foi uma amálgama de toda a vivência alagoana no dias intensos dessa edição da Mostra em Tiradentes. “Coragem”, resumiu Guilherme César, assistente de direção do “Cavalo”, sobre o convite ao filme, “Era preciso coragem para aceitar o convite à esse filme […] E se tem algo que o nosso povo alagoano é conhecido é coragem”. É preciso dela, com certeza, para navegar esse momento tenebroso do audiovisual brasileiro em que o cinema alagoano se situa entre “a fumaça e o cristal”, entre a fluidez e fixidez, colhendo frutos de conquistas em políticas públicas de anos atrás e produzindo, independente de não ter clareza das futuras perspectivas.

“Até quando nós vamos ter que cavar nosso caminho para ocupar esses espaços?”, questionou Ulisses Arthur, diretor de Ilhas de Calor, a indignação vem, dentre outras coisas, pelo fato de a menor sala do festival ter sido reservada para o primeiro longa metragem alagoano feito com recurso de edital público, quando todos os outros longas da Mostra Temática foram exibidos na Cine-Tenda. Ficou o desejo de compreender melhor o que levou a curadoria e a produção a essa decisão.

Entretanto, o que se tornou inegável, durante o festival, é que o imaginário e simbologias alagoanas conquistaram o público em todas as sessões, seja navegando o trânsito de almas em A Barca (dir. Nilton Resende), transpondo a realidade com a imaginação em Trincheira (dir. Paulo Silver), sentindo o amor e ódio à flor da pele em Ilhas de Calor (dir. Ulisses Arthur) ou descobrindo ancestralidade em formas de expressão em Cavalo (dir. Rafhael Barbosa e Werner Salles). Juntos eles se tornaram uma espécie de glossário para o público, infelizmente ainda não plenamente representativo da diversidade das expressões, imagens, agentes, forças e personagens alagoanos.

Se o tema da 23ª Mostra era projetar imagens com ponto de vista original a nossas fraturas sociais e políticas, e também à superação delas, Alagoas conquistou uma cadeira reservada nesse debate. O grito ainda ecoa: nós do cinema alagoano, sabemos quem somos, e não vamos descansar até que todos saibam.

Be the first to comment

Leave a Reply

Seu e-mail não será divulgado


*