Laís Araújo é primeira alagoana no Lab Porto Iracema das Artes

Laís dirige o ator Julien Costa em cena do curta "Laura". Foto: Moema França
Texto: Rafhael Barbosa

O audiovisual alagoano é um cenário em construção. Cada nova conquista é um passo rumo a um desenvolvimento que é perceptível, porém segue um ritmo muito particular. Um caminho construído a partir de equação complexa, que envolve desde os investimentos públicos nas diversas etapas da realização, até o empenho e crença dos profissionais inseridos numa cadeia produtiva ainda em vislumbre.

Os avanços surgem a cada safra, com produções que têm conquistado espaço e reconhecimento nas principais janelas do cinema nacional. Apesar dos resultados, a estrada para o amadurecimento ainda se mostra longa e tortuosa. Entre as muitas queixas do segmento, a principal delas talvez seja ausência de iniciativas de formação, a exemplo de uma graduação, ou, pelo menos, uma política continuada para o desenvolvimento profissional do setor.

Entre as conquistas para a produção local está a recente seleção da diretora Laís Araújo (“Cidade Líquida”) no Laboratório de Cinema da Escola Porto Iracema das Artes. A escola é uma experiência muito bem sucedida de política pública voltada à formação em variados segmentos artísticos, especialmente o audiovisual.

Selecionada no certame que teve 46 inscritos para apenas duas vagas destinadas a região Nordeste, Laís terá acesso a uma série de processos que irão contribuir para o desenvolvimento de seu primeiro longa-metragem, a ficção “Marina”. Durante a vivência de sete meses, ela receberá uma bolsa para custear suas despesas básicas.

“O Lab Cinema é dividido em consultorias semanais de roteiro, com o roteirista Pablo Arellano; tutorias mensais imersivas com duração de uma semana divididas entre os três tutores fixos do Lab – Karim Ainouz, Sérgio Machado e Nina Kopko; além de um programa de formação com diversos profissionais ativos no cinema brasileiro, onde são oferecidas cinco oficinas. Ao final desse processo, todos os roteiristas fazem uma apresentação pública e performática de suas histórias para um júri especializado e para a cidade de Fortaleza, e dois deles são escolhidos para receberem prêmios de desenvolvimento do projeto, além de passarem, também, por uma rodada de negócios com produtores brasileiros reconhecidos no cenário”, explica Lis Paim, coordenadora do laboratório.

Alunos e equipe do Lab durante apresentação dos projetos em 2017. Foto: Joyce S. Vidal

Atualmente em sua sexta edição,  pela primeira vez o laboratório recebeu inscrições de realizadores alagoanos. Segundo a coordenadora, até então apenas projetos de Pernambuco e da Bahia haviam conquistados as vagas destinadas ao Nordeste (quatro vagas são reservadas aos candidatos cearenses). Um dado inusitado é que todos os três projetos alagoanos inscritos no laboratório figuraram entre os 15 selecionados para a etapa final de seleção, que escolheu dois candidatos nordestinos. Além de Laís Araújo, o pernambucano Caio Vinícius Dornelas participará com seu projeto “Diabos De Fernando”.

“Ficamos felizes de poder ajudar um roteiro alagoano de longa a ser desenvolvido este ano, ainda mais considerando que Alagoas não tem uma tradição de produção de cinema de ficção ou mesmo de longa-metragem. Tampouco há escolas de cinema ou de dramaturgia em Alagoas que possam dar o aporte necessário para que os roteiristas locais desenvolvam suas histórias com qualidade. Essa é uma lacuna que se apresenta mais gravemente em alguns lugares, mas é, na real, uma lacuna histórica do cinema brasileiro. Poder contribuir para o desenvolvimento dramatúrgico de cenários carentes de formação como este é também o que dá sentido às duas vagas do Lab para projetos nordestinos, de fora do Ceará”, comenta Lis.

A REALIZADORA

Laís Araújo com a equipe de “Laura”. Foto: Moema França

Com apenas 24 anos, Laís Araújo tem se destacado no cenário audiovisual alagoano. Graduada em jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco, a diretora e roteirista venceu a edição de 2015 da Mostra Sururu com o documentário “Cidade Líquida”, em que discute a deterioração de dois ícones urbanos representantes dos extremos sociais de Maceió: o elitista Alagoinha e periférico Papódromo.

“Laura”, seu primeiro curta de ficção, foi rodado no último mês de fevereiro, na cidade de Anadia. O projeto foi contemplado no IV Prêmio de Incentivo à Produção Audiovisual de Alagoas. O único dirigido por uma mulher entre as 21 vagas do edital.

Antes da seleção no Laboratório do Porto Iracema das Artes, “Marina”, seu argumento de longa-metragem, já havia sido contemplado no edital para desenvolvimento de roteiros do Ministério da Cultura, recebendo um aporte de R$ 40 mil para a fase de escritura.

Segundo sua sinopse, o enredo de “Marina” acompanha a jovem homônima de 14 anos  durante os preparativos para sua festa de debutante. Em paralelo, pessoas são sistematicamente assassinadas em Maceió. O processo da festa – que envolve rituais antiquados e violentos – faz com que Marina comece a questionar o meio em que está inserida e porque sua vida é tão controlada.

A roteirista, que trabalha no projeto há dois anos, fala sobre a expectativa para a imersão que viverá em Fortaleza, nos próximos sete meses.

“Era algo que eu queria bastante. Vai ser bem importante para finalizar essa narrativa, que comecei há um bom tempo – acho importante dividir o roteiro, levar a história a um ambiente novo e trocar impressões. E aproveitar ao máximo essas experiências que surgem, para levar o roteiro a frente e de fato produzir esse filme”, diz.

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