“Meu Amigo Hindu”, de Hector Babenco, é a grande estreia da semana no Arte Pajuçara

“O que você vai assistir é uma história que aconteceu comigo e a conto da melhor forma que eu sei”. É com esta declaração que o cineasta Hector Babenco nos apresenta seu novo filme: “Meu Amigo Hindu”, produção que estreia nesta quinta-feira (10), no Arte Pajuçara.

O longa narra a saga de Diego (Willem Dafoe), um bem sucedido diretor de cinema que, ao se ver diante de uma doença grave, enfrenta o medo da morte. Rodado em São Paulo entre final de 2014 e início de 2015, “Meu Amigo Hindu” conta ainda com nomes como Maria Fernanda Cândido, Selton Mello, Reynaldo Gianecchini, Maitê Proença, Bárbara Paz, Guilherme Weber, entre outros, marcando a volta do cineasta após um hiato de oito anos.

Aliado a um elenco e uma equipe de ponta, o roteiro, assinado por Hector Babenco, é a chave para se alcançar o resultado surpreendente que se vê na tela. Pessoal, mas também ficcional, repleto de tramas criadas pela imaginação do diretor, a história de “Meu Amigo Hindu” transcende o rótulo de autobiografia e se torna uma rica fabulação sobre a vida e sua paixão pelo cinema. Para o psicanalista e escritor Sergio Telles, Babenco demole a casa de sua vida e usa os tijolos para construir outra casa: a do filme.

Para Babenco, ainda que tenha escolhido a frase que abre o longa como um norte a ser dado ao espectador, “Meu Amigo Hindu” não é um relato factual. “Não é uma narrativa linear, nem um filme autobiográfico, mas é o que eu quis contar do que vivi. Os fatos existiram e eu os conto de outra maneira. Esta história eu conto da única forma que sei, que é fazendo um filme, em que não necessariamente é tudo real”, esclarece. Segundo o diretor, todo autor conta um pouco de si em tudo que cria e que narra. “O cinema é um pouco isso também. Não é ‘vou contar a minha vida’. É o oposto! Você desconstrói a sua vida e reconstrói em um filme aquilo que se quer narrar, o que te interessa”, explica. “Diego é um personagem que sou e não sou ao mesmo tempo”, acrescenta. “A gente nunca passa impune pelo que nos ocorre na vida. As marcas permanecem, principalmente na alma”, completa o cineasta.

COMO NASCEU A IDEIA

Babenco revela que foi por acaso que teve a ideia de criar uma ficção a que deu o nome de “Meu Amigo Hindu”. “Eu estava guiando meu carro. Parei em um sinal e veio um menino lavar o vidro. Olhei para ele e me lembrei do menino hindu, que esteve em tratamento comigo no hospital nos Estados Unidos. E me perguntei se ele ainda estava vivo”, relata Hector. “Então decidi começar um diálogo imaginário com ele sobre a minha dor naquele momento, a minha tristeza, a minha solidão, de como me sentia depois de ter sido curado, e tudo o que me estava acontecendo. Ao ponto de me questionar: ‘Será que eu estou morrendo e ninguém me diz nada? ’. E você meu amigo hindu, está vivo?”. Para o cineasta, “Meu Amigo Hindu” pode ser entendido como um diário imaginário entre um adulto (Dafoe, o alter ego do diretor) e um personagem que ele inventou. “Escolhi o menino hindu, que nos remete a algo exótico, distante da nossa cultura. Mas isso foi um processo natural, que apenas aconteceu. A ideia de fazer essas transferências se tornou um jogo.”

Willem Dafoe acredita que um dos temas centrais do longa é justamente a importância de se contar histórias. “E também de partilhar histórias. É uma das coisas muito básicas em nossa cultura e isso nos eleva”, analisa o ator. O fato mais revelador da história é que Diego, para não morrer, negocia com a morte sob a condição de que não seja ele o escolhido, para que ainda possa fazer um próximo filme. Neste pacto, a morte se revela como afirmação da vida e o amor ao próprio cinema. “Achei o roteiro belíssimo. A história de um homem que driblou a morte. Fui na dele porque eu confio muito nele. Servi um diretor que admiro muito”, declara Selton Mello, que vive a morte, O Homem Comum, no longa. Babenco afirma que “Meu Amigo Hindu” “é um filme sobre nascer de novo através da feitura de um filme, da história contada.” “Ao longo dos anos vividos, e em qualquer momento da minha existência, sempre sonhei em fazer um filme. O Amigo Hindu talvez seja a melhor forma de contar o amor que eu tenho pela vontade de fazer cinema”, conclui ele.

HOMENAGEM AO CINEMA

O longa também traz, entremeadas à saga de Diego, inúmeras referências e homenagens ao cinema, tanto internacional quanto o do próprio Babenco. Em um ato de amor ao universo cinematográfico, o cineasta construiu diversas cenas que remetem aos filmes que marcaram sua vida e seu imaginário cinéfilo. Impossível não se lembrar de “O Sétimo Selo”, de Ingmar Bergman, ao ver Diego (Dafoe) jogar xadrez com Selton Mello (Homem Comum) ou de se encantar ao ver Bárbara Paz dançar como Gene Kelly em “Cantando na Chuva” e de se lembrar de Fred Astaire e Ginger Rogers ao ver Dafoe cantando Cheek to Cheek (canção escrita por Irving Berlin, em 1935 para o longa “Top Hat”) no meio da noite. “Este filme está tão atrelado à história de Hector. E a história de Hector é tão atrelada ao cinema. E nessa ideia de contar uma história na qual ele encontrou sua identidade e o trabalho da sua vida foi tudo em torno do cinema. E Deus sabe como o mundo do cinema tem mudado”, observa Dafoe. “Mas a essência do que é o cinema não mudou. Esse é um filme que definitivamente se dobra perante o altar do cinema”, conclui o ator, que passou mais de três meses no Brasil durante as filmagens do longa.

ENTREVISTA

PERGUNTA. Quem foi o menino hindu?

HECTOR BABENCO. Na verdade, este menino hindu do filme jamais existiu. Nem mesmo sei o nome dele. Foi um menino que eu vi um dia, no hospital onde eu fazia tratamento, nos Estados Unidos, em uma cadeira de rodas, E fiquei fascinado por suas roupas e pelas roupas de seu pai. Um dia o levaram à sala em que eu fazia quimioterapia. Ele ficou duas horas lá e foi embora. Nunca mais eu soube dele.

E mesmo assim sua lembrança é tão simbólica e forte.

Sim. Achei que aquilo, de me lembrar dele no carro ao ver o outro menino, era uma boa desculpa para começar a contar uma história. E comecei a me perguntar que história eu contaria para esse menino. Contaria que quando tinha a idade dele eu fui ao cinema pela primeira vez. Contaria a história do filme, que é exatamente como é. A segunda história era a que meu pai me contava, a do menino na neve, na Rússia, que se perdia, e que eu chorava muito quando ele me contava. A terceira história é o faz-de-conta de guerra, que eu inventava quando era criança, inventava batalhas, brincava no meu quarto.

“Meu Amigo Hindu” é um filme sobre um grande faz-de-contas?

Eu quis convidar um menino para participar de um faz-de-contas e, de alguma forma, eu quis contar a ele a minha vida, quem eu sou. É um ato convulsivo. Ou dá ou desce. Me lembrei muito da frase do André Breton, que dizia que a beleza será convulsiva ou não será. É a chave do surrealismo. Tem de haver uma busca da beleza através do ato convulsivo, da urgência.

Este é um filme que, apesar de ter sido muito depurado por você, fala da urgência de contar, e criar, uma história.

Exatamente. A urgência, de alguma forma, é a escolha. Viva a sua escolha. Quer? Faz! Não fique elucubrando. Meus filmes sempre foram assim. Meus filmes são os que consegui fazer dentro da minha urgência. Cada um representa um momento da minha vida. O cinema me salvou. Se eu não fizesse cinema, eu pereceria. E fazer cinema é atender a sua última urgência e leva-la até as últimas consequências. O está o tempo todo no filme.

Apesar de não ser um filme biográfico, no início do filme você afirma ao espectador que ele assistirá a uma história que aconteceu com você. E que você a conta da única forma que sabe. Que forma é esta? A da fabulação?

O ser humano é assim. Cada um tem uma história única. O cinema é um pouco isso também. A gente conta um pouco sempre a mesma história. O cineasta, ao fazer um filme, desconstrói sua própria vida e constrói uma outra que passa a ser a história do filme feita. Não é ‘vou contar a minha vida’. É o oposto!

Você desconstrói a sua vida e reconstrói em um filme aquilo que se quer contar, aquilo que te interessa. Portanto, este não é um filme autobiográfico, mas é o que eu quis contar desta história.

Ou seja, não é, obviamente, uma sucessão de fatos idênticos ao que você viveu.

Não. Porque nada é de fato exatamente como aconteceu. Os personagens reais femininos são três mulheres. No filme, é uma só. É uma ficção em cima de fatos vividos. Neste longa em específico, acho que há uma leitura tão factual, tão simplória do ponto de vista narrativo, que pode até fazer com que as pessoas não achem nada inusitado nele. Parece um filme simplicíssimo. No entanto, durante anos, ao escrevê-lo, fugi do modelo da autobiografia óbvia como o Diabo foge da Cruz, tentando que cada cena tivesse um conteúdo especial.

Essa capacidade de fabulação é a visão do artista sobre os fatos, não?

Não sei se é arte. O fato é que eu não sei fazer outra coisa. E nesse momento da minha vida eu tinha que tirar esta história da frente, como alguém que precisa contar algo para poder esquecer, sem culpa. Um processo quase terapêutico. Isso porque há a necessidade de se exorcizar a dor.

Fazer este filme foi a melhor forma de exorcizá-la então.

A dor não é algo que se extrai em um momento. Ela nasce, passa por transformações, mas sempre persiste. Do ponto de vista da psiquê, da psicologia, sinto que sou uma pessoa que foi muito marcada por este momento em que o câncer foi detectado, aos 37 anos, inesperadamente. Isso, de alguma forma, por mais que tenha sido esquecido ao longo dos anos, por mais que diferentes histórias tenham me acontecido, tratamentos, ser paciente, ser convalescente, a espera… que já se tenha passado décadas, eu consegui em algumas brechas fazer alguns filmes. E agora fiz este filme para dizer: “Não toco mais neste ponto. Não vou me visitar mais em um filme. Esta é a última visita que faço ao meu universo. Porque já não há mais tempo, nem espaço, nem mais nada a contar”.

Novamente, é uma fabulação de tudo que você passou. Você cria uma história a partir disso.

Sim. Não conto em um livro, nem um quadro, nem um poema, mas em um filme. São fatos inventados. Porque a gente não é somente um momento em que a gente passa a existir, com uma pessoa que está diante de nós e diz: ‘Estive com Hector. De fato, naquele momento nós vivemos algo que tem uma memória. Mas e o que se pensa antes, durante, depois do encontro real? Tudo isso também não faz parte da vida das duas pessoas? E quando a gente escreve no papel não traz algo disso? Tudo faz parte da história. Você não escreve exatamente as minhas palavras. Nem eu respondo exatamente o que você pergunta.

Talvez a única forma que você sabe contar sua história seja fabulando, pedindo à morte que te dê um tempinho para fazer mais um filme.

Acho tão lindo isso. Não sei nem como isso me saiu, quando estava escrevendo. É tudo tão simples e banal. No filme, o diretor pede à morte que o deixe fazer mais um filme. E no final a morte aparece cobrando o filme prometido. E ele responde que já o está fazendo.

A RELAÇÃO COM WILLEM DAFOE

O filme que o diretor quer fazer quando pede isso à morte é o filme que o espectador está assistindo.

Sim. E fiz sempre o possível para que isso ficasse claro, sem precisar dizer isso. O diretor fez o filme que queria. Agora, ele pode morrer. Até quis descrever isso no final, que o filme estava feito e que a morte já podia chegar e levá-lo. Só que a morte perdeu o emprego porque a empresa foi comprada por uma multinacional. Mas eu sempre me perguntava: ‘Como mostrar isso sem contar?’ E se o espectador não percebe isso racionalmente ao ver o filme, inconscientemente isso fica claro. A informação passa na sensação, na percepção, a pessoa vai pensar depois de sair do cinema se o filme que viu não era o filme que o diretor fez.

A cena, em que Willem Dafoe canta Cheek to Cheek (escrita por Irving Berlin, em 1935, para Fred Astaire e Ginger Rogers no longa “Top Hat”). é uma das mais líricas do filme. Ela de fato existiu?

Existiu. Mas também foi uma criação minha. Eu cantei como ele canta. Me lembro que acordei no meio da noite cantando “Heaven, I’m in Heaven!” A enfermeira entrou e me deu uma injeção. Eu me lembro dela perfeitamente, pois fiquei em um hospital moderníssimo onde ninguém usava roupa de médico ou enfermeira, mas sim roupas normais. E lembro que ela estava vestida com um vestido tubinho, com um cintinho fininho. Na ficção, dei ao Willem total liberdade para decidir o que o personagem faria na cena.

Você diz estar sempre aberto ao novo, à casualidade. E comentou que foi por causalidade que Willem Dafoe entrou para o filme. Como foi o encontro de vocês?

Foi por acaso. Quando ele me ligou e disse para eu mandar o roteiro do meu próximo filme dele para ele ler, achei que ele ia ler só por curiosidade. Mas ele me chamou para almoçar depois de ler. E pegou um guardanapo e disse: ‘Estou disponível em tais e tais datas. ’ Foi quando eu disse: ‘Tenho que fazer! A vida está falando comigo. ’

E você havia pensado em escalar um ator brasileiro?

Claro! Estava procurando há tempos um ator brasileiro, mas não conseguia encontrar. Ou eles estavam ocupados filmando para a TV, ou no cinema, ou no teatro. E me perguntava com quem iria fazer o filme. Mas o que podiam eram jovens demais para o papel… Eu vivendo aquela agonia e aí me aparece o Willem, que pega um guardanapo e me escreve as datas dele. Ele podia chegar em 27 de outubro e ir embora dia 5 de novembro. Depois disso, poderia ficar o tempo que fosse preciso. Acabou que ele ficou 13 semanas no Brasil. A partir deste dia em que ele disse que queria fazer o filme, tivemos de começar a preparar tudo. Não se passaram nem três meses.

Como foi a preparação para filmar com ele?

Muito tranquila. Já na primeira leitura que fizemos com a equipe, com todos os atores, ele leu muito tranquilamente. Nas preparações de figurino ele não pedia nada e apenas dizia quando achava que alguma roupa não estava de acordo com o personagem. Acabamos ficando com praticamente uma roupa, em um processo de muito despojamento. Para cada cena havia um figurino pensado, um paletó de tweed com calça de algodão, uma camisa de algodão, um pijama… Fomos limpando, limpando e ao final encontramos o que queríamos. Sempre menos.

Como foi o dia a dia com Willem no set?

Começamos a rodar o filme com as cenas no hospital. No primeiro dia eu entendi que ele era o filme. Ele impôs uma neutralidade ao doente, algo que não mostrasse que havia dor e sofrimento. Achei maravilhoso. Ele também impôs um tom de falar, um tempo… O filme deve muito a ele. Foi como se a história quisesse naturalmente seguir as pausas dele, os movimentos. Isso se sente muito nas cenas em que ele conta as histórias para o menino, por exemplo. Nunca ensaiamos. Nunca disse a ele ‘faz assim’. Ele é que se entregou para fazer como fez. Para enxergar e interagir com o menino hindu.

Ele trazia sugestões para o personagem de Diego?

Sim. Mas sempre de forma natural. O boneco, por exemplo, o macaquinho, estava sempre lá. A continuísta vivia colocando o boneco no colo dele. E ele tirava. Mas depois, de repente, abraçava. Enfim, tudo sempre foi muito orgânico. Nada foi planejado, do tipo ‘o macaquinho nesta cena é a Maria Fernanda que o pega e sofre com ele.’ Nada. O boneco estava sempre lá e todos sabiam disso. De vez em quando alguém pegava o macaquinho, depois deixava lá, ou jogava no chão… Como era algo que em algum momento eu conhecia e, ao mesmo tempo, não me lembrava mais, foi tudo novo. Nunca houve um ‘faz assim porque tem de ser deste jeito. ’ Tudo foi uma descoberta.

Willem diz que consegue dar uma mensagem forte, passando a mensagem da outra pessoa. “Eu sou Diego. E Diego é o Hector. Então eu sou o Hector.”

Willem tem a capacidade de abraçar e se jogar em um personagem. Quando esteve com a gente, esteve 100%. Mas, logo depois, foi rodar um filme do outro lado do mundo, na China. E entrou rapidamente naquela atmosfera. Ao mesmo tempo me dá uma sensação de que a vida é assim. A vida é um dia depois do outro e uma noite no meio. O que a gente viveu em um dia, uma noite, passa. No dia seguinte a gente acorda e começa tudo de novo. É muito lindo ir aprendendo isso. É preciso entender o desprendimento, senão a gente enlouquece. Nunca pensei muito nisso. Apenas fui entendendo.

NEGOCIANDO COM A MORTE

Selton Mello, que interpreta a morte, comenta que se sentia servindo você, um diretor que tem muita intimidade com a morte. Como vê isso?

Eu estive com a morte. Uma vez fiquei doente viajando e estava internado em um hospital em Paris. Eu estava em uma enfermaria, com dezenas de camas, separadas por cortinas de plástico. Lembro que uma noite entrou alguém no meu ‘quarto’ e eu o expulsei exatamente como o Diego (Willem) faz no filme. E na manhã seguinte quando levantei, vi que uma das camas estava com o colchão virado e um homem estava limpando ali. Ele tinha morrido? Não sei. Eu inventei que aquele paciente havia morrido. Mas a verdade é que não sei. Pode ser que ele tinha ido só tomar banho, que tinha recebido alta. Mas a imagem que eu tive foi tão forte, de um colchão virado, sem lençol, e o outro limpando, que eu quis supor que o cara que estava ali tinha morrido. E quis supor que o cara que veio me buscar, ao ser expulso do meu cubículo, foi para o cubículo em frente. E levou o outro. É tudo mentira. Podia ser um cara que estava procurando a mulher que operou das varizes e estava perdido. E o coitado abriu a minha cortina e eu gritei “vai embora, vai embora!” E eu inventei que aquilo era a morte.

O filme todo foi construído assim, com muita liberdade e imaginação.

Sim. E isso também ocorreu com o menino hindu, que já comentei que não existiu como no filme. Até mesmo nas cenas em que a Bárbara Paz faz. Lembro que no início da minha relação com ela, a gente foi para a praia. Estava chovendo muito, uma música tocava. Ela foi tomar um banho de mar e voltou. E começou a dançar para mim, que estava fumando um charuto na varanda. Aquela imagem foi inesquecível. Isso é a coisa mais linda do mundo. Ver a mulher que você está amando dançando nua para você, que faz de conta que é tudo, uma palhaça, uma trapezista, uma Isadora Duncan…

É como um sonho.

Sim. O que é a suprema felicidade? O que pode haver mais? Além de estar vendo isso? Eu sou homem! Ela é uma mulher. Aquilo era o exemplo mais vivo do que poderia ser o resumo da vida. A capacidade de você ser plenamente feliz, sem absolutamente um compromisso, sem nada. O que mais pode querer um homem além de ver uma mulher bonita, dançando nua, na praia em uma noite de chuva? Aquilo ficou na minha cabeça. É um momento de puro encantamento. E isso tinha de estar no filme.

É um filme sobre o processo de nascer novamente?

Sim. É um filme sobre nascer de novo através da feitura de um filme, da história contada, que não tem necessariamente a ver com a minha biografia. A morte do filme, por exemplo, está caracterizada como se fosse um funcionário público. Ela, interpretada pelo Selton (Mello), não tem a característica soturna, draconiana, cínica, mística. Ele é um funcionário público, um despachante que trabalha num cartório… Talvez poderia ser um vendedor de automóveis. A representação dela na dramaturgia em geral não é a da banalidade.

Mas quando você a despoja como faz no filme, dá a ela esta característica real de ser algo cotidiano, quase banal, que de fato também é na realidade.

Sim. E veja só que esta representação da morte no filme nasceu de um equívoco, num quarto de hospital, em que expulsei um cara do meu quarto. O cara vai embora e eu invento que aquilo é a morte que veio me buscar… É fascinante esta sensação da descoberta do inusitado, de eu ter inventado esta história comigo mesmo. Meu grande desejo é que o outro sinta isso que eu sinto. Só isso me interessa. Estou contando minha história. Veja se você gosta. É isso.

FONTE: EUROPA FILMES
Poster: https://www.sendspace.com/file/012eiv
Fotos: https://goo.gl/cznqON
Trailer: https://goo.gl/p5ApnI

PROGRAMAÇÃO COMPLETA DE 10 a 16/03:

MEU AMIGO HINDU
Horários: 16h00 e 20h10 (exceto segunda)

Classificação: 16 anos

O LOBO DO DESERTO

Horário: 18h20 (exceto segunda)

Classificação: 14 anos

CINCO GRAÇAS
Horário: 14h20 (somente de sexta a domingo, 11 a 13/03)

Classificação: 14 anos

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