Texto: Assessoria / Rumos Itaú Cultural. Foto: Núcleo Zero.
Entre os dias 15 e 18 de fevereiro, o Narrativas em Movimento, do Núcleo Zero, chega à quinta cidade do interior alagoano, Coqueiro Seco, depois de ter passado por Marechal Deodoro, União dos Palmares, Piranhas e Penedo. Projeto contemplado pelo Rumos Itaú Cultural (2015-2016), um dos principais programas de fomento à cultura do país, propõe a criação de vídeos sobre lendas regionais, memórias familiares das pessoas locais, em oficinas ministradas para os moradores. Os filmes são projetados em prédios históricos e nos espaços públicos mais representativos para a comunidade, fortalecendo a visão do alagoano sob a sua terra e riqueza cultural. Em Coqueiro será na Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens. Para participar das atividades basta solicitar a ficha de inscrição para o e-mail: narrativasemmovimento@gmail.com. O último município a ser visitado é Porto Calvo.
Para dar certo, o grupo utiliza um carro equipado com projetor e equipamentos de som. Essa estrutura permite a itinerância pelas cidades e a realização de um espetáculo visual construído a partir de conceitos e tecnologias modernas, com recursos como a holografia, projeção mapeada e técnicas de animação diversas. O veículo carrega uma equipe multidisciplinar montada para atender as necessidades da proposta, contando com o documentarista Werner Salles, o jornalista Rafhael Barbosa, o animador Weber Salles, Ulysses Lins, técnico de projeção mapeada, com os produtores Valeska Leão e Durval Leal, e com o editor Daniel Gomes.
A escolhida da vez, Coqueiro Seco, fica às margens da Lagoa Mundaú, cerca de 90 km de Maceió. A localização chamou a atenção do grupo e foi um dos motivos por terem escolhido o município. “O território lacustre é muito relevante para a cultura alagoana e para as muitas comunidades que vivem nele”, fala Rafhael Barbosa. “Porém, ao contrário da orla marítima, que é muito celebrada pelo turismo, a orla lagunar é invisibilizada.” Com cerca de 6 mil habitantes, apesar de ser próxima à capital, Coqueiro é de difícil acesso, já que é necessário atravessar uma estrada de areia para chegar até ela.
A própria igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, revestidas de azulejos portugueses e com um grande pátio, foi um atrativo. Construída no século 17 pelo português José Cabral, continua até hoje como a matriz da padroeira da cidade. É nela que será realizada a projeção dos vídeos criados nas oficinas. As atividades de elaboração de parte do conteúdo das projeções, acontecerão na Escola Estadual Cônego Amando de Gusmão. Nelas, o Núcleo Zero pretende utilizar alguns conteúdos teóricos, evocando a obra do pesquisador Octávio Brandão e do antropólogo Edson Bezerra, este último com trechos de seu Manifesto Sururu, texto que reúne aspectos identitários de Alagoas com ênfase para a cultura lagunar. “Outro ponto alto será a participação dos folguedos tradicionais de coqueiro seco”, afirma Barbosa.
Etapas
O processo de trabalho está dividido em três fases, realizadas durante cinco dias. No primeiro momento, o carro circula pelas ruas, como um carro de som, divulgando o projeto e convidando a população a trazer suas histórias pessoais, afetivas, memórias familiares, lendas regionais, entre outras coisas. Depois disso, a segunda etapa é a realização de uma oficina, com cerca de 30 pessoas.
Os temas abordados são educação patrimonial, com o intuito de falar sobre a ideia de pertencimento do público com a sua cidade, a memória e valorização; técnicas de projeção mapeada, com testes e explicações sobre o processo; e construção de conteúdo com os participantes, quando será ensinado técnicas como stop motion e animação 2D. As narrativas criadas durante as aulas serão trabalhas a partir do conceito de storytelling.
Depois de selecionadas, as histórias são editadas e transformadas em micro-narrativas animadas. No final de cada dia de trabalho, o automóvel percorre novamente as ruas da cidade durante a noite, projetando vinhetas com parte do que foi produzido, como uma forma de ensaio, de convite para o grande dia: a projeção final, que acontece ao fim do processo. “Estamos construindo conteúdos audiovisuais em cima de pesquisa sobre a história, iconografia e personagens das cidades”, conta Salles. “Esses conteúdos são produzidos considerando a superfície arquitetônica dos locais.” Depois de Coqueiro Seco, Porto Calvo é a próxima e última parada.
Ações semelhantes de intervenção urbana já são comuns nas capitais brasileiras, porém foram pouco experimentadas em localidades do interior do nordeste. “Partindo dessa constatação, pretendemos proporcionar uma experiência marcante para os moradores das cidades que visitamos”, afirma Werner Salles. A interatividade, o envolvimento da população e o sentimento de pertencimento das pessoas com as histórias do local onde vivem são elementos chave da proposta.
Segundo Werner, apesar de possuir um território pequeno, Alagoas foi palco de importantes episódios históricos, convertendo-se em um dos protagonistas do processo de formação do Brasil. Cita, como exemplo, o desembargue do Bispo Sardinha, supostamente morto pelos índios Caetés em 1556, que se deu na região onde hoje se situa o município de Coruripe, litoral Sul do estado. Tem também o Quilombo dos Palmares, considerado por estudiosos o mais duradouro e mais organizado refúgio de negros escravizados das Américas, o qual mobilizou o maior esforço militar da coroa portuguesa depois do confronto com os invasores holandeses.
“A própria história da ocupação holandesa teve um alagoano entre seus protagonistas: o controverso senhor de engenho Domingos Fernandes Calabar, que colaborou de modo decisivo para as conquistas dos invasores”, afirma. “A presença alagoana acompanha todos os períodos históricos, chegando à formação da República, quando o alagoano Deodoro da Fonseca se torna o primeiro presidente do Brasil, e com Floriano Peixoto, seu sucessor no cargo.”
Nos séculos seguintes o estado continua na rota dos grandes acontecimentos do Nordeste. “Foi no sertão alagoano que Delmiro Gouveia ergueu a primeira usina hidrelétrica do país”, diz. “No campo cultural, nomes como Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Lêdo Ivo, Breno Accioly e Hermeto Pascoal ajudaram a construir o imaginário nordestino com seus olhares tão regionais quanto universais”, continua. “São alagoanas obras imortalizadas pelo cinema nacional, cujas locações se apoiam nas marcantes paisagens do estado, seja o chão rachado do sertão, no mar, a lagoa ou as águas do Rio São Francisco.
Alagoas é o estado que mais possui manifestações populares no país e, mesmo com toda essa riqueza, Werner explica que a população não desenvolveu o reconhecimento destes patrimônios, assim como o sentimento de pertencimento a uma cultura expressiva e ainda reverberante. “Tal processo tem efeitos diversos, influenciando, entre outros aspectos, a relação da população com os espaços urbanos e a arquitetura”, fala. “Nessas cidades que visitaremos, muitos moradores não compreendem a necessidade de preservar o patrimônio arquitetônico, muitas vezes perdendo a chance de explorar comercialmente o potencial turístico que uma cidade histórica costuma possuir.”
Rumos Itaú Cultural
O Itaú Cultural mantém o programa Rumos desde 1997. Este que é um dos primeiros editais públicos do Brasil para a produção e a difusão de trabalhos de artistas, produtores e pesquisadores brasileiros, já ultrapassou os 52 mil projetos inscritos vindos de todos os estados do país e do exterior. Destes, foram contempladas mais de 1,3 mil propostas nas cinco regiões brasileiras, que receberam o apoio do instituto para o desenvolvimento dos projetos selecionados nas mais diversas áreas de expressão ou de pesquisa.
Os trabalhos resultantes da seleção de todas as edições foram vistos por mais de 6 milhões de pessoas em todo o país. Além disso, mais de mil emissoras de rádio e televisão parceiras divulgaram os trabalhos selecionados. Na última edição (2015-2016), as propostas inscritas foram examinadas, em uma primeira fase seletiva, por uma comissão composta por 30 avaliadores contratados pelo instituto entre as mais diversas áreas de atuação e regiões do país. Em seguida, passaram por um profundo processo de avaliação e análise por uma Comissão de Seleção multidisciplinar, formada por 22 profissionais que se inter-relacionam com a cultura brasileira, incluindo gestores da própria instituição.
SERVIÇO:
Narrativas em Movimento
Rumos Itaú Cultural 2015-2016
Coqueiro Seco
Dia 15 de fevereiro (quarta-feira): divulgação do projeto em carro de som e campanha de adesão da comunidade
Dias 16 e 17 de fevereiro (quinta e sexta-feira): início das oficinas na Escola Estadual Cônego Amando de Gusmão; separados em três grupos: storytelling, animação 2d e stop motion e projeção mapeada
Dia 18 de fevereiro (sábado): montagem do evento, com a participação da comunidade para a projeção mapeada final na Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens
Projeção Final: 20h
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