Texto: Alagoar. Imagens: IFAL Marechal Deodoro.
Tudo o que é novo normalmente causa estranheza. E é o que fazemos com esse sentimento que determina o rumo das coisas. A estranheza pode dar lugar ao desprezo, ao ódio, à curiosidade. Em uma escola pública de Alagoas, a estranheza deu lugar ao conhecimento e ao amor.
Em 2017, o campus do Instituto Federal de Alagoas (Ifal) na cidade de Marechal Deodoro se deparou com algo novo. Laryssa, de 17 anos, foi aprovada no curso técnico em Meio Ambiente, superando a concorrida seleção para entrar na instituição. A novidade é que Laryssa é a primeira aluna surda a entrar para a escola.
A chegada da jovem deu início a uma série de discussões sobre acessibilidade para surdos, mobilizando técnicos, professores e alunos. Aqui, a estranheza deu lugar ao conhecimento. Enquanto aguarda o Ministério da Educação autorizar a contratação de um intérprete para a sala de aula, a escola abriu o primeiro curso de Introdução a Libras (Língua Brasileira de Sinais), com apoio de voluntários, facilitando a comunicação entre Laryssa e a comunidade.
E, por meio do audiovisual, a estranheza também deu lugar ao amor. Para encerrar a primeira turma do curso, estudantes e servidores decidiram gravar um clipe musical todo interpretado em Libras. A maior inspiração veio do trabalho feito pela ONG D-Pan, nos Estados Unidos, no qual surdos e deficientes auditivos gravaram clipes de músicas em inglês interpretadas em ASL, a Libras do país.
“Existem também alguns vídeos no YouTube de interpretações em Libras, mas sempre de músicas nacionais. Então pensamos em unir educação e cultura para tornar acessíveis aos surdos canções de artistas alagoanos”, explica a jornalista Acássia Deliê, que coordena o projeto “Escola em Libras” junto com Diogo Oliveira, chefe do Departamento de Apoio Acadêmico do Campus.
A primeira música escolhida foi Fortalece Aí, composição de Adriano Siri e Wado, lançada 10 anos atrás e que continua ganhando fãs. E o convite despretensioso feito a Wado rendeu a participação especial do cantor no clipe, onde ele também aparece interpretando o refrão da música em Libras junto com os estudantes.
“Eu nunca tinha tido nenhum contato com a Libras, além do que já vi na televisão, os tradutores no canto da tela. Foi uma estreia. E estou muito feliz que uma canção feita por mim e pelo Adriano Siri há tantos anos ainda possa inspirar as pessoas para práticas nobres”, contou Wado.
O clipe vem sendo preparado desde o mês de maio, quando o primeiro curso foi encerrado. Fluente em Libras, o estudante Vinícius Leonel, de 18 anos, fez a interpretação da música e começaram os ensaios. A gravação foi feita nos dias 19 e 21 de julho em locações na própria escola e no Centro Histórico de Marechal Deodoro. Tudo feito com o apoio de voluntários: a Prefeitura Municipal cedeu imagens aéreas de pontos históricos da cidade e o Piracema Studio trabalhou na montagem da obra.
O resultado é um vídeo cheio de vida e música para alegrar os ouvidos e também os olhos.
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