Pela necessidade da crítica

Rose Monteiro, Janderson Felipe e Lucas Litrento em fala durante a Mostra Quilombo de Cinema Negro, do Mirante Cineclube.
Revisão: Larissa Lisboa

Esse texto existe porque é preciso dialogar. Conflito é necessário, mesmo que ele inicie de forma indireta, nem sempre significa algo ruim e sim a possibilidade para que exista a discussão necessária. Na noite do dia 12, na 10ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano, durante o debate, em suas palavras finais o diretor do filme “Tambor ou Bola”, Sergio Onofre, descontextualizou o trabalho da crítica ao reduzir as críticas que recebeu a um caráter pedagógico e optar por “se vingar da crítica” em sua fala.
Em minha vida já me recusei a muitas coisas, muitas das vezes porque não tive algumas e não me senti merecedor de pertencer a elas, uma delas foi a necessidade de expressar o que penso. Faço agora, mais uma vez.

Volto um pouco aqui para minha trajetória no cinema alagoano, e dentro desse meu histórico, eu não poderia ter saído do lugar em que me senti mais a vontade, o Ateliê Sesc de Cinema, lugar de formação há 10 anos de muitos que fazem o cinema alagoano, ali em 2014 ao lado dos outros alunos e com os instrutores: Alice Jardim, Nivaldo Vasconcelos, Marianna Bernades e Flávia Correia. Ainda tinha a pessoa de Larissa Lisboa que na época para mim era mais uma figura institucional – sem me dar conta da parceria e amizade que viria – na época se mostrou super aberta a compartilhar seu TCC, que é fonte-base para esse site que está lendo. Pessoas fundamentais para a formação de vários realizadores no estado, graças a tamanha generosidade em compartilhar seus saberes e criarem espaços de abertura para o conhecimento, e tento a cada dia aprender a ser assim.
O cinema que antes era uma paixão e sonho, se mostrou como possibilidade de vida, e de expressão.
Porque digo que me expressar é importante? Primeiro não gostaria de ser entendido quanto detentor único da fala, não estou querendo me apropriar de lugar algum, falo por mim porque é da minha história que irei falar, não estou aqui também para encerrar discussões, mas sei que não sou dono dos sentidos e leituras possíveis que esse texto possa ter.
Eu sou uma exceção, dentro de minha família sou o primeiro e único a ter entrado numa universidade, essa que entrei pelas cotas raciais, poderia ter seguido o caminho de muitos que conheci durante a minha infância: num trabalho de exploração física e mental bruto que pouco dinheiro ganha (o que não é vergonha alguma ser, pois fui e sou criado assim por minha família), outro caminho seria ser assassinado como foi há treze anos meu único amigo de sexta série do colegial, Agreilson. Então chegar a possibilidade de “fazer” cinema para alguém filho de um casal que nunca levou seus filhos a uma sala de cinema e só aos 14 anos pode estar em uma sala pela primeira vez, o cinema parecia bem distante.

Volto a minha trajetória do cinema, porque foi uma escolha minha trilhar esse caminho, que se mostrou maior do que imaginava e além do “fazer”, nele também fui da primeira turma do Laboratório de Crítica Cinematográfica em 2016, de lá pra cá escrevi algumas críticas, cobri duas edições Mostra Sururu, duas também do Circuito Penedo de Cinema e uma edição do Festival de Brasília para este site, através do Mirante Cineclube estive envolvido em todos os laboratórios de crítica que sucederam a turma em que fui aluno.

Não digo isso para dar “carteiradas” mas para dizer que me sinto pertencente a crítica de cinema alagoano, e que a fala de tal realizador me chega com certa dificuldade. Porque se tem uma coisa que a crítica propõe é uma comunicação, um diálogo, e como bem disse Paulo Freire “o diálogo cria base para colaboração”. Primeiro por ser ferramenta de comunicação, e em seguida ser esse material que exprime a reflexão sobre uma determinada obra ou artista e a marca no tempo, se referir quanto aos críticos de tal maneira como fez, soa agressivo, e como apontou em sua fala saber de qual lugar vem tal crítica é bastante importante, talvez agora, com esse texto, ele possa saber de onde veio alguma das críticas que escrevi, e não é de alguém que nasceu sentado num barzinho numa beira de praia, o que não quer dizer que não posso ocupá-lo. Isso não quer dizer que o crítico não possa errar, e nem que é detentora de toda a verdade.

Acredito numa crítica que não precisa ter endereço marcado, se não provavelmente não teria chegado a mim tal oportunidade de ser crítico, não merece ser vingada também porque ela não se propõe a atacar alguém pessoalmente além da sua produção intelectual e artística, ao mesmo que seja compreensível ser duro recebê-la. É aí que mora seu papel pedagógico, porque se a crítica ao mesmo tempo revela o pensamento de quem a escreve, também pode revelar de quem a recebe.

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