Texto: Rafhael Barbosa. Imagens: Cobertura da Mostra Sururu e Larissa Lisboa
Quando o Serviço Social da Indústria (SESI) irresponsavelmente abandonou o único cinema alternativo de Alagoas, em 2013, teve início uma dramática batalha pela sobrevivência do Cine Arte Pajuçara, espaço que há mais de quatro décadas possui enorme relevância para o estado de Alagoas. Uma luta que, infelizmente, estamos perdendo.
Ao contrário de uma sala de multiplex, que visa exclusivamente o lucro, cobrando ingressos caríssimos e exibindo majoritariamente a produção industrial norte-americana, o circuito alternativo tem uma função social. Em todo o mundo estas salas contribuem para a formação de plateias, para estimular o debate sobre questões agudas da sociedade e para fortalecer a cena audiovisual nacional e regional.
O Arte Pajuçara não é um negócio, é um equipamento cultural, assim como o são o Teatro Deodoro, o Museu da Imagem e do Som, o Centro Cultural e de Exposições. E assim como eles, sem auxílio para sua manutenção as contas não fecham. Imagina se o Teatro Deodoro sobrevivesse da sua bilheteria? O prédio nem estaria mais lá, provavelmente dando lugar a um estacionamento ou a um templo da Universal, como aconteceu com tantos outros emblemas da nossa cultura.
Socialmente, o Arte Pajuçara vem cumprindo muito bem seu papel. Quem frequenta o espaço sabe o quanto ele influencia o cenário cultural local. Sem ele, não existiriam eventos como a Mostra Sururu de Cinema Alagoano, entre diversas outras atividades voltadas para a música, o teatro e as artes visuais, como parte de uma programação extremamente ativa e de grande impacto na comunidade.
Quem não tem cumprido seu papel é o poder público.
Fora de Alagoas, cresce a consciência da importância de espaços como o Arte Pajuçara. E crescem também os investimentos públicos no setor. Tomemos como exemplo o estado do Ceará, que, além de manter ativo o Cine São Luiz, no último mês de maio anunciou uma parceria com a Ancine para a abertura de oito complexos (cada um com duas salas) de cinemas em oito cidades localizadas no interior do estado (Itapipoca, Crato, Tauá, Canindé, Crateús, Aracati, São Benedito e Iguatu). O investimento total, segundo informou a secretaria de Cultura do Ceará, é de R$ 32 milhões.
Em Pernambuco não é diferente. A capital Recife conta com o Cinema da Fundação e o Cinema do Museu, mantidos pelo Fundação Joaquim Nabuco, e com o Cine São Luiz, bancado pelo governo do estado. No interior, iniciativas como o Cine Teatro Guarany, em Triunfo, e o Cinema Rio Branco, em Arcoverde, movimentam a região com mostras e festivais, numa iniciativa do Programa Cine de Rua, da Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE) e Fundarpe. Alguns outros espaços aguardam inauguração, como o Cinema da UFPE, a cargo da Universidade Federal.
Outra experiência muito bem sucedida é o circuito SPcine, em São Paulo. Com um conceito inovador, o programa criado pela gestão do prefeito Fernando Haddad inaugurou 20 salas de cinema (cinco em equipamentos culturais de São Paulo e 15 em Centros Educacionais Unificados – CEUs) com equipamentos digitais de ponta e uma programação diversificada e gratuita, voltados para o público das periferias da cidade.
Esses são apenas alguns exemplos de iniciativas recentes. Historicamente, em todo o Brasil os cinemas alternativos são mantidos pelo poder público ou pela iniciativa privada por meio de mecanismos de renúncia fiscal (você certamente já ouviu falar de espaços como o Itaú Cinemas, o Caixa Belas Artes, entre muitos outros pelo país).
Por que Alagoas corre o risco de perder sua única sala de cinema alternativo? Minha resposta é simples: uma tremenda falta de sensibilidade de nossos gestores públicos. Desde que o Arte Pajuçara reabriu em 2013, não faltam apelos e pedidos de socorro por parte do grupo responsável por sua manutenção. Prefeitura e Estado estiveram esse tempo todo cientes da gravidade da situação vivida pelo espaço. Ainda assim, até o momento não foram além das promessas e projetos abandonados pelo meio do caminho.
O resultado são dívidas e mais dívidas acumuladas, e o fantasma de um eminente fechamento assombrando a todos nós. Na última quinta, o equipamento cultural lançou a campanha “Mexeu com o Arte, Mexeu Comigo”, mais uma ação emergencial para convocar a solidariedade do público e da comunidade artística alagoana. Serão realizados shows e um leilão para arrecadar recursos. Se bem sucedida, a campanha vai trazer uma sobrevida de alguns meses ao espaço. E depois?
Só existirá uma alternativa, e ela está nas mãos dos nossos gestores. Caso aconteça, o fim do Arte Pajuçara será uma profunda chaga nas biografias do prefeito Rui Palmeira e do governador Renan Filho. Distraídos em seus planos eleitorais para 2018, eles talvez nem se deem conta disso. Nós, não tenham dúvidas, nos lembraremos.
Incomodemos o estado então. Deixemos comentários e avaliações nas redes sociais do governo do estado para incomodá-lo e escancarar o que está acontecendo.
Enquanto tivermos uma gestora com provas de corrupção e o pai no TJ-AL em situação análoga não sendo julgados nem afastados, a cultura alagoana vai levando o mesmo fardo que as demais áreas da governança brasileira…
Suportar ladrões e agonizar em ações negativas, como essa virada cultural que de cultura não tem nada que está vindo.
Só para complementar, também será realizada uma edição da Do Lado de Cá – Feirinha Cool no dia 21, onde 50% das inscrições e 2% das vendas de todas as lojinhas serão revertidas ao Arte Pajuçara. Também estamos vendendo uma rifa onde várias pessoas sensíveis a causa estão doando brindes para o sorteio e a renda será também revertida ao Espaço.
Grata, Lena. (Idealizadora da feirinha mais bonita da cidade)
Caros,
Ano passado o poder executivo municipal apoiou as atividades do Cinearte por meio de convênio, o qual transferiu recursos de forma direta para instituição. Este ano está em tramitação uma nova parceria envolvendo entre SEMED, SEMAS, FMAC e CINEARTE. Antes de falar em promessas e abandono por parte dos órgãos públicos, se informem melhor. Em épocas de fácil acesso a informação, ela só não chega a quem não quer.