Texto: Encanto Desencanto Encanto (dir. Ulisses Arthur)

Texto: Larissa Lisboa. Revisão: Felipe Benício. Imagem: Divulgação.

O encanto do quarto filme de Ulisses Arthur torna-se audível pelo toque da sanfona que embala as imagens com fio de contas, lantejoulas, linhas, compondo bordados que dialogam, entrelaçam e conduzem a abertura do filme. Em meio a vestidos, ora sendo lavados, ora sendo organizados, somos apresentados a um ateliê de costura/loja de aluguel de vestidos em Encanto Desencanto Encanto*.

A escolha de enquadramento a cada cena está em constante diálogo com linhas e formas, como na cena que mostra o varal repleto de vestidos brancos, tendo como moldura a janela e porta de fundo do ateliê (imagem em destaque). Soma-se a isso a construção de perspectiva, como na cena em que as araras de roupas estão sendo organizadas, e o nosso olhar é guiado, indo do primeiro plano, onde estão posicionadas as araras, para o segundo, onde estão os personagens.

Observamos três pessoas no ateliê/loja, a dona e dois funcionários/ajudantes (uma adolescente e seu tio). A relação entre o celular e os personagens está em sintonia com a construção narrativa, sendo através de um telefonema, entre a dona e outra pessoa, que é passada informação sobre as dificuldades vividas durante a pandemia de Covid-19. Como também é o celular que permeia a representação de isolamento e de conexão.

Encanto Desencanto Encanto declaram já no título, a relação com a construção poética. E isso é reforçado através da leitura da letra de uma canção em uma das cenas, em que a chegada da noite nos revela um pouco mais sobre os personagens e o ateliê.

Se já não conhecesse o ateliê apresentado no filme, que funciona em Viçosa-AL, estaria entre os meus desejos conhecê-lo. Jailma Bomfim, que é dona do ateliê dentro e fora da ficção, é mãe de Ulisses Arthur. Junto a Fernando Brandão e a mim, Jailma também trabalhou na assistência de Ilhas de Calor, também sob a direção de Ulisses.

*Foi realizado a partir do programa IMS Convida e está disponível no site do Instituto Moreira Salles e canal do Youtube.

Sobre Larissa Lisboa
É coidealizadora e gestora do Alagoar, compõe a equipe do Fuxico de Cinema e do Festival Alagoanes. Contemplada no Prêmio Vera Arruda com o Webinário: Cultura e Cinema. Pesquisadora, artista visual, diretora e montadora de filmes, entre eles: Cia do Chapéu, Outro Mar e Meu Lugar. Tem experiência em produção de ações formativas, curadoria, mediação de exibições de filmes e em ministrar oficinas em audiovisual e curadoria. Atuou como analista em audiovisual do Sesc Alagoas (2012 à 2020). Atua como parecerista de editais de incentivo à cultura. Possui graduação em Jornalismo (UFAL) e especialização em Tecnologias Web para negócios (CESMAC).

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