Visto por 3 mil pessoas em 34 festivais, A Barca atesta força popular e atemporal do conto de Lygia Fagundes Telles

Texto: Assessoria La Ursa Cinematográfica. Imagens: Divulgação.

Desde que estreou, o curta-metragem A Barca, de Nilton Resende, já participou de 34 festivais de cinema brasileiros e internacionais, com exibições em eventos sediados em países como Cabo Verde, Itália, Reino Unido e Ucrânia. Primeiro filme alagoano selecionado para o Festival de Havana, ele será exibido em Cuba em março de 2021.

Completando agora seu primeiro ano de carreira (sua primeira exibição aconteceu na 10ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano), o filme já recebeu importantes distinções, destacando tanto seus aspectos técnicos como artísticos. A fotografia assinada por Michel Rios foi pré-selecionada como uma das 15 melhores fotografias de 2020 segundo a Associação Brasileira de Cinematografia (ABC) e foi escolhida a melhor fotografia em dois festivais. O filme também recebeu prêmios por seu roteiro, elenco, direção, e pelo seu conjunto. Você poderá ver a lista de prêmios no final desta matéria.

O reconhecimento tem sido acompanhado pela visibilidade. O curta-metragem já foi visto por mais de três mil pessoas nos festivais por onde passou. O sucesso de A Barca atesta ao mesmo tempo o ótimo momento vivido pelo cinema feito em Alagoas e também a força popular e atemporal da literatura de Lygia Fagundes Telles, autora do conto que inspirou a história.

UM AUTO DE NATAL ALAGOANO

Fiquei impressionado com o timing de cinema na adaptação do conto da Lygia (que eu sei quase que de cor): versão antológica, definitiva do conto; coisa pra ‘usar’ em aula de literatura, pra falar de literatura e cinema! Não só fez bem pra paulista Lygia, como revelou no conto dela uma força que eu não suspeitava que (ainda) houvesse e como essa força foi tão bem forjada lá longe de nós! Achei muito bonito mesmo os tempos do filme, os tempos de silêncio tão expressivos, na barca, que duram tudo aquilo que tem que durar pra gente senti-los. Depois do filme, acho que voltei a amar o conto como quando eu li adolescente. Até peguei o livro aqui na estante hoje à noite!”, escreveu em sua rede social o professor de literatura Roberto Alves.

Para o escritor João Anzanello Carrascoza, “com A Barca, Nilton Resende nos apresenta uma leitura sensível do célebre conto Natal na Barca, de Lygia Fagundes Telles. Diferentemente dos filmes que reduzem a riqueza de sua matriz literária, este curta-metragem supera a proposta de simples adaptação, ganhando pelo roteiro e pela direção o status de transfusão de uma obra-prima do reino das palavras para o universo audiovisual. Assim, não só reaviva a história de nossa grande ficcionista, como também inaugura a sua própria vida nas águas de outra arte. Um tributo à alta literatura, uma celebração à fé e, sobretudo, um autêntico auto de Natal cinematográfico nestes tempos tempestuosos”.

O filme é um projeto antigo do diretor Nilton Resende, que há décadas desenvolve uma pesquisa em torno da obra da autora.

O encontro com a literatura da Lygia Fagundes Telles, na minha adolescência, mudou a minha vida e continua a mudar, a exercer sobre ela uma força renovadora. Foi a partir da leitura do romance As Meninas, aos 16 anos de idade, que eu comecei a amadurecer como leitor. Apaixonado por esse livro, chegaram-me às mãos alguns outros textos; dentre eles, Natal na Barca, o primeiro conto que li na minha vida, e que misteriosamente deu origem a meu primeiro filme”, conta ele, que estudou a autora no mestrado e no doutorado. Nilton é autor do livro A Construção de Lygia Fagundes Telles: edição crítica de Antes do Baile Verde, e trabalha na adaptação de outros textos da autora para o cinema.

O êxito do filme também evidencia a maturidade da cena audiovisual de Alagoas, que em 2020 lançou Cavalo, primeiro longa-metragem realizado com editais, e marcou presença nos principais festivais dedicados ao curta-metragem no Brasil, chegando com seus filmes, pela primeira vez, a competições como as de Roterdã (Quando Ficamos da Mesma Altura), Gramado (Trincheira) e Havana (A Barca).

ORIGEM LITERÁRIA

Todo o esforço técnico da equipe foi direcionado para materializar uma história que já tocou milhões de pessoas de diferentes gerações. O conto Natal na Barca, que deu origem ao filme, foi escrito pela paulistana Lygia Fagundes Telles e publicado pela primeira vez no livro Histórias do Desencontro (1958). Posteriormente publicado em Antes do Baile Verde, esse é um dos textos mais famosos da autora. Além de estar presente na maioria das antologias de contos lygianos, ele é também presença certa em antologias que trazem histórias que se passam no período natalino.

No filme, algumas pessoas estão numa barca que navega por uma lagoa gelada e escura (no conto, é um rio). São elas: uma mulher que pela primeira vez pega aquela barca (Ane Oliva); uma outra mulher (Wanderlândia Melo), que mora na região e leva consigo o filho doente (Yan Claudemir), um bebê, para que seja examinado por um médico; um bêbado (Rogério Dyaz) que dorme deitado num banco; a condutora do barco, interpretada por Aline Marta (no conto, um condutor).

Cada uma dessas personagens está carregando consigo seus próprios dramas, nessa noite escura da alma, mas, durante o trajeto, surge um inevitável diálogo entre as duas passageiras, culminando num acontecimento inesperado que deixará sua marca no término dessa travessia.

O Nilton é um grande conhecedor do universo da Lygia. No início, a ideia de transformar aqueles sentimentos em imagem em movimento era um grande enigma. Mas, por ser um projeto antigo do Nilton, isso ajudou na maturação do roteiro, deixando ele em banho maria para depois voltar a pensar nas imagens e na atmosfera. O roteiro, assim como o conto, é por si só muito imagético, muito cinematográfico. E isso nos ajudou muito a chegar no resultado. Ler coisas da Lygia e tentar traduzi-los para o campo visual do filme da maneira que construímos me deixou bastante feliz. Acho que toda a atmosfera que criamos em termos de luz e enquadramentos deixa a fotografia a serviço da narrativa. Ela não é mais nem menos. É exatamente do tamanho que deve ser. Talvez ela também tenha sido levada pela barca deslizando sobre a lagoa, guiando-se pelos acontecimentos que lhe são dados”, diz o diretor de fotografia Michel Rios.

A Barca – Nilton Resende – Trailer from La Ursa Cinematográfica on Vimeo.

SOBRE A BARCA

A BARCA
Ficção, curta-metragem, 19min, 2020
Baseado no conto Natal na Barca, de Lygia Fagundes Telles.

SINOPSE

Na noite de Natal, duas mulheres solitárias travam um diálogo numa barca, enquanto ela desliza sobre as águas de uma lagoa escura e gelada. Um acontecimento inesperado deixará sua marca no término dessa travessia.

FICHA TÉCNICA

Roteiro e Direção: Nilton Resende
Assistência de Direção: Rafhael Barbosa
Direção de Produção: Nina Magalhães
Assistência de Produção: Leandro Alves
Direção de Fotografia: Michel Rios
Assistência de Fotografia e Operação de Câmera: Chapola Silva
Montagem: Lis Paim
Correção de Cor, Supervisão de Efeitos Visuais e Composição Digital: Marcos André Caraciolo
Direção de Arte: Nina Magalhães
Assistência de Arte e Maquiagem: Nathaly Pereira
Som Direto: Leo Bulhões
Edição de Som e Mixagem: Lucas Coelho
Still e Making Of: Vanessa Mota
Iluminação e Elétrica: Moab Oliveira
2ª Assistência de Direção e Logagem: Paulo silver
Design Gráfico e Lettering: Nataska Conrado
Preparação de Elenco: Nilton Resende
Elenco: Ane Oliva, Wanderlândia Melo, Aline Marta, Yan Claudemir e Rogério Dyaz

PRÊMIO: Projeto contemplado no IV Prêmio de Incentivo à Produção Audiovisual em Alagoas (em parceria com a linha de Arranjos Regionais do FSA)
PRODUTORA: La Ursa Cinematográfica e VTK Produções

INDICAÇÃO A PRÊMIO:

Prêmio ABC 2020 (pré-selecionado como uma das 15 melhores fotografias de 2020 segundo a Associação Brasileira de Cinematografia)

PRÊMIOS:

Melhor Roteiro Adaptado / VI FBCI – Festival Brasil de Cinema Internacional
Melhor Ficção / FestCurtas Fundaj 2020
Melhor Fotografia / CineFest Gato Preto
Melhor Atriz Coadjuvante (Wanderlândia Melo) / Festival de Cinema de Muriaé
Melhor Filme Nacional / Festival de Cinema de Muriaé
Melhor Direção / Primeiro Plano — Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades
Melhor Curta-Metragem pelo Júri Oficial / Rio Fantastik Festival 2020 — Festival Internacional de Cinema Fantástico do Rio de Janeiro
Melhor Diretor de Curta-Metragem pelo Júri Oficial / Rio Fantastik Festival 2020
Melhor Curta-Metragem pelo Júri ACCRJ (Associação dos Críticos de Cinema do Rio de Janeiro) / Rio Fantastik Festival 2020
Melhor Diretor de Curta-Metragem pelo Júri ACCRJ (Associação dos Críticos de Cinema do Rio de Janeiro) / Rio Fantastik Festival 2020
Melhor Curta Internacional / Holidays 365 International Film Festival
Melhor Fotografia em Curta de Ficção / Holidays 365 International Film Festival
Melhor Atriz em Curta de Ficção (Ane Oliva) / Holidays 365 International Film Festival
Melhor Cartaz segundo o Júri Popular (Nataska Conrado) / Festival Curta Brasília

MENÇÕES HONROSAS:
Menção Honrosa – Curta de Ficção / PLATEAU – Festival Internacional de Cinema da Praia, Cabo Verde
Menção Honrosa – Mostra de Cinema Universitário / Circuito Penedo de Cinema
Menção Honrosa – Mostra Internacional / VI Cinemaway – Kinomashrut / Ucrânia

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