Texto: Janderson Felipe. Revisão: Nilton Resende e Larissa Lisboa. Imagem: Divulgação.
Trem Baiano – A força da palavra na criação do realismo fantástico
“No ano de 1989, os moradores de Carcará, um pacato povoado localizado no sertão alagoano, veem-se agraciados pela assistência prestada por um condutor e seu curioso veículo: o Trem Baiano.” Essa é a sinopse que apresenta Trem Baiano, filme guiado completamente por entrevistas, e que poderia parecer apenas mais um documentário comum, isso se o Trem Baiano não fosse um trem, e muito menos “do nosso mundo”.
Utilizar-se da não-ficção, conhecida pelo fazer documental, para elaborar uma ficção não é novidade no cinema, mas a dupla de Teotônio Vilela nos surpreende por causa da construção de uma narrativa em que predomina a força da palavra para a criação de um imaginário que nos faz colocar em descrença o “nosso mundo” em relação ao mundo que vemos na tela.
Não é de hoje que a palavra, tão bem utilizada em documentários para dar versões singulares de cada indivíduo que se coloca em tela, está em conflitos com a ficção. Eduardo Coutinho, quando fez Jogo de Cena, simplesmente colocou em cheque o real poder ficcional dessa autonarrativa. Em Trem Baiano, esse poder ficcional passa a ser usado para o arranjo de uma colcha de retalhos que habita um imaginário, onde criamos uma possível espaçonave e o seu gentil condutor, tão bem representado por seus narradores, nessa narrativa que às vezes pode ser comprometida por querer inserir tanto a participação de “especialistas” sobre o Trem Baiano, como o radialista que tende a destoar da verossimilhança do restante dos entrevistados.
Trem Baiano utiliza-se de entrevistas, premissa do cinema documental clássico, para criar uma narrativa baseada exclusivamente na força da palavra e assim estabelecer um universo rico em realismo fantástico e muita ficção cientifica, trazendo o público para o popular mundo da ficção científica que parece tão distante e só possível em filmes de Hollywood.
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