Ode à afirmação, “Waiting for B.” acompanha fãs da diva Beyoncé

 

Texto de Leonardo Amaral (com revisão de Nilton Resende) para o Alagoar. Foto: Divulgação.

É possível, ao longo dos anos, perceber como se evoluiu a cultura de celebridades. As imagens e símbolos perpetuados pelas mídias, especialmente a televisiva, fundamentaram quase que um novo tipo de crença. Figuras humanas idealizadas, trabalhadas a nossa imagem e semelhança, mas que se apresentam como perfeitas: o ponto máximo da evolução e talento humano. O amor por nossos ídolos é o equivalente a uma nova religião cujo principal mandamento é a adoração, e o que cada ato gerado pela imagem e repetido pelo público sintetiza é um eco de ideais para além de nós mesmos.

Uma das figuras mais representativas do fenômeno atualmente é a de Beyoncé. Através de sua música, já abordou feminismo e tratou de questões étnicas. Ela utilizou sua voz para amplificar debates e “empoderar” os fãs. É assim que se sentem especialmente as mulheres e LGBTs que compõem grande parte de seus seguidores. Um público intenso que está disposto a muito para adorar sua deusa.

“Waiting for B.” é um documentário de Paulo Cesar Toledo e Abigail Spindel que está em cartaz no Arte Pajuçara, na programação do projeto Sessão Vitrine Petrobras. O filme acompanha pessoas que se organizaram para passar dois meses na fila de espera para o show de Beyonce. Os documentaristas registram seus objetos de modo imparcial, sem julgamentos. Com exceção de  algumas entrevistas, na maior parte do tempo a câmera apenas segue o fluxo da vida diante da inusitada situação. Entre as personagens temos desde integrantes de um grupo cover até fãs militantes da causa. Não por acaso o documentário recebeu prêmios em diversos festivais LGBT, entre eles o Mix Brasil, maior evento dedicado ao debate de gênero no cinema nacional.

Confira do trailer:

As performances e as expressões nas coreografias e nas músicas se tornam catarses de vidas oprimidas, afirmações de identidade e existência em uma sociedade que as quer apagar. “Ela é uma imagem de superação”, afirma uma fã. Ao mesmo tempo, muitos acusam a cantora de hipocrisia,  enxergando alguém que exalta as próprias conquistas. Eles falham em perceber  a relação de projeção entre quem mostra e quem vê; ao exaltar a si, Beyoncé afirma quem a observa, quem se enxerga nela.

Não é o que acontece na relação entre LGBTs e sociedade, por exemplo. O documentário demonstra em diversos momentos o distanciamento entre os grupos marginalizados e os outros. Especialmente em um dia de jogo, quando o estádio onde será o show se enche de torcedores, é possível perceber questões de masculinidade apresentadas na dicotomia Futebol Vs. Divas. A agressividade homofóbica do esporte, essa “manifestação de masculinidade”, se faz presente a todo momento.

Já os dias “comuns” costumam ser mais leves. Eles interagem sem vergonha, mesmo quando os passantes reagem com gritos e olhares preconceituosos. Os LGBT se apoiam uns nos outros e não se deixam intimidar.

Entretanto vale salientar que a sexualidade é só um entre tantos aspectos discutidos. O documentário não deixa de explorar distorções dentro da própria cultura LGBT, por exemplo, quando o racismo se revela nas leituras sobre a etnia de Beyoncé. A partir do comportamento de seus personagens, o filme também reflete sobre a cultura da ostentação e a ausência de debate, dentro do grupo,  em relação à realidade socioeconômica. Há até quem negue a  identidade brasileira. Uma personagem praticamente se afirma “americana de alma”.

Desses pequenos flagrantes da realidade surge uma discussão ampla e universal. A maneira como esses indivíduos se percebem tanto em relação à sociedade quanto a eles mesmos é demonstrada a partir de como reagem em relação a Beyoncé e a como convivem com aqueles que são, teoricamente, seus semelhantes.  Da mesma forma eles lidam com a sociedade que os observa e que grita palavras de ódio.

SERVIÇO:
Filme: “Waiting For B.”, de Paulo Cesar Toledo e Abigail Spindel
(O curta-metragem alagoano Wonderfull será exibido antes das sessões)
Onde e quando: No Cine Arte Pajuçara, às 15h (exceto segunda, 06)
Ingresso: R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia-entrada)
Informações: 3316-6000.

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