Victor de Almeida indica

Texto: Victor de Almeida* (para o Alagoar). Foto: Samuel Mendes.

Não é de hoje que acompanhamos um processo de “renovação” na música em Alagoas. Interessante é notar que, além de lançamentos de discos por parte desses novos artistas e bandas, estamos presenciando uma aproximação cada vez mais recorrente dos produtores e realizadores audiovisuais.

Os realizadores do segmento do audiovisual também estão se renovando. Não falo como alguém que vem de dentro do meio do cinema, mas como mais um consumidor de filmes, clipes e produções feitas em Alagoas.

Acho que não é o caso mais de falar que este momento da música e do audiovisual em Alagoas é fruto do barateamento da produção, devido ao acesso facilitado a tecnologias como câmeras digitais, interfaces de áudio, equipamento de gravação, softwares de edição e finalização.

Claro que, hoje em dia, essas ferramentas aliadas a estratégias de divulgação e circulação dessa produção estão muito mais disponíveis para todos, mas, ainda assim, usá-las para justificar o desenvolvimento do audiovisual local seria reduzir esse momento criativo e produtivo a um determinismo tecnológico que considero ultrapassado. Devemos, sim, começar a discutir os produtos em suas qualidades e potencialidades e reconhecer todo um esforço de profissionalização que existe por trás de cada clipe, cada EP de cinco músicas e cada filme, por exemplo.

A convite da Larissa Lisboa, listo abaixo seis clipes que me chamaram atenção nos últimos tempos e podem traduzir esse processo de amadurecimento das bandas em Alagoas e dos realizadores que tem resultado em clipes esteticamente interessantes.

Technicolor – Dos clipes feitos em Alagoas no últimos tempos, esse é o meu favorito. A banda Milkshakes tem o melhor EP que eu ouvi neste ano. Simples assim. A estética lo-fi da música e do VHS é incrível. Interessante pensar que talvez, levando em conta a idade dos músicos, eles não se recordem com clareza da época do videocassete e nem tenham vivido os anos 80. Mas essa vibe nostálgica que toma conta do clipe é demais. O colorido, o gelo seco e a filmagem “quase amadora” poderiam estar no clipe de “Manequim” do Dominó. Mas acho que eles não manjam dessa referencia.

Lambada Para Bangladesh – Não tem mais nada de novo para se falar sobre esse clipe. Um cara dançando, uma guitarra, um campo de futebol e uma câmera parada. Em tempos de clipes mega-produzidos, drones e efeitos de tratamento de imagem, esse clipe brilha pelo minimalismo, embora tenha feito mais sucesso pela comicidade. Lembro do clipe de Connerstone do Arctic Monkeys que tem essa vibe. Alex Turner e Givly Simons são dois caras diferenciados. Artista: Figueroas.

Homenzinho – Um clipe de rock. Sem excessos. A banda tocando numa quadra de esportes, dia de sol, vista pra o mar. É um exemplo bom de como se jogar com modelos estabelecidos. Produzido por Derick Borba e Tchê, o clipe de Homenzinho traz toda a leveza do rock de canção do Troco em Bala. É dessas canções que você pode ouvir despretensiosamente, mas vai estar ouvindo sempre. Isso também vale pro clipe. Se fosse em outras épocas, era vídeo para passar no Top 10 da MTV. Muito melhor que aquela música e clipe do B5 que chegou a fazer um certo sucesso. (Vocês lembram do B5, né?)

Sem Véu Nem Vaidade – Henrique Oliveira é dos caras do cinema de Alagoas que mais soube dialogar com a música e a linguagem própria de videoclipes. Além desse clipe do Felipe de Vas, ele gravou um belo vídeo para “San Francisco”, música do Projeto Sonho, e trabalhou com Wilma Araújo, Elisa Lemos, além de também ter feito um baita EPK para o Caê Mancini. Nesse clipe, eu acho que ele trabalha bem com um clichê de videoclipes que é o vídeo com casais. Mas o vídeo supera o óbvio e,  ao mesmo tempo que funciona muito bem como videoclipe, acrescentou muito à canção. Acho esteticamente bem bonito, os efeitos, as locações, tudo muito bem executado. É um clipe em que o bom gosto se sobressai.

Maresia Dub – Um rádio de fita passeando por Maceió. Basicamente, essa é a ideia do clipe da Tequilla Bomb. “Maresia Dub” mostra uma Maceió não óbvia. A Maceió das praças, das feiras, do sound system, do skate, do grafite, da Praia da Avenida, das lanchonetes do centro e da Fernandes Lima engarrafada. Essa é a mesma Maceió que abriga a “faixa de gaza” e que foi “capital do réveillon”, mas que ao mesmo tempo tem todos os conflitos de uma capital nordestina. Sem dúvida um dos melhores clipes desse ano. A música do Tequilla Bomb tem muito disso também. Achei o resultado sensacional.

Mundo Grande – Essa série produzida pelo Yo Soy Toño é um exemplo interessante para se pensar. Antes mesmo de lançar algum trabalho próprio em áudio, Antônio decidiu gravar uma série de três vídeos com músicas que devem estar em seu primeiro disco em formato voz e violão. Gravados em uma sala de estar em São Paulo e com imagens externas em Maceió, os vídeos são de uma simplicidade comovente. Nada de recursos sofisticados, nem grandes locações, nem pomposas produções. Recomendo “Mundo Grande”.

* Victor é professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), doutorando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (PPGCOM/UFPE), pesquisador filiado ao Laboratório de Análise da Música e Audiovisual (LAMA), produtor do Festival LAB e guitarrista da banda Projeto Sonho.

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