Série Lugares de Atuação, uma entrevista com Laís Lira

Perguntas e revisão: Karina Liliane e Larissa Lisboa. Respostas: Laís Lira. Foto: Natie Paz. Ilustrações: Weber Salles Bagetti.

Guiadas pelo desejo de dar continuidade ao diálogo sobre lugares de atuação em Alagoas, Karina Liliane e Larissa Lisboa elaboraram esta série de entrevistas que nesta primeira rodada foi criada junto aos atores e atrizes alagoanos Julien Costa, Silvio Leal, Wanderlândia Melo, Ane Oliva e Laís Lira. Cada entrevistadx foi estimuladx a falar dos seus lugares de atuação, Laís Lira compartilha sobre suas experiências nas artes cênicas (teatro, performance, danças, etc) e no cinema. Ela compõe o elenco do filme alagoano As Melhores Noites de Veroni (dir. Ulisses Arthur) e é uma das entrevistadas do documentário Cia do Chapéu (dir. Larissa Lisboa).

Larissa Lisboa: Qual foi o seu primeiro contato com a atuação no Teatro como espectador? E no cinema?

Como espectadora não tenho uma lembrança muito clara. Mas lembro-me de quando ainda criança ter visto um espetáculo com Regis de Souza e Diva Gonçalves, num clube de Maceió. Era uma confraternização do Sindicato dos Bancários, acho kkkk… Na época meus pais eram bancários. E lembro-me vagamente também de um espetáculo que fui ver, no Teatro de Arena, projeto Teatro-escola.

LL e Karina Liliane: Qual a sua primeira lembrança atuando? (onde e quando) 

Ainda criança brincando de escolinha em casa. Eu era a professora kkkkk =D

Profissionalmente foi no espetáculo Desiderata, do grupo Sobressalto, da Escola Marista de Maceió. O espetáculo foi dirigido por Valéria Nunes, que na época era nossa professora de dança.

KL: Você acredita que esse momento teve influência sob o caminho que percorreu na escolha da atuação como profissão e como lugar de expressão máxima do seu fazer artístico? 

Sempre fui uma criança que me expressei através do movimento e da voz. Inquieta e falastrona, a dança foi a primeira das linguagens que se tornou um meio de me comunicar com o mundo. Desde a escola primária até o ensino médio a dança sempre esteve presente na minha vida. Abertura de jogos internos, concurso de dança e quadrilha organizados com os amigues da vizinhança, participação em grupos de animação de festa infantil entre outras experiências. Só que com a aproximação do vestibular e tendo que escolher um curso eu me deparei com o fato de, na época, a Ufal não ter o curso de Dança. O que mais se aproximava era o curso de Teatro Licenciatura.

O espetáculo Desiderata, em 2003, sem dúvida foi decisivo na minha escolha, já que mesmo se tratando de um espetáculo de “dança” ele ampliou minha visão sobre o dançar e estar em cena. Dança e teatro dialogavam, se misturavam de tal forma que eu percebi que eu poderia fazer o curso de Licenciatura em Teatro e ainda assim me expressar através do movimento. O processo de criação do espetáculo também foi algo que fez toda a diferença na forma como ainda hoje acredito os processos de criação: colaborativos, orgânicos e pessoais, mesmo quando em “função” de uma ideia pré-estabelecida.

Ilustração: Weber Salles Bagetti.

KL: Qual e onde foi o seu primeiro trabalho a partir do momento em que entendeu a atuação como profissão? Ou qual trabalho te fez enxergar como uma profissão?

Espetáculos como Corpos Atravessados, da Cia Saudáveis Subversivos e Confissões de Adolescente, da Cia Falange Teatral foram importantes na construção de uma visão mais profissional sobre a atuação e a expressão artística. Os dois foram os primeiros espetáculos em que atuei após ingressar na Universidade. Entretanto, foi com o espetáculo Alice?!, da Cia do Chapéu, companhia de artes cênicas na qual sou integrante até hoje, que minha visão de profissionalismo se concretizou, pois com Alice?! vivenciei um processo não apenas de criação, mas também de produção, o que me trouxe questões, pontos a se observar quando o assunto é a produção e o consumo de artes.

LL: Como teve início o seu diálogo com o cinema alagoano?

Meu primeiro contato com o cinema alagoano foi no documentário sobre a Cia do Chapéu, produzido por Larissa Lisboa, em 2010. Mas foi com o curta As Melhores Noites de Veroni, dirigido por Ulisses Arthur, que comecei a visualizar o cinema como mais um espaço/lugar de atuação para ocupar.

KL: O que poderia descrever como singular de cada local de atuação e/ou quais diferenças enxerga no fazer artístico quando aplicado em locais distintos?

A relação com o público, ao vivo, que o teatro proporciona é algo realmente único e que o cinema não alcança. Já no cinema existe uma espécie de “é agora ou nunca” quando estamos no set de filmagem, mesmo com repetições, que faz tudo parecer mais intenso… Acredito que isso se deva por conta do tempo, que inclusive é a principal diferença que enxergo entre a criação artística no teatro e no cinema. O tempo de criação e construção dos sentidos no corpo do ator e da atriz, o tempo e como se dá a construção da dramaturgia da cena, que no cinema ultrapassa o momento da atuação e segue, ainda, para a edição.

Ilustração: Weber Salles Bagetti

LL: Como você vê a relação entre os lugares de atuação em Alagoas?

No que se refere a relação entre o teatro e o cinema tenho observado uma aproximação, busca por diálogo e troca de experiências cada vez mais frequente. Entretanto, percebo que este diálogo, ainda que importante, fica nas “formas” de atuação e como isso reverbera na escolha da equipe, ou melhor, dos atores e atrizes para as obras cinematográficas. Sinto desejo de ver esse diálogo, essa relação se ampliar para assuntos como a própria criação artística, de forma que o cinema e o teatro possam conceber e criar juntos. Assim como quando eu vivenciei um espetáculo de dança e percebi que ali também era teatro, eu adoraria ver a cadeia produtiva do cinema e do teatro alagoano se fundindo mais em obras “cinematrais”.

LL: Quais as dificuldades em trabalhar com atuação em Alagoas?

Alagoas é um estado que sua construção política, sem dúvida, ainda reverbera na forma como enxergamos, consumimos e concebemos a produção artística alagoana. As expressões artísticas ainda são muito segregadas em bolhas socioeconômicas, e a obra, o produto externo ainda é supervalorizado em relação ao local, pela sociedade civil e pelos poderes privado e público, que ainda precisam ser “cobrados” por iniciativas de fomento e disseminação da arte alagoana. Isso reflete diretamente na produção artística, já que nos deparamos com um panorama de mercado incerto e não muito “promissor”. Consequentemente observo e sinto dificuldades, de assim como outros artistas, me consolidar profissionalmente ao ponto de conseguir viver da minha arte.

KL: Quais as expectativas/desejos/vontades que você tem em relação a sua profissão e aos campos de/para atuação em Alagoas nos/para os próximos anos? 

Não só meu desejo, mas também minhas movimentações têm se direcionado para a articulação e fortalecimento da rede de artes cênicas, acreditando ser esta a melhor forma de obtermos resultados mais significativos para a classe artística junto do poder público e privado, e da sociedade civil. Quanto às minhas expectativas e metas profissionais pessoais, fazer mais cinema, mais teatro, mais música, e me proporcionar mais intercâmbio e troca com outros artistas e fazeres artísticos das mais variadas linguagens.

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LAÍS LIRA é atriz e produtora na Cia do Chapéu, desde 2007; cantora e compositora na banda Artehfato, desde 2009; responde pelo setor de produção cultural da Escola Espaço Educar, desde 2013. Realiza e/ou atua em produções artísticas, incluindo espetáculos, esquetes teatrais, filmes, propagandas e shows musicais. É produtora, desde 2016, do Festal-Festival de Artes Cênicas de Alagoas.

Graduada em Artes Cênicas: Licenciatura em Teatro pela Universidade Federal de Alagoas (2010), Laís tem cursos na área de atuação, expressão corporal e dança, palhaçaria e cinematografia. Vive e trabalha em Maceió-AL.

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