Texto: Emanuella Lima. Revisão: produtoras do Festival Alagoanes.
Durante 30 dias, o Festival Alagoanes visibilizou artistas do setor audiovisual, conversou sobre temáticas importantes no cinema de Alagoas, incentivou ações formativas e contemplou filmes produzidos em nosso estado. O Alagoanes marcou presença e celebrou o aniversário de 100 anos do audiovisual alagoano
O Festival que nasceu do coração de duas mulheres Karina Liliane e Larissa Lisboa se estendeu e alcançou várias telas. O que antes era visto de forma complexa, costurou-se a partir da curadoria feita por cinco convidades ilustres: Allexandrëa Constantino, Ziel Karapotó, Wanderlândia Melo, Jéssica Conceição e Benjamin Vanderlei que foram instruídos com muito carinho e dedicação por Regina Barbosa. O processo de curadoria do Festival, foi abordado na mesa de abertura do evento e está disponível para ser assistido no canal do Youtube do Alagoar.
Em entrevista ao Algoanes, Regina Barbosa compartilhou como foi a experiência de participar do Festival. “Foi uma experiência muito bacana em todos os aspectos. Teve pouco tempo para eu me organizar, mas ainda assim foi bem interessante. Eu parti do princípio de que algo ia ser construído, que eu não precisava ter todas as respostas, fui deixando rolar e foi uma experiência riquíssima e aquilo que eu achava que era um espaço vazio foi um espaço de muito diálogo e muita troca. O grupo foi escolhido de forma muito interessante.Tratamos a diversidade de gênero, étnica, a história do cinema e aí a oficina transcorreu de forma bem interessante. Eu acho que esse espaço de formação é fascinante e é muito importante que segmentos como o audiovisual se preocupem em potencializar formações”, compartilhou Regina.
Cinema em Alagoas
O cinema feito em Alagoas ganhou espaço na plataforma do Alagoar, no site estão disponíveis grande parte dos filmes exibidos no Festival e tantos outros catalogados por colaboradores voluntários, a iniciativa tem como uma das idealizadoras Larissa Lisboa, que além de instrutora da Oficina Panorama do Cinema Alagoano, também é uma das produtoras do Festival Alagoanes.
No debate sobre as ações formativas do Festival Alagoanes, Larissa, comentou sobre alguns percursos que a levaram a ministrar a oficina. De acordo com ela, o livro Panorama do Cinema Alagoano escrito por Elinaldo Barros, uma das poucas obras que falam sobre a produção de filmes em Alagoas, foi um dos impulsos que a levou a construir a ação formativa.
“Eu desenvolvo a partir da graduação em Jornalismo, uma pesquisa com o intuito inicial de atualizar este livro, que fazia o mapeamento do cinema alagoano e, eu esbocei no meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), uma proposta de catálogo da produção audiovisual alagoana, então a oficina seria uma versão de 2008. Tive o privilégio de participar da segunda edição do livro Panorama do Cinema do Alagoano, onde participei da revisão do livro, eu não tinha dimensão naquele momento do quanto isso era relevante e do quanto que eu desejava colaborar com aquilo. Então eu desenvolvo essa pesquisa e foi a partir de alguns privilégios, que me reconheci como instrutora, me dei conta que havia uma possibilidade de eu me colocar como oficineira e foi assim que a princípio eu comecei timidamente falando sobre o cinema alagoano, foi aí que comecei a revisitar o Panorama do Cinema Alagoano e propor uma oficina como Panorama do Audiovisual Alagoano e aí nesse caso, eu uso como matriz e referência o Alagoar. A gente pensou enquanto estava planejando o Alagoanes, em colocar a oficina para o final justamente para poder refletir um pouco sobre o Festival dentro da oficina, mas eu não tinha dimensão do desafio que seria .”, compartilhou Larissa.
O site pensado como uma janela do audiovisual possui características únicas para quem quer conhecer o cinema feito em Alagoas, de forma muito simples, o espaço preenche lacunas onde quem o acessa enxerga novos caminhos.
Mais sobre as ações formativas do Festival Alagoanes
O projeto contemplado pela Lei Aldir Blanc, foi costurado e pensado de forma expansiva para que pudesse atingir o maior número de pessoas possíveis. Uma das oficinas do Festival Alagoanes, Cinema de Guerrilha, foi ministrada pelo diretor e diretor de fotografia Rosa Caldeira, cineasta trans que de forma muito dinâmica e singular trouxe suas vivências para a ação formativa. A oficina que aconteceu de 07 a 12 de abril tinha como objetivo facilitar a produção de filmes feitos por pessoas LGBTQIA+.
“Foram cinco dias incríveis com uma turma incrível, muito presente, cheia de afetos e desejos, eu adoro dar esses cursos, teve relatos muito emocionantes, pessoas muito impactadas, acho que chega em cada um de uma forma diferente passa por muitas áreas”, expressou Rosa.
Rosa também compartilhou um pouco da experiência de participar e se envolver com a turma. “Mesmo com diferentes níveis e propostas dentro dessas pessoas, é muito legal ver como elas são tocadas. A gente fez uma turma voltada para a população LGBTQIA+ e eu percebi que isso foi muito natural e foi muito louco perceber que a minha complexa presença enquanto professor trans em um espaço, já faz com que muitas pessoas trans apareçam para receber aquele conteúdo. Então no meio de uma quarentena, em um momento tão difícil como esse, você se propor a fazer algo, realmente acho que precisa de muito envolvimento e muita entrega, é algo muito potente revigora qualquer um. A gente tem que celebrar e agradecer e que venham mais encontros potentes como esse”, completou.
Um dos participantes da ação formativa Cinema de Guerrilha, Ronald Silva, que se declara como pessoa gay não binária, produziu um curta-metragem durante os encontros da oficina e o inscreveu no Rio Festival de Cinema LGBTQIA+. Em entrevista ao Alagoanes, Ronald contou que a produção de seu filme não foi feita de maneira simples, o curta Sereia, nasceu de um conjunto de emoções.
“O curso me ajudou a elaborar no meio do caos, então eu peguei tudo que eu tava sentindo de dor e sofrimento e resolvi fazer um curta de ficção e com ajuda de uma amiga que é atriz e também comunicadora social, eu gravei o filme que acabou sendo o mais longo apresentado na última aula. Lembro que o curta foi gravado em dois dias e eu não fiz as outras atividades, mas peguei todas elas para construir o filme. A recepção foi muito calorosa, muito emocionante e incentivaram que eu inscrevesse o filme em festivais e, então coincidentemente abriram as inscrições do Rio Festival de Cinema LGBTQIA+, eu não tinha experiência nenhuma, mas inscrevi e o filme foi selecionado, vai ser exibido no dia 11 de julho”, compartilhou.
Ficou interessade?
O Rio Festival de Cinema LGBTQIA+ acontece de 8 a 18 de Julho, o filme ‘Sereia’ de Ronald Silva será exibido dentro do bloco Curtas Brasileiros 3, transmitido às 20h no dia 11 de julho, junto com outros seis curtas, na mostra competitiva. “Fiquei muito impressionade com toda essa oportunidade que são resultados da família que eu conquistei e de toda equipe do Alagoar e do Alagoanes, concluiu Ronald.
Outra importante ação formativa promovida pelo Festival Alagoanes, foi a oficina A Mulher no Cinema Brasileiro: Rotas e Desvios, ministrada pela professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem do curso de graduação em Cinema e Realização Audiovisual da Unisul, Ramayana Lira.
De acordo com Ramayana, o curso pensado para o Festival foi baseado em pesquisas e no trabalho com as questões relacionadas à gênero, raça e sexualidade no cinema. “A ideia inicial de pensar rotas e desvios foi exatamente para elaborar junto com as pessoas que participaram alguns percursos que foram possíveis para as mulheres dentro do cinema brasileiro. O curso foi pensado para mapear essas rotas e desvios e a gente acabou recortando duas grandes rotas e dois grandes desvios que é o cinema feito por mulheres, que foram o cinema feito por mulheres negras e o cinema feito por mulheres lésbicas. Ao longo do curso eu vi a necessidade de privilegiar uma forma específica o curta metragem , então quis pautar essa produção contemporânea e também porque esse é formato que, melhor tem ocupado, se abre para subjetividades que antes encontravam dificuldades nos meios de produção, então buscamos pensar este cinema”, explicou.
Ramayana ainda falou sobre como a ação formativa alcançou mulheres de várias origens. “Foi um curso muito bacana com pessoas de várias partes do país e até do exterior. A gente tentou sempre abrir esse espaço de interlocução, a partir da forma que eles se relacionaram com os filmes e ouvir dessas pessoas coisas que antes eu não conseguia dialogar”, concluiu.
Já a ação formativa Devires Negros e Indígenas no cinema brasileiro e alagoano, foi ministrada pelo estudante de jornalismo, diretor, curador, produtor e escritor Janderson Felipe, a oficina foi a penúltima realizada no Festival Alagoanes e aconteceu de 26 a 30 de abril.
Em entrevista, Janderson explicou que a oficina foi construída como uma forma de investigar e contar as trajetórias negras e indígenas no cinema regional. “Propus que a gente investigasse a partir dos nossos próprios filmes que representam nossos mestres, nossos fazeres da cultura popular, nossos povos originários, nossos terreiros, então embasado por vários referenciais que reconhecem essas pessoas e lugares como espaços de conhecimento fundantes da cultura brasileira para assim reinventar e recriar essa história que a gente ainda não vê contada”, explicou.
Janderson ainda contou como foi sua experiência com a ação formativa. “Para mim foi muito gratificante, acredito que a turma recebeu muito bem a proposta da oficina, tivemos muitas trocas, se dedicaram aos exercícios propostos e participaram bastante das discussões. Particularmente foi difícil dar conta porque queria mostrar muita coisa dentro desse tempo do formato de oficina virtual, acabou sendo um novo aprendizado e fazendo que a oficina fosse se remodelando durante toda a semana e no fim ganhando um formato que achei bem legal e que pretendo levar e ir melhorando cada vez mais”, contribuiu o instrutor.
Por fim, mas não menos importante, a ação formativa Crítica de Arte, ministrada pelo artista intermídia Guilherme Miranda, foi uma das primeiras oficinas promovidas pelo Festival Alagoanes e aconteceu antes mesmo das exibições de filmes e debates.
A oficina teve como objetivo acompanhar os filmes do Festival e escrever sobre eles. Os textos produzidos pelos alunos foram reunidos para criação de um e-book, que está em processo de finalização, formato pensado e tratado com muito carinho visando contribuir com o cinema alagoano.
Guilherme Miranda compartilhou com o Alagoanes como foi sua experiência em estar à frente desta ação formativa do Festival. “Normalmente estou acostumado a produzir atividade para o público, então foi uma das poucas vezes em que participei enquanto artista e pude trocar figurinhas com o pessoal que se inscreveu. Durante a oficina eu tentei não ser acadêmico principalmente porque a gente sabe do dia a dia e talvez a gente precisasse de mais tempo. Discutimos algumas possibilidades de técnicas de escritas, muito exercício, assistia um curta fazia uma crítica em seguida, lia uma crítica e fazia uma crítica daquilo que foi lido a gente tentou criar várias situações para que o pessoal durante o Festival Alagoanes literalmente praticasse aquilo que a gente vinha intercalando (teoria e prática), fiquei muito feliz com o desempenho da turma e quero agradecer essa oportunidade de ter participado”, disse Guilherme.
A mesa sobre as ações formativas do Alagoanes está disponível no canal do YouTube do Alagoar. Vale lembrar também que todas as ações formativas, exibições de filmes e debates do Festival Alagoanes aconteceram de forma online e 100% gratuita.
O Festival Alagoanes contou com o apoio financeiro do Governo de Alagoas, através da Secretaria de Estado da Cultura, via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.
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