Texto: Marola e Marolas (dir. Celso Brandão)

Texto: Larissa Lisboa. Imagens: divulgação.

Celso Brandão lançou em 2021 a série Marola composta por sete episódios de um minuto (em média) e o filme Marolas com seis minutos de duração, Marola e Marolas são desdobramentos do convite feito pela Galeria Utópica (@utopica.photography) para que Celso apresentasse o trabalho dele no perfil da galeria no Instagram. Como forma de refletir sobre as semelhanças e diferenças destas duas obras, propus a escrita deste texto.

Marola (série)

Os episódios da série Marola (dir. Celso Brandão) foram publicados entre maio e agosto de 2020, e tem seus títulos enumerados de I a VII, por isso serão assim mencionados.

Na primeira cena de Marola I está o fotógrafo e diretor da série Celso Brandão, que em poucas palavras nos conduz a imergir no seu universo, sua morada, seu “cosmo”. E a menção de cosmo somada à imagem do reflexo do sol na areia do mar com algumas espumas que se formam entre as ondas, pode ressoar imageticamente como uma representação da constelação do cosmo de Celso. Uma morada construída e constituída também pelo acervo de obras de arte que Brandão coleciona, as quais vemos nesse e em outros episódios da série Marola

Em Marola II, Celso nos recebe com duas das obras de sua coleção, uma máscara e um apito, ressaltando o convite para que mergulhemos no seu “cosmo”. As obras nos olham e nós olhamos para elas. Seguimos com as imagens sendo intercaladas em conjunto com o apito leve, num ciclo. Assim como nos dois episódios anteriores o mar está presente em Marola III, primeiro pelo som e logo pela sequência das imagens que foram filmadas na areia da praia, passando pela sequência de fotografias de pescadores e pescados, até vermos um ser mascarado, em meio a um curral de peixes no mar, que observa o seu entorno. 

O ser mascarado nos recebe em Marola IV com uma esfera transparente em suas mãos, e a coloca bem próxima tomando todo enquadramento até se fundir com o reflexo do rio, a trilha sonora tem um clima misterioso, vemos mais esferas e reflexos no rio, vemos uma escultura e o ser mascarado pelo mangue. Em Marola V, apitos e chocalhos nos entoam pelo mangue, observamos o ser mascarado envolto por galhos e uma cobra de madeira boiando no rio refletido.

De volta ao mar em Marola VI e ao curral de peixes, entre as ondas esculturas de madeira se fundem (homem, mulher, peixe e polvo), o ser mascarado parece se despedir e seguir de barco para outro cosmo. Em Marola VII o ser mascarado observa os tiradores de coco, tirando coco do coqueiro e partindo cocos.

Cada episódio da série Marola apresenta sua ambiência visual e sonora autêntica, compondo um universo entre o mar e a lagoa, um cosmo particular, que pode ou não ser reconhecido como familiar, no sentido de ser um ambiente em que já foi frequentado ou que faz parte do imaginário popular. É possível perceber que o personagem (ser mascarado) está transitando em ambientes abertos em meio a natureza, após sair de uma casa, e que ele concluiu a sua jornada junto aos tiradores de coco.

Marolas (filme)

Na primeira cena de Marolas vemos o mar através de uma janela, Celso na sequência aparece e em poucas palavras nos conduz a imergir no seu universo, sua morada, seu “cosmo”, que é composto pelo mar no qual se encontra alguns personagens, entre eles o ser mascarado que nos observa. O mar se funde com o mangue de onde observamos o ser mascarado que segue a observar ao seu redor. Cobras de madeira boiam no rio refletido. O ser mascarado permanece entre as raízes das árvores e os caranguejos do mangue. Enquanto caminha na nossa direção o ser mascarado nos mostra uma esfera transparente. A beira mar ele empunha galhos como se estivesse ensaiando um combate. Os tiradores de coco surgem escalando coqueiros e descascando cocos. Polvos, lagostas, um peixe e o ser mascarado, uma porta se fecha, Celso está de volta a sua casa.

Em meio ao encadeiamento das cenas do filme e da série a leitura das imagens pode ser feita de forma particular por cada espectador. A minha relação com a série, que também foi a primeira destas duas obras abordadas que vi, me estimulou a escrever mais detalhadamente sobre ela. Foi mais desafiador para mim interpretar o filme e consequentemente estabelecer quais trechos dele destacar neste texto.

Série e filme

O filme Marolas foi construído com cenas e trilhas sonoras da série Marola, ambos sob a direção de Celso Brandão, a justaposição entre as imagens e os sons foi construída provoca narrativas distintas em cada um destes formatos. 

É perceptível no filme o uso do recurso de fusão como transição entre as imagens, esse recurso também foi utilizado na série de forma mais pontual. Na série é possível contemplar mais peças da coleção de obras de madeira mantida por Celso Brandão do que no filme. A presença das obras de madeira que têm formas de humanos ou animais provocam a sensação de que muitos daqueles seres nos observam, estão conosco e com o ser mascarado naquele “cosmo”.

Pela dinâmica construída na série entre as ambiências propostas, combinação entre elementos, personagens e o registro de percursos pelo “cosmo”, foram criadas conexões para estimular a observação do espectador junto ao “cosmo” e o ser mascarado, através do deslocamentos de objetos, corpos e narrativas em vários dos episódios.

A dinâmica construída pelo filme é mais contemplativa, seja o ser mascarado quem observa ou o espectador, num mergulho em que as imagens vão se misturando para provocar uma imersão naquele “cosmo”. A mudança na ambiência é provocada de forma mais latente pela presença dos tiradores de coco no filme em meio ao mangue e o mar.

Na série o ser mascarado observa os tiradores de coco no episódio final, no final não temos mais a percepção de que os tiradores de coco estão sendo observados pelo ser mascarado, pois vemos o ser mascarado já ao final da sequência, seguido do retorno ao mangue e ao mar. 

Sobre Larissa Lisboa
É coidealizadora e gestora do Alagoar, compõe a equipe do Fuxico de Cinema e do Festival Alagoanes. Contemplada no Prêmio Vera Arruda com o Webinário: Cultura e Cinema. Pesquisadora, artista visual, diretora e montadora de filmes, entre eles: Cia do Chapéu, Outro Mar e Meu Lugar. Tem experiência em produção de ações formativas, curadoria, mediação de exibições de filmes e em ministrar oficinas em audiovisual e curadoria. Atuou como analista em audiovisual do Sesc Alagoas (2012 à 2020). Atua como parecerista de editais de incentivo à cultura. Possui graduação em Jornalismo (UFAL) e especialização em Tecnologias Web para negócios (CESMAC).

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