Crítica: Relato número um (dir. Elizabeth Caldas)

Texto: Emanuella Lima. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: divulgação.

Relato número um, Direção: Elizabeth Caldas, Híbrido, 8 min e 6 seg, 2020

Narrativa de um corpo perseguido

O diálogo que se constrói em meio ao movimento é uma forma gritante de dizer “eu estou aqui”. Quando Elizabeth, uma mulher gorda, se impõe e fala sobre suas inseguranças e todos os dilemas vividos por causa de seu corpo, ela consegue de forma muito ampla alcançar não somente os cantos da casa que são preenchidos por seus passos, mas também nossos ouvidos, coração e pensamento. De fato somos abraçados. 

Ficamos ali, estagnados em meio a uma pandemia que teve começo, mas sem certeza do fim. Dentro de casa, naquele mundo que tem nosso jeito e a forma que achamos menos árdua de se viver e ainda sim estamos no caos. A narração que costura partes soltas de uma sociedade doente, logo ressoa na frase “grupo de risco”, não se pode sair, estamos em quarentena, isolados. Mas isolado é como um corpo gordo costuma ficar socialmente e vai além de sua existência não cabe apenas no peso, mas no fato de ser mulher. 

Foi aí que ela conseguiu de forma ampla e nenhum pouco subjetiva arrematar aquele espaço, seu relato número um, tem milhões de adeptos, não é apenas um local, são vários espaços preenchidos pela fala, pela exaustão e pela incoerência social, o que causa estranhamento e ao mesmo tempo esclarece tanto daquilo que nunca foi dito. E claro, a narrativa provoca a existência, desestabiliza o conceito do corpo perfeito. 

Texto realizado como exercício da Weboficina de Crítica Cinematográfica

Be the first to comment

Leave a Reply

Seu e-mail não será divulgado


*