Texto: Rosana Dias. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: Circuito Penedo de Cinema - Kamila Rafael e divulgação
14º Festival de Cinema Brasileiro de Penedo | Circuito Penedo de Cinema – Dia 03 – 24/11
No terceiro dia do Circuito e a primeira noite de exibições do 14º Festival de Cinema Brasileiro de Penedo, tivemos cinco filmes exibidos, os quais abordaram sobre o tempo, a memória e conflitos internos. As sessões presenciais estão sendo realizadas na Tenda de Exibições montada na Praça 12 de abril e com capacidade para mais de 400 pessoas.
O curta metragem As vezes que não estou lá, de Dandara de Morais (PE), ficção pernambucana, direção de Arte de Lia Letícia, nos mostra a jovem bailarina e dançarina Rossana (interpretada por Dandara de Morais) em suas vivências e limitações impostas pela sociedade. Como se adequar ou como sair dessas adequações sem ser ferida? A jovem protagonista mergulha no que ama, a dança, mas esse amor às vezes falha, como algo que perde o sentido, sua busca é constante. Um retrato de uma sociedade que insiste em padronizar jovens e os adoece. Há no filme informações sobre a quantidade de jovens que cometeram suicídio, sendo em sua maioria jovens negros e pobres.
O curta mostra jovens que saem do padrão imposto, jovens da sociedade atual, que transgridem, se impõe, mesmo com estigmas e ainda que transpassando por diversos problemas como ansiedade e depressão.
Endless Love, o documentário de Duda Gambogi (RJ), faz uma intercalação entre ficção e realidade. Tendo como ponto chave a música internacional, mostra personagens que buscam a fuga da realidade por meio do canto. Pessoas diversas, locais diversos. As músicas cantadas em inglês, e um universo onírico. Lembranças de um passado.
O tempo, registrado de diversas formas, é o cenário de Endless Love, ele não se apressa, seus personagens estão ali, na espera de algo, uma canção após outra. O karaokê é o ponto de encontro, mas principalmente o local da busca, e não se trata apenas da música pedida, ou cantada, mas de se expor, de ter os olhares sobre a pessoa que canta, que performa. Direção de arte de Lidianne Carney, fotografia de Débora Vieira.
Em Zélia, o diretor Lucas Menezes (SE) registra os momentos de retirada dos objetos do apartamento de sua avó materna, dona Zélia, que se encontra acometida pelo mal de Alzheimer, e que passa a morar com uma de suas filhas.
O documentário se inicia mostrando que é um vídeo caseiro, como a se desculpar pelo formato. Lucas nos mostra o apartamento de sua avó, nos leva em cada cômodo, vemos a coleção de bonecas dela, as louças, sua bíblia com as flores secas que foram deixadas há 30 anos pelo seu filho falecido, o tio de Lucas. Uma casa cheia de memórias e de alguém cuja memória estava se esvaindo. A carta encontrada, na qual o avô de Lucas falava para dona Zélia sobre a filha fora do casamento também é um dos achados dentro do apartamento. Local que será esvaziado, suas lembranças serão postas em outros ambientes, serão fragmentadas, Lucas, sua mãe e seu pai realizam o ritual da mudança. Enquanto que sua avó, em outra localidade, também se encontra distante, tanto de seus pertences, quanto de sua saúde, que vai se tornando cada vez mais frágil. Para Lucas e seus familiares ficam as lembranças de dona Zélia e de suas lindas bonecas, que não tinham nome, pois sua avó sabia que o tempo a faria esquecer.
No filme Aonde vão os pés, de Débora Zanatta (PR), que também foi um dos selecionados do 9º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, temos duas adolescentes e mais outras duas mulheres, e antes temos uma narração, fotografias de crianças e um relato de uma delas, da criança que se tornou mulher, aquela que se via diferente, a de gostos que se diferenciavam dos de sua irmã, que tomou outro rumo, seguiu em busca de outro caminho, e se distanciou dos familiares.
A trama segue com a aparição das duas adolescentes que jogam bola vestidas de uniforme na cor azul. Um bar, uma sinuca, um karaokê, pessoas que ali estão a se divertir. Mulheres de diferentes idades que se relacionam, demonstração de afetos e amizades.
A direção de arte é de Gabriela Olivo, maioria da equipe do filme é formada por mulheres.
Inicia-se em ordem cronológica com os debates políticos das eleições, de 2018 a 2020 em Porto Alegre (RS). Ana, uma das personagens tem visões acerca de seu irmão, imagens que ela carrega consigo, mas que não se permite falar sobre. O ano de 2019, com o Brasil sob nova administração e a inquietude social.
Com ambientação escura, e trabalho de luz e sombra. Um contraponto, seria assim que Ana se vê? Ou como vê a situação à sua volta? A cidade, o tempo, as pessoas, o olhar sobre Porto Alegre, planos abertos e planos fechados. Janelas e o olhar de quem está, ora fora, ora dentro. Construções, fragmentos do dia a dia. As notícias jornalísticas ao fundo. Angústia. Som de fundo com falas do filme de Glauber Rocha, O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, assim se compõe O fantasma da rua 3 de Novembro, como um cavalo de carrossel de algum parque de diversões, que ficamos ali a ver o seu movimento e esperando o momento certo para montar.
As mostras serão tanto no formato online quanto no presencial. A programação completa do Circuito poderá ser vista no site circuitopenedodecinema.com.br Os textos sobre a cobertura do Circuito Penedo de Cinema estarão disponíveis aqui.
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