Cobertura: Festival de Cinema Universitário de Alagoas | Circuito Penedo de Cinema 2º dia

Texto: Emanuella Lima. Revisão: Larissa Lisboa. Imagens: Circuito Penedo de Cinema e divulgação.

O segundo dia do Circuito Penedo de Cinema 2021, teve início com uma série de programações e oficinas, além de apresentações culturais e feira empreendedora. Durante a noite houve a estreia da 11ª Edição do Festival de Cinema Universitário de Alagoas.

Na sala de exibições montada na Praça 12 de Abril, no Centro Histórico da cidade de Penedo, vivenciamos uma sessão que começou de forma tímida com poucas pessoas, mas logo o local se encheu de vida.  Nesse ambiente convidativo pudemos compartilhar aflições e olhares confusos. Foram exibidos quatro curtas-metragens e o longa Fim de Festa, que contou com a participação e debate dos diretores do filme.  

Respiração ofegante , olhos estremecidos em tons frios, é assim que o filme Azul Piscina (dir. Pedro Fagim) se apresenta. Em uma narrativa meio catfish, Tiago compartilha as sensações vividas em meio a uma busca desenfreada por afeto. No dia a dia, a vida monótona do personagem vai ganhando forma, embrulhando-se em uma caixa de papelão com florzinhas rosas. Dentro daquele objeto havia uma declaração de amor assinada por Karmen e uma calcinha de renda de cor azul. As paixões nutridas por Tiago, logo revelam suas ausências, é dentro do elevador do prédio onde mora que tudo se transforma, ao descobrir quem é sua verdadeira remetente, ele se entrega completamente apaixonado. O filme nos faz pensar sobre  carência, solidão, talvez seja um péssimo momento para falar sobre isso, estamos condicionados a viver relações que só são possíveis na nossa cabeça. Tiago nos faz reconhecer esse estado, que muito já foi falado e visto, mas a sensação que fica é a de que existe o outro lado de tudo que achamos conhecer.

Azul Piscina (dir. Pedro Fagim)

O filme O andar de cima dirigido por Tomás Fernandes da Silva é uma tragédia anunciada, onde uma adolescente “rebelde” vive à sombra de um fatídico acidente que ceifou a vida de um trabalhador. Sem saber ao certo o que vai acontecer, o filme vai ganhando uma nova roupagem ao revelar as realidades obscuras dos personagens. Intrigante e um tanto quanto monótono, o filme constrói sua própria narrativa em cima de uma conjunção de fatos que nos leva a pensar sobre a desigualdade iminente em nosso país.

O andar de cima (dir. Tomás Fernandes da Silva)

Elos da Matriarca (dir. Thor de Moraes Neukranz) é um filme que nos fala sobre amor, cuidado e união. Luzinete, personagem principal da trama, é uma mulher viúva que conseguiu sozinha criar 12 filhos. Com muita alegria, o filme começa com imagens de arquivo de filmagens de natais em família nos anos de 1995 e 2005, na qual a jovem senhora apresenta seus filhos e netos com a voz embargada e cheia de emoção, Luzinete agradece pela vida dos seus. Após 25 anos, e em meio a pandemia da Covid-19, dona Luzinete tenta ignorar a doença, mas ela e sua amiga são atingidas pelo vírus. Quando a infecção chega tudo muda de lugar e só o amor e a vacina conseguem unir essa família novamente. O filme acentua duas problemáticas do nosso país, a falta de credibilidade na ciência e a divulgação de fake news, mesmo com o vírus se espalhando rapidamente pelo mundo e com tantas vidas ceifadas pela doença, centenas de brasileiros se recusaram a levar a pandemia à sério, diminuindo sua gravidade, realizando “tratamentos precoces”, o que nos levou à crise sanitária e ao isolamento social. O trabalho produzido pelo cineasta Thor de Moraes, é importante para nos fazer pensar sobre o que nos foi tirado com o vírus e sobre esse sistema que anula o outro por se tratar de algo considerado distante.

Elos da Matriarca (dir. Thor de Moraes Neukranz)

O último filme e o único alagoano exibido no primeiro dia do Festival de Cinema Universitário foi o curta Rua Humberto Lopes: a rachadura de uma comunidade dirigido por Mark Nascimento que conta a história de duas mulheres vítimas da desigualdade social que as levou a deixar suas casas por conta das enchentes recorrentes na cidade de Flexeiras, localizada na Microrregião da Mata Alagoana. Nos relatos das mulheres, elas relembram o momento em que deixaram sua moradia em uma fazenda e passaram a morar na rua, o povoado se estruturou à margem direita do rio Jitituba, quando o inverno chegava a região era atingida pela enchente. Recentemente as famílias passaram por um período de realocação devido aos grandes riscos causados pelas chuvas no povoado. O descontamento relutante em suas falas ainda soam como solução plausível para o caos e apesar de tudo elas mantém a esperança do retorno estrutural do lugar.

Rua Humberto Lopes: a rachadura de uma comunidade (dir. Mark Nascimento)

As mostras serão tanto no formato online quanto no presencial. A programação completa do Circuito poderá ser vista no site circuitopenedodecinema.com.br  Os textos sobre a cobertura do Circuito Penedo de Cinema estarão disponíveis aqui.

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