Texto: Larissa Lisboa
Entre os privilégios que eu tive como analista de audiovisual do Sesc Alagoas, testemunhar a criação da Mostra Sesc de Cinema está entre as vivências que mais somaram para a minha formação profissional.
Conexão que se dá desde o meu primeiro ano na instituição, pois foi também em 2012 que a Mostra começou a ser gestada. Foi inspirada neste desejo de construir uma mostra com participação de todos os estados do país, que eu me provoquei a criar a Mostra Curta Alagoas em 2013, momento no qual foram exibidos 27 filmes alagoanos de 48 realizadores pela madrugada no Sesc Poço em Maceió-AL.
Como a premissa do projeto da Mostra Sesc estava embasada em contar com os analistas de cultura, em específico de audiovisual nos estados que os tivesse, como coordenadores, curadores e produtores da Mostra, houve investimento em capacitações à distância que estimulassem a formação interna dos funcionários, em cursos como: “Aspectos Relevantes para Análise de Filmes” (2013) e “Crítica do Cinema por Dentro” (2017). Além de visitas mediadas a Mostras e Festivais como Festival do Rio, Anima Mundi, Mostra de Cinema de Tiradentes e Festival de Cinema de Brasília.
Antes de nascer a Mostra Sesc de Cinema foi apresentada para os funcionários de cultura do Sesc pelo país e em específico de audiovisual, em alguns formatos que foram sendo lapidados e adaptados a partir de trocas, adaptações e burocracias.
As retomadas nos preparativos e diálogos sobre a Mostra Sesc de Cinema me provocavam e estimulavam, foi também inspirada nela que busquei propor ao Sesc Alagoas licenciar um filme alagoano por ano como parceria junto ao Júri Popular da Mostra Sururu de Cinema Alagoano, o qual articulei e produzi como analista de audiovisual do Sesc Alagoas entre 2013 e 2018.
Assim foram licenciados e distribuídos para as coordenações de cultura do Sesc em todo o país os filmes alagoanos: Mwany (2013, dir. Nivaldo Vasconcelos), Guerreiros (2014, dir. Arilene de Castro) e Tororó (2015, dir. Celso Brandão).
Assim como o Edital de licenciamento de filmes alagoanos em 2016, também inspirado na Mostra, que realizou o licenciamento dos poucos curtas que atenderam à convocação.
A Mostra Sesc de Cinema já pulsava no meu imaginário e expectativa, por isso, foi uma realização poder dar início ao processo de sua primeira edição em 2016 e divulgar que estavam abertas as suas inscrições.
Como acompanhava a Mostra Sururu e contemplara edições dela com 15 a 20 filmes alagoanos em média, tinha a expectativa de ter pelo menos duas dezenas ou mais de obras alagoanas inscritas, visto que a primeira edição da Mostra Sesc de Cinema convocava filmes de curta e longa duração dos 26 estados do país e do Distrito Federal, e na maior parte desses lugares filmes realizados a partir de 2015 (curtas) e 2013 (longas).
Tanto na primeira quanto na segunda edição da Mostra Sesc de Cinema, Alagoas contabilizou 12 filmes habilitados e exibidos. Foi gratificante poder reconhecer e exibi-los, mesmo sentindo que poderia ter exibido pelo menos o dobro de filmes alagoanos.
A vivência das duas primeiras edições da Mostra Sesc de Cinema enquanto coordenadora, curadora e produtora foi intensa e repleta de aprendizados. Cada estado tinha autonomia para compor suas comissões de seleção, em Alagoas a composição era com uma jurada externa, junto a duas analistas de audiovisual, Rosana (Arapiraca) e Larissa Lisboa (Maceió).
Após a curadoria estadual habilitar e programar os filmes a serem exibidos em cada estado, havia a reunião dos filmes indicados por cada estado de cada uma das regiões do Brasil (até seis filmes por estado) para formar o conjunto de filmes que seria analisado pela comissão de cada região, composta pela junção dos coordenadores da mostra. No meu caso, junto aos demais coordenadores de cada estado do Nordeste, pude ter acesso e analisar filmes dos nove estados e somar na seleção de seis filmes da região para licenciar e exibir nas edições da Mostra Sesc de Cinema em 2017 e 2018 em todo o país.
Em 2018, pela primeira vez, um filme alagoano foi destacado pela curadoria da região nordeste e foi inserido na Mostra Nacional da Mostra Sesc de Cinema, Os Desejos de Miriam (2017, dir. Nuno Balducci).
O formato da Mostra a princípio estabelecia o Panorama Estadual como uma etapa a ser realizada em separado do Panorama Nacional, até que em 2019 foi proposto que tanto os Panoramas Estadual quanto a Nacional fossem realizados em simultâneo. Outro diferencial da terceira edição foi em relação a duração dos filmes, que se tornou ampla, convocando filmes brasileiros de todas as durações (curtas, médias e longas). A estrutura interna do processo de curadoria foi mantida, com as comissões estaduais e as comissões por região.
Compreendendo que a terceira edição da Mostra Sesc de Cinema poderia culminar como uma espaço de formação dos realizadores e do público, o departamento nacional do Sesc, realizou na cidade de Paraty-RJ a sua terceira edição, de 02 a 09 de novembro de 2019, composta por exibições, oficinas, debates, bate-papos e palestras.
Tive o privilégio de presenciar a realização da Mostra em Paraty, no entanto, por questões burocráticas, só me foi permitido estar lá no período que foi realizado o encontro de técnicos de audiovisual do Sesc de 02 a 07 de novembro de 2019, em paralelo a Mostra.
Uma iniciativa da produção da Mostra Sesc de Cinema também foi no sentido de convocar críticos de todas as regiões do Brasil e garantir para essas pessoas hospedagem, transporte e alimentação mediante o acompanhamento do evento. De Alagoas, Leonardo Amaral foi convidado para representar o Alagoar em Paraty.
A terceira edição da Mostra Sesc de Cinema contou com 26 filmes alagoanos habilitados e exibidos no Panorama Estadual. Contou também com o filme Tipoia (2018, dir. Paulo Silver) na Mostra Nacional.
Paulo Silver e outras pessoas dos filmes dos Panoramas Nacional e InfantoJuvenil foram convidados a acompanhar a sua terceira edição em Paraty, além de receberem espaço para falar do seu filme na programação da Mostra.
A inserção de ações formativas como parte do projeto da Mostra Sesc de Cinema, visou estimular também que os estados realizassem oficinas em meio ao mapeamento de trabalhadores do audiovisual brasileiro proposto na inscrição da terceira edição da Mostra.
E eu abracei também essa provocação, realizando dois cursos em Maceió dentro do projeto da Mostra Sesc de Cinema, uma com Paulo Silver (Exercícios da Montagem) e outra com Nuno Balducci (Mise-en-scéne).
Acabei não me debruçando em relação a contemplar também o Panorama InfantoJuvenil porque pouco ou nada participei da habilitação e curadoria destes filmes.
Devido a pandemia de Covid-19, a quarta edição da Mostra Sesc de Cinema só veio a ser realizada em 2021, a qual não contou com a participação do Sesc Alagoas, o que inviabilizou que filmes de pessoas residentes no estado estivessem na edição.
A ausência de Alagoas na quarta Mostra Sesc de Cinema foi e é algo que eu ainda tenho dificuldade de assimilar, creio que este fato seja compreensível se você se permitiu conectar com o que eu compartilhei até aqui.
Encerrei o meu ciclo no Sesc Alagoas há mais de um ano, mas não encerrei o meu apreço e afeto por projetos como a Mostra Sesc de Cinema. Foi justamente porque vi a sua quinta edição abrir inscrições que me deu vontade de escrever e compartilhar sobre a minha vivência nela. E reverberar que agora tanto eu como qualquer outra pessoa residente em Alagoas pode ocupá-la com seus filmes.
Mais informações sobre as edições do Panorama Estadual em Alagoas aqui
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