Texto: Marcius Antonio de Oliveira. Arapiraca-AL. Revisão: Larissa Lisboa
Mostra Navi de Cinema Arapiraquense
No Raiar do dia, uma Avalanche da Besta Fera, feito broto de Ana Terra em Raízes de Arapiraca, assim foi a primeira noite de exibições do I Festival de Cinema de Arapiraca.
Com a exibições de 5 curtas genuinamente arapiraquenses, mas com participações externas, a Mostra Navi de Cinema Arapiraquense demonstrou a força e promoveu uma overdose “potente” (Wagno, 2022) de cultura de Alagoana, em diversas formas e linguagens, sob olhares atentos de realizadores e espectadores do audiovisual local.
Poderia desafiar qualquer um de nós a apresentar ou propor uma estreia tão simbólica e significativa para este Festival. Uma palavra de ordem para este dia foi: VIDA LONGA PARA O FESTIVAL!
Os cinco curtas.
Raiar (Wélima Kelly)
Sob o olhar de Wélima Kelly, uma (Não) arapiraquense, a Mostra Navi pariu, oficialmente, o Festival de Cinema de Arapiraca. O filme Raiar destaca, com louvor, aquela que ainda é uma das maiores tradições de Arapiraca, a Feira Livre em sua fase ciclicamente embrionária, ainda nas madrugadas, no amanhecer de todas as segundas, nasce a feira de Arapiraca, forte, resistente e marcante. Retratando o cotidiano de trabalhadores anônimos que dão vida e sustentabilidade para a economia do município.
Ana Terra (Direção Coletiva)
Ana é pura ousadia, puro talento. Fruto de uma oficina do NAVI Arapiraca, o documentário transmite com leveza a importância do respeito e da dignidade humana a partir de histórias de uma prostituta folclórica em Arapiraca.
Ana Perninha é uma figura ímpar que, durante anos, perambulou a cidade com suas aventuras e ajudou a construir identidade cultural das pessoas com quem se relacionava, sempre eclética e globalizada para o município.
Chacrinha, o Velho Guerreiro da Globo, circulava o Brasil com seu Show de Calouros com seus abacaxis e sua buzina resenheira para aquelas interpretações pitorescas. Ana enfrentou o desafio e ganhou o prêmio superando as seletivas interpretando artistas como Joana e Belchior. Afinada e antenada, canta ainda trechos de Mandona, A-ha e Amy Winehouse. Esplêndido.
Raízes de Arapiraca (Ricardo Nezinho)
Realizado pelo deputado estadual Ricardo Nezinho, a série é apresentada, segundo o deputado, como o maior registro etnográfico do mundo com mais de 200 documentários retratando arapiraquenses natos, ou que adotaram a cidade para a vida.
Muito provavelmente Dora Terezinha impactou todos, todas e todes com sua história emocionante de uma mulher que fugiu de casa aos 18 anos para morar em São Paulo com o amor da sua vida. Enfrentou desafios e contrariou a lógica se tornando uma mulher caminhoneira. Destaque para o relato do sustento da família após a perda precoce do marido, também caminhoneiro, em um acidente.
Linda e impactante história.
Avalanche (Leandro Alves)
Curta de ficção, Avalanche nos remete à reflexões contemporâneas para cidades interioranas e seus dilemas sociais, familiares e de valores.
O curta se desenrola em um núcleo familiar, no qual o pai cobra do filho respostas para as condições sociais que enfrentam. Com cenas que provocam o espectador a se posicionar, o filme aborda temas muito interessantes como cultura, trabalho, adolescência, sexualidade e violência.
Besta Fera (Wagno Godez)
Também um curta de ficção, Besta Fera explora uma história marcante de uma família sertaneja e “bastarda” que acolhe um andarilho e se vê questionada sobre as condições que estão submetidos. O filme retrata, ainda que não aceitemos como comum, muito da cultura e dos costumes machistas, escravocratas e coronelistas institucionalizados e tolerados até hoje na sociedade.
Mãe e filho moram forçados numa pequena casa dentro de uma grande fazenda do “Coroné” que os mantém presos sob violência e medo, praticamente escravizados. Como cenas fortes com final magnífico. Besta Fera está disponível no Canal Brasil.
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