Crítica: Avalanche (dir. Leandro Alves)

Texto: Jaiane Karoline Guilherme de Oliveira. Revisão: Chico Torres.

Este curta arapiraquense se debruça sobre uma tragédia iminente. Desde as primeiras sequências na tela, alguns elementos preparam sutilmente o público para o que está por vir, feito para os olhos e ouvidos mais atentos. Sim, ouvidos também, pois a trilha sonora pontualmente tensa acompanha as cenas e completam o ar de suspense da trama.

O prenúncio do filme vem desde o próprio nome da obra até as cenas finais, o que foi possível com o uso de recursos, como o som, a velocidade reduzida à lentidão em alguns planos, além de imagens que parecem aludir a maus agouros. Foi o caso das cruzes em um cenário seco e sem pessoas, como um lembrete, quem sabe, de que estamos todos condenados à morte e que as almas cristãs costumam ser veladas pelos entes queridos; outra passagem de presságio são os vasos estilhaçados ao lado de uma santa, resquícios de violência ou descuido. É mostrado também abelhas no favo de mel, em um objeto metálico e pendente, dentro do que parece uma capela abandonada, a câmera pousa ali durante um tempo considerável, suscitando uma calma que antecede o desastre.

No entanto, a cena de anúncio que mais me chama atenção é a da figura preta com cajado na mão que baila em câmera lenta por entre o plantio, fazendo uma referência à imagem do ceifador, surgida como Ankou, o “guia de almas”, no folclore celta e largamente difundida até os dias atuais como o representante da morte próxima. Sua capa preta simboliza o pesar.

Para além das imagens que traduzem indícios do que viria a acontecer, houve a utilização de foreshadowing, que funciona como um mecanismo para implantar alguns elementos ou objetos ao longo da narrativa para insinuar eventos futuros sem que o telespectador decifre de imediato, contudo, quando retomados na história, aparecem relacionados a fatos significativos. O principal item posto em foreshadowing em Avalanche foi a arma. O objeto é comprado pelo pai de Pico, no mercado público da cidade, como tentativa de defesa contra possíveis invasões e assaltos que pudessem ocorrer na residência da família novamente, e reaparece no desfecho, encerrando os acontecimentos.

A tragédia anunciada presente neste arco dramático não diminui em nada as expectativas durante a experiência em assisti-la, pelo contrário, agrega ainda mais ao roteiro a partir do momento em que envolve o público nesse cerco de suspense e drama trazidos na obra.

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