Crítica: A Porta (dir. Robson Cavalcante e Claudemir Silva)

Texto: Leo Pimentel. Revisão: Chico Torres e Larissa Lisboa.

A grande metáfora do tempo é a sua relatividade.

O tempo nunca é igual para as pessoas. Aquele que aguarda por alguém sentado numa cadeira não tem a mesma sensação do tempo de amantes que estão juntos. A grande sacada da vida é saber aceitar o tempo como um intermediador das nossas ações do presente e frustrações do passado, ponderando o que queremos ou não do futuro. O ser humano, eternamente insatisfeito, tende a temer o tempo exatamente por saber que não pode controlá-lo.

A Porta é uma reflexão bem humorada, mas sem deixar de ser cortante e, de certa forma, caricata em algumas situações, da cultura de comemorar os aniversários, mesmo sabendo que a cada ano ficamos mais velhos e consequentemente mais perto da morte. É exatamente aí que Robson Cavalcante e Claudemir Silva acertam, invertendo a sistemática da vida, com criatividade e sarcasmo, fazendo com que os personagens entrem numa DR depressiva cada vez que o aniversario se aproxima, chega e passa. São dias de sofrimento e angústia, apresentados com cenas bem dirigidas, que fazem o público rir com o ridículo das situações de profunda aversão ao dia do aniversário.

A Porta começa com um apresentador de uma rádio local, com forte sotaque nordestino e músicas características da região, relatando vários casos de suicídio devido ao dia do aniversário. Logo depois, um jovem chega de moto na casa do amigo (que por sinal está triste e de cama por causa do dia do aniversário) e, como de costume, entrega várias cartas para a mãe do aniversariante com depoimentos nada animadores.

Um ponto forte do filme é o dialogo dos amigos numa praça, falando da dificuldade de se explicar a uma criança sobre essa cultura de não se gostar do aniversário. Um ponto que deixa a desejar é a subjetividade de algumas cenas que não acrescentam em nada à narrativa da história.

As justificativas apresentadas para as reflexões dos personagens se confundem com a própria objetividade do que se quer discutir no filme, ficando claro em algumas situações, mas confusas em determinados momentos. Mas, talvez tenha sido de propósito. Deixar que o público tire as próprias conclusões sobre sua visão do tempo.

A Porta, em sua cena final, com um velho de cabelos brancos sentado à espera de algo, em frente a um plano branco que aos poucos se desenha ao longe sob o olhar do público à apresentação de uma porta, deixa mais uma vez a reflexão da metáfora do tempo: imparcial, impiedoso e sorrateiro. Mas, sempre deixando em nossas mãos a possibilidade de decidir de que forma decidiremos viver a nossa vida.

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