Texto: Beatriz Vilela. Revisão: Chico Torres.
Sobrenome Liberdade
Em meio a aridez do sertão alagoano, Flora e seu filho Mariano vivem em um cenário marcado pelo domínio do poder coronelista. Desafortunados e subjugados, eles dedicam-se a cuidar da terra e dos bichos, até que a chegada de um cangaceiro altera completamente a dinâmica de seus cotidianos. A trama ganha um desenrolar instigante com o acolhimento do cangaceiro pelo jovem, que mesmo a contragosto de sua mãe abre caminho para um golpe do destino.
Paulatinamente Flora vai revelando as camadas de seu olhar triste, sua condição de mulher sofrida, amargurada pelo modelo patriarcal, cansada de lutar contra essas amarras, tudo isso me causou empatia. Torci para que Flora tivesse esperança na mudança. A personagem cresce ao longo do filme. Assim como seu filho, que de menino teimoso vai se mostrando um rapaz altivo e corajoso.
Portando poucos objetos, o cangaceiro Fonseca parece expressar suas andanças e lutas mundo a fora. Sob a luz do luar e do candeeiro oscilante, sua voz dá vida às aventuras do cangaceiro Besta Fera do cordel. Esse ponto é muito importante para a narrativa, pois a partir dele Mariano passa a ter uma nova tomada de ação. As estórias do cordel florem em uma terra fértil, e fazem desabrochar no coração de Mariano um novo cangaceiro, que sob as bênçãos e maldição do cangaceiro ferido, se encoraja e toma uma decisão importante.
De bastardo a herói, Mariano conquista sua liberdade e a de sua mãe. O vermelho do sangue do coronel, seu pai, trouxe vida para toda aquela sequidão. Vida também nasce com a morte. Liberdade se conquista com coragem. Esse talvez seja o legado da passagem do cangaceiro pelas terras secas habitadas por Flora e Mariano.
Wagno Godez acertou na paleta de cores, no cenário acinzentado, que potencializou o sofrimento e a tristeza dos dias secos. Outro acerto foi na composição do elenco, a verdade de seus corpos, o figurino e o diálogo preciso concatenaram a dramaticidade que a narrativa apontava ter. O resultado dessa incrível atuação foi a premiação de melhor performance concedida ao trio, pelo júri da IX Mostra Sururu de Cinema Alagoano.
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