Revisão: Larissa Lisboa. Foto: Vanessa Mota.
Terça-feira 10 de dezembro de 2019. O sol tocava a pele de quem chegava a casa número 247 da Rua Godofredo Ferro ou Casa Sede. Eram atrizes, atores, diretores, diretoras, roteiristas, montadores. Ao cruzarem o portão principal de madeira eles na verdade atravessavam um portal que após os degraus coloridos de pedra dava lugar a um mundo todo novo dentro e fora de cada um que ao longo dos dias iriam descobrir. Salto no vazio – oficina de des/programação de atores para cinema foi o nome da oficina ministrada por Flávio Rabelo, doutor em artes da cena (2014/UNICAMP/FAPESP), artista transdisciplinar e preparador de elenco dos filmes A sombra do pai, Serial Kelly, O cortejo e Cavalo, durante a 10ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano em Maceió. Mas pra qualquer que seja o salto é preciso preparação.
Dia 1: Aproximação.
Cada um ali presente foi convidado a se virar do avesso. Encher e esvaziar até a última partícula de ar. Passar pelas paredes das histórias inventadas, esquecidas, dos clichês e se despir na banheira dos pudores. Arrudiar a si mesmo, à quem está ao seu lado, às situações criadas. Entender o dentro e fora como uma Fita de Moebios. Encontrar suas feridas. Entender o que as movimentam e o que seu movimento impulsiona. Se autodiagnosticar.
Dia 2: Impulsão.
De pé em frente a outra pessoa. Primeiro o olhar, segundo o toque, terceiro a fala. Trocas rápidas e simultâneas. Em conjunto e sozinhos percorreram todos os espaços dessa casa. Sede de diálogo aberto e um jardim de dúvidas pronto a receber tudo que ainda não parecia ter encontrado seu caminho. Pesquisa interior, construção de ações, escolhas.
Dia 3: Voo.
Dia do Salto. Da beira da plataforma com coragem eles e elas se lançaram, se permitiram ser guiados por aquilo que os move e pelo que esse voo movia. Ocuparam cada pedacinho da sede das mudanças. Claquetes soavam no silêncio e câmeras tentavam captar cada intenção que planava no ar. Ar esse composto por partículas de respeito, cuidado, carinho, atenção e generosidade.
Dia 4: Aterrissagem.
Quando os dois pés pisaram firme novamente no chão eles puderam se ver de outro ângulo. Falar o que sentiram antes e depois desse voo. Ouvir onde, como e o que cada voo moveu naquele grupo. Enxergaram que tudo é caminho e que em determinados lugares o senso comum de certo e errado não cabe. Assim, como se autojulgar também não. Deixar fluir e aproveitar a jornada.
Com sorrisos nos rostos depois de muitos abraços afetuosos e apertados cada um descia os degraus de pedra coloridos, atravessava o portão de madeira de volta ao sol tocando suas peles. Mas as peles que esse sol tocava já não eram mais as mesmas que cruzaram o portal pela primeira vez.
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