Cobertura: 10ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano – 4º dia

Texto: Roseane Monteiro e Fabbio Cassiano. Revisão: Fabbio Cassiano e Larissa Lisboa. Foto: Vanessa Mota.

O quarto dia da Mostra Sururu de Cinema Alagoano se destacou pela diversidade no quesito gênero cinematográfico. Foram exibidos filmes experimentais, ficções e documentários de maneira mais equilibrada no decorrer dessa sessão. As histórias apresentadas perpassam por Arapiraca, Teotônio Vilela e Maceió. Ressaltamos a tríade de filmes protagonizados por mulheres em Vamos Ficar Sozinhas, Herdeiras e Ana Terra, cada qual a sua maneira, contribuindo tanto para um processo de reflexão sobre a representação da mulher quanto no imbricamento entre gênero, etnia e identidade.

Mão de Sangue (dir. Fabrício Medeiros)

Com a proposta de recriar concepções cristalizadas no sentido da linguagem do cinema, o curta-metragem tem como referencial o cinema de horror. Com cortes rápidos, escuridão, mãos e sangue, partindo do discurso bíblico o filme cria esses ambiente.

Vamos Ficar Sozinhas (dir. Leonardo A. Amorim)

O que é o amor na modernidade líquida? E aquelas amizades que construímos quando frequentamos o primário e o ensino médio? Amizade é um laço que escolhemos. Durante a adolescência quando acreditamos que todo dia é o fim do mundo, são nos amigos que encontramos apoio. A escola acaba e cada um segue a sua vida. O filme exibe a relação de duas amigas, onde a distância diminuiu a intimidade. O curta tem um linda fotografia e que fluiu bem a com direção de arte da festa, com quê de Euphoria. A protagonista está à vontade na obra, sendo uma grata surpresa. Acentuamos a importância dessa ficção ter uma protagonista negra pertencente à classe média, visto que ela tem outros conflitos, outra perspectiva de mundo. Contudo, na primeira tomada não conseguimos entender o dilálogo de abertura. E por fim, o roteiro não apresenta fluidez nos diálogos.

Herdeiras (dir. Robson Cavalcante)

Robson Cavalcante se apropria em Herdeiras de uma linguagem cômica, centrada em imagens de mulheres do lar, ou mais precisamente nas trabalhadoras do ambiente doméstico. A capacidade de surpreender através dos superpoderes das personagens gerou risos e também problemáticas. O curta está exaltando o trabalho doméstico feminino? É um elogio por anos dedicados aos afazeres domésticos? O filme é bem conflituoso e o seu terceiro ato se configura de maneira ambígua, essas mulheres entram em um carro no meio do canavial para se libertar ou para continuar usando seus poderes telepáticos para fazer serviços domésticos em uma outra casa?

Colapsar (dir. coletiva)

A obra é ousada no fazer fílmico. O curta-metragem traz para o cinema a movimentação corporal do artista e sua experimentação no Centro da cidade de Maceió. São suscitados inúmeros questionamentos e quebras de paradigmas acerca da arte: O que é arte? Como as pessoas a recepcionam? O que se passa na cabeça das pessoas quando é quebrada a normatividade? O estranhamento em Colapsar é um estímulo para a busca do conhecimento e um convite para a ousadia artística. A beleza da fotografia e a ousadia estética na escolha das imagens e planos, somados ao movimento livre do corpo é um estímulo a explorar outras formas de experimentações artísticas no cinema.

Ana Terra (dir. coletiva)

O filme mais aplaudido da noite, Ana Terra é um documentário que fala principalmente sobre a liberdade feminina, o direito de escolha, de viver a vida que se deseja a pesar das normas sociais e culturais que são impostas diariamente. Ana Terra é um desses personagens da vida cotidiana, que causam estranheza aos adultos, admiração das crianças e que se encontram fora da curva por sua ousadia e originalidade. Ana Terra não traz como rótulo “puta” mas uma mulher livre, independente e que não se curva frente às normas sociais.

Alano (dir. Silvio Leal e Henrique Oliveira)

Alano trouxe para a sessão uma narrativa onde o clandestino, o marginal, o Centro de Maceió, a noite, o cabaré, o sexo e as drogas estão presentes. O filme em preto e branco nesse caso, é usado como uma memória do que aconteceu. O curta-metragem traz algumas reflexões: quem nunca se encantou pelo o “boy lixo” e se meteu em uma cilada? O filme é tecnicamente bem resolvido, mas não abraça em imagens o marginal, ele se estrutura de forma bem limpa. A cena de sexo é bem dirigida, mas a montagem não cria um clímax, por ser tudo fugaz, mas ao mesmo tempo, transmite a sensação de que o filme tem uma duração maior do que a duração total.

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