Cobertura: É Rocha e Rio, Negro Léo (dir. Paula Gaitán)

Texto: Pedro Krull. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: Divulgação.

É Rocha e Rio, Negro Léo é um free jazz em formato documental, ao longo dos seus 157 min Negro Léo, músico multiinstrumentista, casado com Ava Rocha, cineasta e cantora, divaga livremente sobre tudo de geopolítica mundial e brasileira, referências musicais latinas, posicionamento de setores da esquerda com religião e cotas raciais no ensino superior.

O filme abre na visão da calçada para o apartamento com Paula Gaitán fora de câmera dirigindo os personagens na varanda, a diretora então abre o processo, deixa claro o que será direcionado e o que é vida real. Com isso o filme adentra a casa, pede licença, e senta no sofá. Nesse momento em diante o ritmo contemplativo passa a ser conduzido pela preparação de Negro Léo e Ava Rocha a uma viagem para um show na China, infelizmente única sequência de forte presença do corpo e voz de Ava no filme.

Então, enquanto filme está em curso você sente a necessidade de transitar, fechar o olho e dialogar, principalmente pela natureza propositiva de algumas opiniões, e assim interpretei as pessoas que saíram da sessão. Mas com o tempo esse engasgo, vira fluxo e abre o ouvido nos deixando em um estado de transe ouvindo as palavras, hesitações, “éééé”s e “humms”. Tudo vira nota e compõe harmonia.

O clímax desse transe se dá em intervenções musicais à capela de Negro Léo, me lembrou das improvisações de Bobby McFerrin pelo canto difônico – múltiplos sons e notas simultâneas emitidas pelo cantor – e pela complexidade, mas Negro Léo vai além misturando influências de músicas dos povos originários, mantras e puro experimentalismo. O resultado envolto de um trabalho grande de mixagem de som, o som ambiente da cidade e notas de máquina é cuidadosamente costurado dentro das intervenções, é o ápice do filme.

É Rocha e Rio, Negro Léo foi exibido no dia 28 de janeiro de 2020 na Mostra Olhos Livres na 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Confira a programação.

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