Cobertura: Sequizágua (dir. Maurício Rezende)

Texto: Pedro Krull. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: Divulgação.

O tempo dilatado do cerrado no interior de Minas Gerais mastiga a vida dos assentados que aguardam a vinda da chuva, hoje escassa pela invasão de  monocultura de eucalipto na região, a temporalidade do filme se assemelha ao O Cavalo de Turim (dir. Béla Tarr), com muitos planos longos os dois filmes tecem lentamente uma promessa de dias melhores que tardam a chegar. Porém, Sequizágua (dir. Maurício Rezende) não carrega um elemento dramático dinâmico como uma ventania forte, que é o caso do filme húngaro, aqui a seca exerce uma presença cruel definhando pela ausência de catarse, o que torna o longa um pouco cansativo e desafiador.

O processo do filme, construído em conjunto com a população, cria uma relação complexa na estrutura e uma faca de dois gumes se desenha quando o contrato feito antes das filmagens entre as duas partes – equipe e personagens – exerce a sua cobrança: o filme abre e termina com um discurso político-ambiental explícito, destoando do restante do filme introspectivo, mas que após reflexão é o momento de maior vitória na disputa de comunicação política para este povoado.

O filme, desnorteado pela quantidade de narrativas abertas, gera uma sequência cansativa de resoluções individuais de arcos dramáticos e temáticos. E é um desses “falsos finais”, encerrando um arco de êxodo rural da juventude, que reside em um dos melhores planos do filme, a partida de uma jovem na moto para São Paulo, com um trabalho lindo design de som compondo a natureza aterrorizante engolindo as esperanças e horizonte da jovem.

Sequizágua foi exibido no dia 27 de janeiro de 2020 na Mostra Aurora na 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Confira a programação.

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