Aí, meu média!

Texto: Rastricinha Dorneles. Revisão: Larissa Lisboa.

Os projetos audiovisuais tem uma característica linda: captar o tempo para construção de uma experiência narrativa. Filmes conseguem em algumas horas contar histórias de uma vida inteira. O tempo é um dos fatores mais importantes do ecossistema do audiovisual. 

Em 1992 a Lei 8.401 já definia o curta-metragem como o filme “cuja duração é igual ou inferior a 15 minutos”. A média metragem: aquela cuja duração é superior a quinze minutos e igual ou inferior a setenta minutos. Essa linguagem é mais utilizada em projetos seriados ou com destino televisivo.

Produzir um média metragem é um risco sem um contrato com a exibidora desse projeto. No mundo inteiro a porta de entrada é o curta metragem, não existindo uma demanda expressiva de festivais para médias. Limitando sua capacidade de distribuição e por vezes impedindo que o recurso investido retorne para sociedade.

A aposta de descentralização dos recursos vista na Lei Paulo Gustavo foi excelente, mas conseguimos identificar um problema na compreensão dos municípios em como assimilar o recurso e fazer dele o melhor uso possível. Muitos municípios lançaram editais de média metragem. Como trouxe no texto, a legislação brasileira compreende o curta de uma forma específica, mas médias metragens com até 30 minutos são considerados na participação dos festivais de curtas, mas por ocupar uma longa janela em sua programação, tem mais dificuldade na sua seleção.

Muitas cidades utilizaram o recurso da Lei especificamente para produção de médias metragens. Hoje o Brasil produz mais filmes que ele tem conseguido exibir. Tivemos uma grande vitória na provação recente da continuidade das cotas de tela, mas no próximo ano o Brasil irá produzir um número expressivo de obras e precisamos desde de já pensar o que faremos com esse tesouro.

Já temos aprovado recursos para fomentar a produção cultural, incluindo nossa indústria, durante os próximos quatro anos. Devemos aprender com os erros da implementação da Lei Paulo Gustavo para não transformar uma vitória em um problema.

Não entender as especificidades desse mercado faz com que muitas vezes não se entenda o real valor do curta-metragem e isso gera uma matemática ignorante, quanto mais tempo de filme, mais dinheiro na produção. Só que o curta é um investimento mais seguro para cidades que os produzem e tem uma importância gigantesca nas transformações desse ecossistema, pertencente não só da cultura, como também da economia criativa.

É urgente a criação de film commission regionalizadas, que conseguem tanto entender das demandas locais, quanto da lógica desse ecossistema de natureza internacional. É preciso cuidar da nossa casa, reconhecer a importância de jogar com o mercado, para desenvolvimento do mercado interno, fortalecendo todo o globo. Para que não tenhamos o risco de ter nossa produção ignorada pelo público. Como Leon Tolstói escreveu “Se queres ser universal começa por pintar a tua aldeia”.

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