Texto: Mirosmar da Silva, discente de Arquitetura e Urbanismo, UFAL Arapiraca. Revisão: Larissa Lisboa
O curta Ela, de Nivaldo de Vasconcelos, transmite com delicadeza e de forma íntima ao espectador, a sensação calorosa da construção de uma personagem e sua história, com base na narração da pessoa que está sendo entrevistada, sob um olhar perceptivo ao que está sendo-lhe mostrado. Tratando de um gênero ficcional (por justamente construir a história através da narração imaginada) pareceu-me um misto de documentário com ficção (um documentário ficcional, poderia afirmar), onde a resposta da entrevistada sobre a pergunta que também é sinopse do filme, “Queria que você olhasse para essa foto, olhasse bem e falasse sobre ela. O que vem na sua cabeça quando você vê essa mulher?”, constrói no imaginário do espectador, a construção da mulher que vai sendo descrita, caracterizada e humanizada. Ressaltando seu temperamento, sua personalidade, suas crenças e no quão imersa ela está na vida que a entrevistada projetou ao observar a foto.
De forma íntima, a narração nos leva a um espaço imagético residencial, no qual a figura matriarcal e até o presente momento protagonista da foto, faz-nos querer conhecer mais ainda quem era aquela mulher. Despertando intrinsecamente a curiosidade de quem assiste.
Em sua projeção narrada, a entrevistada descreve a mulher como a matriarca da casa, que gosta dos filhos, gosta de ser mãe e se fosse possível teria mais filhos. Descreve seus supostos hobbies, como tricotar capas para as almofadas do sofá e que às vezes, a solitude a aborrece, mesmo aceitando que tudo o que aconteceu e se sucedeu, a levou para onde está até o atual momento da foto, e na mesma, a mulher está sorrindo de forma amarela, expressão literária que se refere a forçar um sorriso.
Em contrapartida, ao passo que olhamos para a fotografia por mais tempo, ela parece estar de fato sorrindo, mas não tão alegre, apenas em conformidade com o momento. Como o famoso sorriso da Monalisa que até hoje está posto em questão. A foto fez-me pensar nessas possibilidades de singularidades fenomenais.
Por fim, quando falamos em elementos fílmicos no curta, pude identificar apenas dois. Na primeira cena, quando é feito a pergunta à mulher, onde o ângulo normal é evidenciado, ao qual a câmera é colocada na altura dos olhos da personagem da presente ficção que nos é apresentada, e o segundo, um elemento de movimento de câmera chamado de traveling para trás, que fica evidente apenas no final do curta, quando a foto está se distanciando para mostrar o restante dos elementos que faltavam para compor a imagem e a veracidade da narrativa que nos é contada. Nela e assim a narração conclui, que em um dia de lazer, a mulher foi visitar a casa de alguém e resolveu capturar aquele momento com seus filhos.
Nivaldo instigou de forma incrível e brilhante, a imaginação de quem assiste a esse maravilhoso filme! Que mesmo possuindo apenas 8 minutos e uns segundos, sem espaços reais para vermos a personagem e possíveis personagens se movimentando (mas que se constrói através da narrativa), não fez ao meu ver individual, a falta de espaços reais para construir a narrativa da mesma. Não deixando de citar também, o quão confiável e acolhedora é a figura matriarcal que a entrevistada construiu para ela, onde seus filhos depositam carinho, amor e confiança pela mesma.
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