Texto: Mariana Lira. Revisão: Tatiana Magalhães.
Dedo na ferida e riso de canto de boca: breve análise crítica do curta “Monstro que nada”
Pensar na metáfora do monstro para falar de problemas sociais de uma cidade pode parecer simplório, banal e até meio óbvio. Nada mais adequado do que um para o outro. Mas a simplicidade, banalidade e obviedade da metáfora morrem, em Monstro que nada (direção coletiva), nas minúcias de sua abordagem. Um fato é reportado, a notícia corre, as interpretações são feitas, as versões geradas, as falas ouvidas e assim o monstro nasce, existe. Um ser que, provavelmente, matou pessoas, vive num rio poluído, mas nunca foi visto. O fato precisa ser documentado.
E com o intuito de fazê-lo, surge o filme, que se disfarça de documentário, sem perder o tom de denúncia, mas mostra sua real intenção quando misturado ao humor, simples e inteligente. Aí mora a grande sacada dele. Os sujeitos que falam, a visão de cada um deles, o vocabulário, o modo de falar, são particularidades reais que, de forma levemente intensificada, geram uma ironia sutil e implícita que arranca risos discretos de quem assiste, sem realmente deixar de apontar e até documentar as mazelas sociais.
A ironia e o humor ficam de lado em alguns momentos do curta, como na fala das senhoras na rua, do mendigo que tenta desvendar o que seria o monstro e do mitólogo que, finalmente, além de fazê-lo, qualifica-o e o nomeia como resultado fiel do que a sociedade é. O filme é, realmente, uma crítica aos problemas da cidade de Maceió, experienciados pelos realizadores, inclusive, como é dito no final. Mas ele o faz de forma incomum, irônica e divertida, sem deixar de ser crua e fiel, além de próxima ao cidadão.
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