[Carta] Às mulheres que estiveram, estão e estarão na Mostra Sururu de Cinema Alagoano

Texto: Larissa Lisboa

Ao ler a seleção oficial da 11ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano a primeira coisa que percebi foi que haviam muitos nomes femininos, muito mais do que eu já havia visto na última década.

Acho importante apontar que escrevo aqui a partir da referência de nomes femininos atribuindo os mesmos a mulheres, com a compreensão de que desconheço o auto reconhecimento de gênero das pessoas aqui listadas, desconheço se há pessoas trans entre os/as/es selecionades, e caso não haja, expresso aqui o desejo de ver pessoas trans na Mostra Sururu de Cinema Alagoano na frente das câmeras e por trás delas, além de onde mais elas/eles desejarem estar.

Junto a divulgação dos trinta filmes selecionados foi apontado o número de produções inscritas, 73, e que era um recorde em mais de uma década de edições, e que estavam distribuídas entre Maceió, Arapiraca, Palmeira dos índios, Viçosa, Penedo, Coruripe, Marechal Deodoro, Batalha, União dos Palmares, Paripueira, Cajueiro e Ilha do Ferro.

Tive vontade de escrever sobre e para as mulheres que estiveram, estão e estarão na Mostra Sururu, também partindo do fato que sou uma mulher cis, como forma não apenas de celebrar que metade dos filmes selecionados para a edição de 2020 contam com mulheres na direção, mas também por compreender a importância de continuar refletindo e falando sobre presença, acesso e protagonismo a partir do recorte de gênero.

Mas foi após a postagem do Punho Coletivo no Instagram “Filmes dirigidos por mulheres pra ver na Mostra Sururu”, que essa carta veio a ser escrita. Em meio a energia desse convite, chamado, registro, grito que não é só meu, e que eu não reivindico nessa carta.

Colo a lista dos filmes com direção coletiva com participação de mulheres, e com nomes femininos na direção.

MOSTRA OFICIAL — Filmes do Fim do Mundo

À espera de um milagre: relatos de sonhos perdidos de frente para a lagoa, 2019, Documentário, 5’59”, Géssika Costa e Vitor Beltrão, Maceió
A Três Andares, 2020, Doc-Ficção, 6’56”, Bruca Teixeira, Maceió
Bem no Fundo das Retinas, 2020, Documentário, 13’26”, Mik Moreira, Maceió
Marcas de Expressão – O Reflexo da Vida nas Ruas, 2020, Documentário, 16’31”, Luan Macedo e Valesca Macedo, Maceió
Mulher Pandêmica, 2020, Experimental, 13’30”, Direção Coletiva, Maceió
Nunca Olvidar, 2020, Experimental, 2’50”, Oriana Perez, Maceió
Subsidência, 2020, Híbrido, 07’11”, Beatriz Vilela e Marcus José, Maceió
Visão das grotas, 2020, Documentário, 23’02”, Direção Coletiva, Maceió

MOSTRA ESPECIAL – Filmes das Margens

Ainda Te Amo Demais, 2020, Documentário, 21’00”, Flávia Correia, Maceió
Estação Aquarius, 2019, Documentário, 13’47”, Direção Coletiva, Maceió
Feirinha, 2019, Documentário, 13’13”, Maysa Reis, Maceió
Meu Lugar, 2019, Documentário, 9’49”, Larissa Lisboa, Maceió
O Que Meu Corpo Fala, 2020, Experimental, 11’20”, Valéria Nunes e Glauber Xavier, Marechal Deodoro
Oásis, O Berço da Esperança, 2020, Documentário, 11’55”, Lisandra Santos, Palmeira dos Índios
Raiar, 2020, Documentário, 13’33”, Wéllima Kelly e Wagno Godez, Arapiraca

A lista completa pode ser acessada junto a programação da 11ª Mostra Sururu (aqui) ou junto a carta da curadoria.

Da necessidade de esboçar um panorama sobre a presença das mulheres e das direções coletivas

Entre 2009 e 2019, cinquenta e nove filmes dirigidos por mulheres foram exibidos pela Mostra Sururu de Cinema Alagoano (entre convidados e selecionados), que somados a vinte e dois filmes com direção coletiva (com mulheres na equipe), resultam em aproximadamente 34% do acervo composto pelos mais de duzentos filmes que já foram exibidos pela Mostra na última década.

Compartilho o levantamento dos 81 filmes abaixo, não apenas para visibilizá-los e apresentar um desenho quantitativo da quantidade de filmes dirigidos por mulheres e com direção coletiva das dez edições da Mostra Sururu realizadas até 2019, mas também para exercitar o diálogo e deixar um canal aberto para complementações e correções.

Apenas em três das dez edições da Mostra Sururu, nos anos de 2014, 2015 e 2016, foram contabilizados mais de dez filmes com a participação das mulheres na direção. Reforçando para que a presença em 2020 de diretoras em 15 obras, entre elas três com direção coletiva, corresponde ao registro pela primeira vez de 50% dos filmes com mulheres na direção.

Analiso que ter mais filmes inscritos com a participação das mulheres na direção é um dos fatores que tenha possibilitado o aumento do número de filmes dirigidos por alagoanas entre os selecionados e/ou convidados para a Mostra Sururu, mas não é o único. Aqui não farei uma análise, pois não tive acesso às inscrições, mas é importante que sejam feitas mais reflexões e análises. Há uma trajetória que pode ou não estar representada também pelo percentual de inscrições dos filmes dirigidos por mulheres na Mostra nesta última década.

Havia esboçado no texto Panorama do incentivo público à produção audiovisual em Alagoas o crescimento da presença das mulheres na autoria dos projetos submetidos aos editais de incentivo, assim como também a importância da aplicação e diálogo sobre a política de cotas étnicas raciais e de gênero. E por isso acho também importante apontar que devido ao adiamento do prazo para realização dos projetos contemplados no Edital do Audiovisual de Maceió 2019, foi adiada também a previsão de ter mais filmes provenientes de editais de incentivo dirigidos por mulheres em circulação.

Consigo identificar entre os filmes selecionados, três que são provenientes de editais de incentivo à produção audiovisual em Alagoas, como também filmes realizados a partir de editais ou convocatórias emergenciais durante a pandemia de Covid-19 entre os quais me referi em outra carta, como também realizados através de projetos como Ateliê Sesc de Cinema, O que os olhos não vêem, Visões das Grotas, ou realizados de forma independente. Mas essas são mais percepções do que fatos.

Como é também uma percepção que as mulheres estão superando as inseguranças e compreendendo a importância de se colocarem nas funções de uma produção audiovisual em específico na direção. E isso também me dá forças para vir aqui escrever, como também para assumir as minhas limitações de dedicar mais espaço do Alagoar para destacar a presença das mulheres na produção audiovisual alagoana.

Assumo aqui um lugar privilegiado de quem pode minimamente pesquisar sobre a presença das alagoanas no audiovisual realizado no estado por conta própria, munida pela maturidade que me chegou após a intensa experiência de ouvir as alagoanas que possibilitaram a construção do filmes alagoano Delas (dir. Karina Liliane). De quem pode compartilhar ainda que tímida e pontualmente o conhecimento coletado sobre a presença das alagoanas no audiovisual em duas oficinas presenciais e no Webinário Alagoanas da Imagem realizado pelo Alagoar e pela Cuidadoria do Ser junto a Kelcy Mary e Rosana Dias.

Mas principalmente de quem acompanha a Mostra Sururu desde 2009, que sabe o que é ter filmes selecionados, que sabe o que é ser reconhecida, mas também sabe o quanto dói quando o reconhecimento não vem.

 

Levantamento de filmes com mulheres na direção que foram exibidos na Mostra Sururu de Cinema Alagoano entre 2009 e 2019:

2009 (28 filmes convidados, 08 filmes de 10 diretoras)
Areias que Falam, de Arilene Castro. https://alagoar.com.br/areias-que-falam/
Contos de Película, de Larissa Lisboa https://alagoar.com.br/contos-de-pelicula/
Celso     Brandão, de Alice Jardim e Larissa Lisboa. https://alagoar.com.br/celso-brandao/
Dj do Agreste, de  Regina Célia Barbosa. https://alagoar.com.br/dj-do-agreste/
Anda Zé Pequeno Anda, de Kátia Regina, Cássia Rejane e Bruna Rafaela https://alagoar.com.br/anda-ze-pequeno-anda/
Nas Margens, de Súrya Namaskar e Tamires Pedrosa https://alagoar.com.br/nas-margens/
Mestre Benon, o Treme Terra, de Nicolle Freire e Celso Brandão https://alagoar.com.br/mestre-benon-o-treme-terra/
A Paisagem e o Movimento, de  Alice Jardim https://alagoar.com.br/a-paisagem-e-o-movimento/

2011 (18 filmes selecionados, 05 filmes de 04 diretoras)
Aquarelas, de Lucia Rocha
A Sós, de Alice Jardim
Um Vestido para Lia, de  Hermano Figueiredo e Regina Barbosa. https://alagoar.com.br/um-vestido-para-lia/
Em Obra, de Alice Jardim https://alagoar.com.br/em-obra/
Cia. do Chapéu, de Larissa Lisboa https://alagoar.com.br/cia-do-chapeu/

2012 (16 filmes selecionados, 04 filmes de 02 diretoras + 01 direção coletiva)
Rainha, Direção coletiva. http://audiovisualagoas.com.br/rainha
Todavia, de  Alice Jardim https://alagoar.com.br/todavia/
Do barro a louça, de Alice Jardim  https://alagoar.com.br/do-barro-a-louca/
Barro do Muquem, de  Alice Jardim https://alagoar.com.br/barro-do-muquem/
Um Filme que Passou em Minha Vida, de Luciana Fonseca Oliveira

2013 (22 filmes selecionados, 07 filmes de 06 diretoras + 01 direção coletiva)
Diários, Direção Coletiva. http://audiovisualagoas.com.br/diarios
Brêda, de  Trinny Alarcon https://alagoar.com.br/breda/
Miss, de  Alice Jardim e Lis Paim https://alagoar.com.br/miss/
Missi, de Lays Lins Calisto https://alagoar.com.br/missi/
Menina, de Amanda Duarte e Maysa Reis. https://alagoar.com.br/menina/
Rua das Árvores,  de  Alice Jardim https://alagoar.com.br/rua-das-arvores/
Maré Viva, de Alice Jardim e Lis Paim https://alagoar.com.br/mare-viva/

2014 (28 filmes selecionados + convidados, 07 filmes de 04 diretoras + 03 direção coletiva)
Metafilmagem, de Coletivo Profanarte http://audiovisualagoas.com.br/metafilmagem/
Escavacados, Direção Coletiva http://www.audiovisualagoas.com.br/escavacados
Águas no Muquém – sobreviventes de uma enchente, Direção Coletiva. https://alagoar.com.br/aguas-no-muquem-sobreviventes-de-uma-enchente
Cria de Ninguém, de Amanda Duarte   https://alagoar.com.br/cria-de-ninguem/
Entre Céus, de  Alice Jardim https://alagoar.com.br/entre-ceus/
Diluída, de  Alice Jardim  https://alagoar.com.br/diluida/
Geração Z Rural, de  Mel Vasconcelos https://alagoar.com.br/geracao-z-rural/
Aplausos, de Alice Jardim. https://alagoar.com.br/aplausos/
Guerreiros, de Arilene de Castro https://alagoar.com.br/guerreiros/
Reexibição – Rua da Árvores, de Alice Jardim.

2015 (23 filmes selecionados + convidados, 06 filmes de 06 diretoras + 04 direção coletiva)
Bumba Meu Jaraguá, de Direção Coletiva http://www.audiovisualagoas.com.br/bumba-meu-jaragua
Jayme Miranda, Direção Coletiva http://www.audiovisualagoas.com.br/jayme-miranda
Maria da Chica, Direção Coletiva http://www.audiovisualagoas.com.br/maria-da-chica
Monstro Que Nada, Direção coletiva, doc, 12min http://www.audiovisualagoas.com.br/monstro-que-nada
Sandrinho: o culpado de todos os crimes, de Manuela Felix https://alagoar.com.br/sandrinho-o-culpado-de-todos-os-crimes/
Relicários de Zumba, de Vera Rocha https://alagoar.com.br/relicarios-de-zumba/
Para Ouvir, de Renata Baracho http://www.audiovisualagoas.com.br/para-ouvir
Paralelo, de Débora Dias, Helio Melo, Lucas Eduardo e Raphael Augusto http://www.audiovisualagoas.com.br/paralelo
Quem tem juízo resiste e luta, de Marcos Ribeiro Mesquita e Simone Maria Huning http://www.audiovisualagoas.com.br/quem-tem-juizo-resiste-e-luta
Liberdade, Liberdade em Maceió, de Fabiana de Paula e Wladymir Lima https://alagoar.com.br/liberdade-liberdade-em-maceio/
Cidade Líquida, de  Laís Araújo https://alagoar.com.br/cidade-liquida/

2016 (24 filmes selecionados + convidados, 06 filmes de 10 diretoras + 05 direção coletiva)
Com-Posição, Direção Coletiva https://www.alagoar.com.br/com-posicao
Filme do Filme, Direção Coletiva https://www.alagoar.com.br/filme-do-filme
Isso Vale um Filme, Direção Coletiva https://www.alagoar.com.br/isso-vale-um-filme
Metrópole do Futuro, Direção Coletiva https://alagoar.com.br/metropole-do-futuro/
Roupa Qualquer, Direção coletiva https://www.alagoar.com.br/roupa-qualquer
Sangue-Mulher, de Janderson Felipe, Mik Moreira, Minne Santos https://alagoar.com.br/sangue-mulher/
Segunda Feira, de Olga Francisco, Iasmyn Sales, João Marcos Alves, Camila Alves e Leandro Alves  https://alagoar.com.br/segunda-feira/
Minha Palavra é a Cidade, de Taynara Pretto https://www.alagoar.com.br/minha-palavra-e-a-cidade
Angelita, de  Jéssica Patrícia da Conceição, Mare Gomes https://alagoar.com.br/angelita/
O Juremeiro de Xangô, de Arilene de Castro https://alagoar.com.br/o-juremeiro-de-xango/
À espera, de Nivaldo Vasconcelos e Sônia André https://alagoar.com.br/a-espera/

2017 (25 filmes selecionados + convidados, 04 filmes de 04 diretoras + 02 direção coletiva)
Onde Você Mora?, Direção Coletiva https://alagoar.com.br/onde-voce-mora/
Entrerio, de Larissa Lisboa https://alagoar.com.br/entrerio/
Cadê minha casa que estava sempre aqui?, Renata Baracho https://alagoar.com.br/cade-minha-casa-que-estava-sempre-aqui/
Delas, Karina Liliane https://www.alagoar.com.br/delas
Ressonância, Fabiana de Paula https://alagoar.com.br/ressonancia/
Tupi Or Not Tupi, Direção Coletiva https://alagoar.com.br/tupi-or-not-tupi/

2018 (26 filmes selecionados, 08 filmes de 10 diretoras + 01 direção coletiva)
Serrote, de Direção Coletiva https://alagoar.com.br/serrote/
A Última Carta, de Eduarda Marques e Sérgio Onofre https://alagoar.com.br/a-ultima-carta/
Coração sem freio, de Cris da Silva e Hallana Lamenha https://alagoar.com.br/coracao-sem-freio/
Estigma, de Gabriela Araújo dos Santos https://alagoar.com.br/estigma/
Leve a’mar, de Kátia Rúbia https://alagoar.com.br/leve-amar/
No outro dia, de Ester Lima e Vanessa Geovana https://alagoar.com.br/no-outro-dia/
Admirável Mundo Destro, de Luiza Leal https://alagoar.com.br/admiravel-mundo-destro/
Parteiras, de Arilene de Castro     https://alagoar.com.br/parteiras/
Um Fato, Várias Lentes: 17 de Julho, de Bruno Fernandes e Camila Costa https://alagoar.com.br/um-fato-varias-lentes-17-de-julho/

2019 (29 filmes selecionados + convidados, 04 filmes de 05 diretoras + 05 direção coletiva)
Ana Terra, Direção Coletiva https://alagoar.com.br/ana-terra/
Colapsar, Direção Coletiva https://alagoar.com.br/colapsar/
Caminhando e Cantando, de Júlia Maria https://alagoar.com.br/caminhando-e-cantando/
Como ficamos da mesma altura, Laís Araújo https://alagoar.com.br/como-ficamos-da-mesma-altura/
Corpo D’água, Direção coletiva https://alagoar.com.br/corpo-dagua/
Essas coisas de cinema, Beatriz Vilela
Mané, Direção coletiva https://alagoar.com.br/mane/
O Homem das Coisas, Direção Coletiva https://alagoar.com.br/o-homem-das-coisas/
O Cortejo, Flávia Correia, Marianna Bernardes e Rafhael Barbosa https://alagoar.com.br/o-cortejo/

Sobre Larissa Lisboa
É coidealizadora e gestora do Alagoar, compõe a equipe do Fuxico de Cinema e do Festival Alagoanes. Contemplada no Prêmio Vera Arruda com o Webinário: Cultura e Cinema. Pesquisadora, artista visual, diretora e montadora de filmes, entre eles: Cia do Chapéu, Outro Mar e Meu Lugar. Tem experiência em produção de ações formativas, curadoria, mediação de exibições de filmes e em ministrar oficinas em audiovisual e curadoria. Atuou como analista em audiovisual do Sesc Alagoas (2012 à 2020). Atua como parecerista de editais de incentivo à cultura. Possui graduação em Jornalismo (UFAL) e especialização em Tecnologias Web para negócios (CESMAC).

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