[Carta] Na tela e por trás das câmeras, Dalva de Castro (in memoriam)

Texto: Larissa Lisboa. Revisão: Felipe Benício. Ilustração: Weber Salles Bagetti.

Conhecia, mas não conhecia Dalva de Castro (18 de novembro de 1971 – 8 de outubro de 2020, Vicentina Dalva Lira de Castro). Conhecia por já ter estado nos mesmos eventos, por já ter ouvido muito falar e porque, se nos encontrássemos, agiríamos como pessoas que se conheciam. Mas não a conhecia, porque não me recordo de ter conversado com ela em alguma oportunidade. 

Mesmo sem conviver com ela, sabia que ela desenvolvia trabalhos culturais e artísticos a partir de Piaçabuçu-AL, pois tinha referências da atuação da Associação Amigos de Piaçabuçu – Olha o Chico em Alagoas, criada em 1999, tendo Dalva como uma das responsáveis.

Enquanto pesquisava para o meu Trabalho de Conclusão de Curso em 2007, coletei informações do projeto Revelando os Brasis sobre filmes realizados em cidades com até 20 mil habitantes em Alagoas, e Dalva estava entre os contemplados da primeira edição. Informação que foi/está inserida no Alagoar junto ao registro de projetos contemplados em editais de incentivo e que compartilhei/compartilho em todas as oportunidades que tive/tenho de rememorar o histórico de filmes realizados através de editais.

Custei a dimensionar o que significava ter Dalva de Castro como primeira alagoana contemplada em um edital nacional de incentivo à produção audiovisual. Quanto mais reflito sobre a presença das mulheres nas produções audiovisuais alagoanas, mais atribuo importância a esse fato, ainda mais diante da inexistência de incentivo sistemático para estimular a descentralização da produção audiovisual em Alagoas. 

Desconheço a existência de pesquisa que tenha buscado reconhecer a presença das alagoanas nas telas e atrás das câmeras, algo que é necessário para dimensionar e estimular o reconhecimento das pioneiras do cinema e da produção audiovisual alagoanos. Dentro do que pude desenvolver como pesquisa, enquanto me preparava para ministrar ações formativas abordando a presença das alagoanas no audiovisual, tenho Dalva de Castro como uma das pioneiras. 

Quatro filmes alagoanos foram realizados por convocatórias nacionais entre 2004 e 2005. Pelo DocTV, foi realizado Imagem Peninsular de Lêdo Ivo (2004), com direção de Werner Salles Bagetti. E, pelo Revelando os Brasis, Nelson, com direção de Thalles Gomes, Cadê Calabar?, com direção de Joaquim Alves de Oliveira Neto, e Borboletas, com direção de Dalva de Castro.

O Revelando os Brasis foi lançado no dia 11 de agosto de 2004 pelo Ministério da Cultura, por meio da Secretaria do Audiovisual e do Centro Técnico do Audiovisual (CTAv), em parceria com o Instituto Marlin Azul. Na primeira edição, o projeto recebeu 417 textos. Foram selecionadas 40 histórias vindas de 21 estados brasileiros de todas as regiões do Brasil” (Trecho de Revelando os Brasis – Ano I). 

Entre 2004 e 2009, foram contemplados cinco projetos pelo DocTV em Alagoas, apenas um teve direção de uma mulher, Areias que Falam (dir. Arilene de Castro), em 2009. Arilene assina a pesquisa para o filme junto à Mira Dantas e à sua irmã, Dalva de Castro – que também foi responsável pela produção executiva e coordenação de produção de Areias que Falam.

Dalva também participou de As Ilhas da Minha Vida (dir. Zezinha Dias), filme também contemplado no Revelando os Brasis – ano IV, realizado em Piaçabuçu em 2011. Dalva voltou a colaborar em outros filmes dirigidos por Arilene de Castro, como: Guerreiros (produtora executiva), O Juremeiro de Xangô (atriz), Parteiras (Trilha Sonora), Mestras e Mestres da Produção Artesanal (Trilha Sonora), Chefes da Gastronomia Popular (Trilha Sonora) e Terapeutas Tradicionais (Trilha Sonora).

Borboletas está disponível para visualização. Fica o convite para que celebremos a existência de Dalva assistindo a essa obra audiovisual que reverbera o afeto dela por contar histórias.

Sobre Larissa Lisboa
É coidealizadora e gestora do Alagoar, compõe a equipe do Fuxico de Cinema e do Festival Alagoanes. Contemplada no Prêmio Vera Arruda com o Webinário: Cultura e Cinema. Pesquisadora, artista visual, diretora e montadora de filmes, entre eles: Cia do Chapéu, Outro Mar e Meu Lugar. Tem experiência em produção de ações formativas, curadoria, mediação de exibições de filmes e em ministrar oficinas em audiovisual e curadoria. Atuou como analista em audiovisual do Sesc Alagoas (2012 à 2020). Atua como parecerista de editais de incentivo à cultura. Possui graduação em Jornalismo (UFAL) e especialização em Tecnologias Web para negócios (CESMAC).

Be the first to comment

Leave a Reply

Seu e-mail não será divulgado


*