Cobertura: 10ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano – 5º dia

Revisão: Fabbio Cassiano e Larissa Lisboa. Foto: Vanessa Mota

A última sessão da Mostra Sururu de Cinema Alagoano exibiu uma programação que conversa entre si, pois as narrativas tem uma carga imaginativa, lúdica e a respeito do desejo. A curadoria reuniu de maneira didática filmes que dialogam com o universo infanto-juvenil.

Essas histórias foram desenvolvidas em Maceió e Viçosa, e nos dão a oportunidade de visualizar paisagens diferentes, desde as espaciais ao de uma vila no bairro da Ponta Grossa (Maceió). Assim como nos auxiliam compreender através das imagens em movimento, outras facetas, cores e arquiteturas desses lugares que provocam e problematizam.

Janela (dir. Daniel Milano e Michael Leite)

O filme busca nos levar para uma viagem espacial através da leitura dos livros. O curta-metragem faz uso de efeitos visuais e os diretores têm a ficção científica como referência desde seu curta-metragem Operação Harpa (2018). A obra foi realizada de maneira independente, os diretores são os próprios atores e alguns sets foram as suas casas. É o cinema feito na guerrilha. O curta nos transmite narrativas que não sabemos ao certo suas conexões.

Trincheira (dir. Paulo Silver)

O curta-metragem parece um jogo, Gabriel, o protagonista, passa o dia garimpando materiais no aterro para as suas brincadeiras e se esconde dos garis para não ser pego. O terreno faz limite com o muro de um condomínio de luxo. O roteiro nos faz relembrar a infância, as brincadeiras com tampinhas de refrigerantes, carrinhos de lata de óleo e espadas de cabos de vassouras. A estética do filme é agradável, a Direção de Arte é criativa e simples, e dialoga com a proposta do roteiro. O controle de Super Nintendo está presente assim como uma espécie de Delorean. O filme dialoga com a geração que brincou nas ruas e pela tarde jogava Mario Bros. na locadora do bairro. Nesse clima, o curta-metragem tem uma trilha sonora inspirada em jogos. Frisamos que os filmes protagonizados por crianças em um universo lúdico ainda é pouco explorada, por isso Trincheira é uma feliz contribuição. Contudo, sente-se a falta de mais obstáculos e chefões no terreno/tabuleiro.

Essas Coisas De Cinema (dir. Beatriz Vilela)

O documentário produzido pelo Doc Lab 2018, nos mostra que o cinema é muito mais que uma sala escura de um Shopping Center. A magia da arte cinematográfica adentrou a Vila Dantas no bairro da Ponta Grossa, região que por anos abrigou um dos cinemas mais conhecidos da cidade, o Lux. As crianças e a diretora compartilham afetos pelo cinema e pela Vila, Beatriz não é uma forasteira, ela foi moradora da região, conhece as crianças e por isso a química é visível. A exibição de filmes na vila acarretou reflexões sobre o que é cinema? E a experiência cinematográfica na periferia.

Aula De Hoje (dir. Dário Júnior)

O documentário acompanha a jornada de trabalho da professora Ângela, precisamente em suas aulas em três escolas em turnos diferentes. O curta Ilha das Flores (1989) é usado pela professora para suscitar debates entre os alunos, assim como meio de refletir sobre o contexto atual. Dário Júnior tem em sua cinematografia personagens fortes, que se distinguem por suas riquezas de histórias, e Ângela é uma delas. Contudo, ficamos com vontade de conhecer mais essa mulher, principalmente na atual conjuntura em que vivenciamos: um pífio ministro da educação que deslegitima a ciência, o “projeto” escola sem partido que já vem sendo executado em alguns estados e os encontros de terraplanistas.

Ilhas de Calor (dir. Ulises Arthur)

O curta-metragem que encerra a mostra competitiva, exibe o ambiente de uma escola pública do interior de Alagoas (Viçosa) e tem como protagonista Fabrício. Na maioria das representações audiovisuais as pessoas da comunidade LGBTQ+ são estereotipadas ou tem uma narrativa violenta com intuito de alimentar essas visões brutais da sociedade. Ilhas de Calor insere outro olhar, Fabrício é negra tem amigas e juntas formam uma banda. Elas correm e enfrentam os bad boys da escola. O universo escolar é mostrado em meio às algazarras e gaiatices. Entre aulas e o recreio, essa energia da juventude está na tela do mesmo modo que a primeira decepção amorosa, os desejos e os primeiros beijos.

Be the first to comment

Leave a Reply

Seu e-mail não será divulgado


*