Crítica: Corpo D’Água (Direção Coletiva)

Texto: Paulo Vieira. Revisão: Chico Torres e Larissa Lisboa.

A natureza é caracterizada como frágil pela direção coletiva do curta Corpo D’água, apresentado no segundo dia da 10ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano. Entretanto, a produção nos mostra as diversas investidas contra o mangue,  o rio e a diversidade do local, o que caracteriza a resiliência da mesma. O amor que é demonstrado na fala dos entrevistados se contrasta com a abstenção da responsabilidade pelas consequências dos aterramentos e desequilíbrio da lagoa Mundaú.

Na cena inicial, nos deparamos com uma reflexão sobre a importância da Mundaú e como a marginalidade em que a comunidade da lagoa foi colocada afeta a todos os que dependem da história da cidade. A Vila Brejal, construída sobre os aterramentos do mangue, reforça a linha de destruição que começa com o mangue (o berçário natural que alimenta as populações de animais marinhos), seguido pela construção sem direcionamento de uma comunidade abandonada que tenta subsistir através da lagoa e termina na decadência das águas, que poluídas e pobres de sua diversidade respondem aos ataques que sofreram.

“Sangraram-me as margens”, declama a narradora.

As poesias e depoimentos sobre a lagoa atreladas às imagens de uma câmera fixa, colocam os holofotes nas cenas dançantes da água e mostram a beleza através do movimento que passa despercebido pela maioria, um movimento que deveria ter caído na rotina dos moradores ribeirinhos mas que, de alguma forma, se mantém belo aos olhos do dia a dia.

As cenas aéreas do filme trazem um charme especial, se mesclando com o conteúdo histórico (imagens e filmagens) que nos ajudam a visualizar a mudança social do lugar.

A cena mais marcante é a do pescador que tira um peixe da rede e acena com ele na mão: rindo, joga o peixe de volta a lagoa, onde uma garça entra em cena e o “pesca” novamente. Apesar da relação conturbada entre as pessoas e a Mundaú, esse corte torna legítimo o quanto essa conexão é verdadeira, o desejo de viver com qualidade e de forma sustentável com a lagoa.

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