Cobertura: 13ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano – 2º dia

Texto: Beatriz Vilela. Revisão: Chico Torres.

A desilusão da força das imagens 

A segunda noite da 13ª edição da Mostra Sururu de Cinema Alagoana trouxe várias possibilidades do fazer cinematográfico, apresentando várias formas de sentir a força da imagem. Começo por Abaporu, que apostou de modo alongado na força das imagens horrorosas. Essa ficção contou com dois protagonistas extremamente carismáticos, que de cara nos fez construir uma empatia muito grande com a amizade deles. E o crédito disso está na própria atuação das crianças, que demonstraram uma autenticidade muito convincente em suas interpretações. A trama interiorana que inicialmente parece uma comédia, drasticamente ganha um ar dramático e se configura em uma espécie de horror trash anos oitenta, sem qualquer pudor com as cenas de abate das crianças, de modo que o filme é levado pra um lugar completamente diferente daquele que foi esboçado no início, parecendo dois filmes.

O menino da caixa de sapato é um documentário biográfico que tem como foco trazer à memória a contribuição seminal do ilustre crítico de cinema Elinaldo Barros. O filme passeia entre os depoimentos dos amigos e trechos de entrevistas com Elinaldo, articulando um verdadeiro mosaico sobre quem ele foi. Apesar das falas explorarem vários aspectos sobre a trajetória dele, parece que faltou algum tipo de direcionamento nas entrevistas: ora eles falavam sobre as memórias de infância, ora sobre a condição da sua saúde. Senti falta de um olhar mais aprofundado sobre o que Eli mais gostava de fazer, que era assistir e escrever sobre os filmes. Do modo como a montagem foi construída, o filme mais parece uma grande reportagem sobre Elinaldo, mas é necessário lembrar que documentário também é cinema.

Grito d’água é um filme que tem um potencial muito grande, a reconfiguração da lenda dos botos e das iaras, no mar de Maragogi, é uma ideia muito criativa, no entanto, o excesso de trilhas sonoras que pouco dialogam entre si acabam tirando a força do conto. A direção de arte do filme foi muito bem construída, chamo a atenção para a composição cênica do espaço do bar e a solução encontrada para a despedida das iaras na cena final são dois pontos altos do filme. Mas o que me incomodou profundamente foi a ausência de um som ambiente ou de uma trilha sonora que estivesse alinhada com a ação do elenco. Aqui a força da imagem não foi suficiente. 

Considero que Natureza e destino é uma performance visual sobre os contrastes, com imagens desconexas que parecem partir de um lugar onírico. Em pouco mais de quatro minutos há uma circulação de objetos, performances e espaços que me fizeram pensar na força incontrolável da natureza e daquilo que acidentalmente consideramos como destino. Esse filme apostou todas as suas fichas na força das imagens, através da escolha dos enquadramentos e das cores para enfatizar os contrastes. Dois momentos muito bonitos foram as sequências que focam na santa com uma luz artificial quente, além da batalha entre o concreto cimentado e a natureza viva. 

Sem dúvidas o melhor filme da noite foi O oceano de Dália. A ficção nos trouxe boas imagens, com uma direção de fotografia impecável e planos ousados que tentam reinventar o cotidiano. A trama traz o dia-a-dia de um jovem branco classe-média enclausurado em seu apartamento. Apesar do filme ser visualmente agradável, ele tem muita dificuldade de sair do lugar-comum que exaustivamente nós percorremos durante toda a pandemia: com a “estética de quarentena” que coloca um peso muito grande na contemplação daquilo que é trivial, na centralidade do eu. Acho que para além desse modelo precisamos inventar outros modos de lidar com os silêncios e os vazios que nos tomam.

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