Cobertura: 14ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano – 2º dia

Texto: Emanuella Lima. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: divulgação.

14ª Mostra Sururu: segundo dia de exibições é marcado por filmes que exploram temas sociais e resgatam a cultura local 

A 14ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano iniciou sua temporada no Centro Cultural Arte Pajuçara, no dia 07 de dezembro, trazendo uma seleção de 24 filmes que vão desde a ficção até o documentário, todos produzidos por diretores alagoanos. 

Em 2023, a mostra segue adotando exclusivamente o formato competitivo, deixando de lado a mostra paralela. Após cada exibição, os realizadores participam de debates para aproximar o público das produções. No entanto, houve uma falha na divulgação da onda de calor que afetou o local na sexta-feira (08), causando alguns transtornos para quem esperava mais conforto na exibição dos filmes. 

No que diz respeito aos curtas exibidos, a curadoria de Marina Bonifácio, Ziel Karapotó e Regina Barbosa, trouxe oito filmes e três videoclipes no segundo dia do evento. Destaca-se o curta-metragem “Maceió é um ovo”, dirigido por Carlos Alberto, que, em apenas cinco minutos, cativa a atenção do público com sua performance teatral. O filme aborda duras críticas sociais, destacando o descaso da gestão da cidade com a cultura, a falta de segurança e a vulnerabilidade social que afeta a arte na região. As imagens psicodélicas em preto e branco com tons amarelados ecoam um chamado de alerta, transmitindo intensidade, poesia e uma certa dose de loucura.

Em contraponto, “Queima minha pele”, dirigido por Leonardo Amorim, revela uma abordagem diferente do esperado, explorando relações de amor, medo e masculinidade tóxica. Com uma fotografia surpreendente em uma casa de praia, o filme retrata uma paixão não correspondida entre uma pessoa jovem e o amigo do seu irmão mais velho. O curta traz cenas de armas e abordagens abruptas, talvez para mostrar como muitos homens lidam com a raiva e o medo causados pela sociedade, descontando sua ira na violência para serem aceitos por outros homens. Apesar de atingir seu objetivo, a falta de conexão com o público pode gerar uma sensação de exaustão, com cenas que deixam interrogações no ar.

Outro curta-metragem, “Luz, Câmera e Produção!“, dirigido por Adriana Manolio e Charles Northrup, em formato híbrido, abriu a sessão de filmes com uma abordagem cômica sobre a função do produtor audiovisual como um herói que resolve inúmeros problemas. O curta, que menciona o edital da Lei Aldir Blanc, arrancou risadas do público ao retratar o trabalho invisível realizado pelas mulheres nessa profissão, enquanto também aborda as questões relacionadas à sobrecarga enfrentada por elas.

“O que eu vejo”, dirigido por Aldia Sampaio, se destaca ao trazer à tona as violências silenciadas vividas pelas mulheres em seu dia-a-dia. Através de uma câmera que nos coloca na perspectiva de sua própria visão, o filme nos confronta com a realidade de que ser mulher é estar constantemente vulnerável à violência. Com sensibilidade e crítica, o curta nos convida a refletir sobre essas relações e suas consequências.

Dentro desse cenário intenso, quatro filmes se destacaram e se harmonizam de forma excepcional, envolvendo e abraçando a alma do público. “Canto”, “Hábito”, “Cabocla” e “Riacho Doce” foram produções, carregadas de sensibilidade e trilhas sonoras impecáveis.

O Canto, filmado em Arapiraca e dirigido por Izabela Vitório e Isadora Magalhães, nos transporta para um universo intenso e cheio de saudade, retratando dinâmicas comuns na vida das pessoas que moram no interior e vivem da cultura do fumo. Através da voz da saudade, somos apresentados à Mestra Rosália Gomes, uma figura ilustre que nos guia pelo curta, revelando-nos a ancestralidade presente em cada cena. Através da dança e dos cantos, as mulheres se encontram, compartilham momentos e perpetuam tradições. O filme é um encontro entre as tradições e o som das destaladeiras de fumo de Arapiraca, uma experiência bela e contemplativa.

Próximo dali, em União dos Palmares, Cabocla, dirigido por Dário Junior, conta a história de Edcleide, uma mulher que carrega consigo suas raízes ancestrais e luta incansavelmente pelos direitos de seu povo. O filme retrata a vida no campo, a plantação e a importância de semear com amor e bondade. Com uma fotografia deslumbrante e cenários únicos, somos imersos em um espaço de tempo que narra a luta de Cabocla e das várias mulheres que existem dentro dela.

Habito, também realizado em União dos Palmares, é um curta dirigido por Fernando Santos, que narra a história de sua própria vida e seu contato com o cinema. Com um olhar autoral, Fernando captura a sensibilidade de cada cena, revelando a possibilidade de habitar os lugares que amamos e explorando a conexão entre nossos sonhos e os espaços que conhecemos. O filme é uma ode à capacidade de encontrar beleza e significado em cada local e nos presenteia com um roteiro brilhante.

Por fim, Riacho Doce, dirigido por Vanessa Mota, mergulha na história de duas famílias pioneiras na produção de alimentos através da macaxeira e da mandioca. O filme resgata a tradição das casas de farinha, ilustrando as trajetórias das mulheres que lutam para manter viva essa herança cultural. Com sensibilidade única, o curta nos transporta para o bairro de Riacho Doce, onde podemos imaginar a poesia existente entre o nome do local e sua existência tradicional.

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