Texto: Jamerson Soares. Revisão: Larissa Lisboa.
Terceira noite da 14° Mostra Sururu evidencia ícones da arte e cultura popular local e questões LGBTQIAPN+
Cultura Ballroom em Alagoas e a história da Miss Paripueira foram alguns dos temas abordados nos trabalhos
A terceira noite da 14° Mostra Sururu de Cinema Alagoano aconteceu, neste sábado (9), sob aplausos, com grande quantidade de público e falas marcantes no palco. O Arte Pajuçara continuava tomado de verde e com a esperança de boas vibrações para futuras produções cinematográficas no estado.
Antes da exibição, os realizadores e integrantes dos filmes foram até o palco falar sobre suas obras, um pouco do processo criativo e agradecimentos.
Um dos momentos intensos da noite foi o discurso das integrantes do curta “Cultura Ballroom: A Arte da Resistência”, em que destacaram a importância da mostra fomentar a inclusão de cineastas e produções de pessoas trans na programação, como também estimular o acesso do cinema a essa população que é tão vulnerável.
“Foi uma noite especial. Só em ver e presenciar pessoas trans e negras nesse ambiente de resistência já ultrapassa o simbólico. São corpos de pluralidade diferentes ocupando lugares que são de arte, que não chega para corpos trans e travestis. Esses espaços são muito importantes porque a arte não é apenas branca e elitista, é também preta e travesti”, disse Diana Justino, uma das participantes do curta.
Exibição
A exibição começou com os videoclipes Jardim das Delícias, de Caio Praças. O clipe musical evidenciou uma atmosfera tropical, interiorana, e mostrou um pouco a dissolução de relações e como os sentimentos podem ser confundidos.
Vulgo BR veio com o clipe Disco Voador, música que teve como protagonistas os artistas Jurandir Bozo e Hudson Kalonia. A animação um tanto psicodélica abordou assuntos instigantes, como a nordestinidade e a visita de OVNIs. O último clipe foi o de LIMAO The Sound. Intitulado Tropical Groove, o vídeo foi gravado no centro histórico de Jaraguá, sob um tom brincalhão, amarelado e vibrante, de verão.
Logo depois, oito curtas-metragens alagoanos foram exibidos para o público. Em resumo, todos dialogaram bastante com as questões LGBTQIAPN+, o amor em família e a cultura popular do estado.
IMPEDIMENTO, documentário de Renata Baracho; Cultura Ballroom, de Glendha Melissa; e A história mais velha do mundo: Porque eu te amo, de Daniel Ricardo, foram os três primeiros. Contar histórias de pessoas do gênero feminino de diferentes áreas do futebol alagoano e também torcedoras de times locais, além de levantar críticas ao machismo ainda presente nesse campo, foram os objetivos do curta IMPEDIMENTO.
Já o segundo filme mostrou o movimento ballroom em Alagoas, a partir dos depoimentos de mulheres trans. O terceiro curta mostrou um pouco a relação de mais de 40 anos dos avós do diretor e a cumplicidade de um romance duradouro.
Nós Duas, de Wéllima Kelly e Leandro Alves; Diafragma, Robson Cavalcante; e Um dia ela amanheceu assim, de Ticiane Simões e Elizabeth Caldas, foram os próximos curtas. O primeiro aborda a relação intensa e genuína de mãe e filha, o segundo é uma animação sobre a vida e as dificuldades de um jovem que perde a visão por causa da diabete. E o terceiro faz um parâmetro da história de Ambrosina Maria da Conceição, a Miss Paripueira, que foi um ícone no estado por sua personalidade irreverente e por marcar a cultura popular local.
Os últimos filmes foram Retratos da Nossa Cor, de Carlos Alberto Barros, e Biribinha: Na Fronteira do Riso, de Lara Araújo. O primeiro contou um pouco e de forma magistral a história de José Zumba, mais conhecido como Mestre Zumba, que foi um pintor de Santa Luzia do Norte, popular por ir às ruas vender suas obras. O filme vai contando a história desse ícone recriando algumas de suas obras, através da performance de Fenix Zion e Topete, artistas que abrilhantam o filme como esculturas vivas.
O segundo filme mostra o percurso do palhaço Biribinha, outro patrimônio da arte e cultura popular de Alagoas, para se reerguer depois de dificuldades e tragédias durante a pandemia. O curta aborda também a história, memórias, reflexões e os bastidores desse artista do circo.
Em 2023, a mostra contou com exibições de curtas (exclusivamente no formato competitivo), um longa, realização de laboratórios, mostra itinerante, palestras e reuniões setoriais. Após cada exibição, os realizadores participaram de debates para aproximar o público das produções.
A curadoria dos filmes e videoclipes foi feita por Marina Bonifácio, Ziel Karapotó e Regina Barbosa.
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