Texto: Rosana Dias. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: Circuito Penedo de Cinema - Kamylla Rafael e divulgação
14º Festival de Cinema Brasileiro de Penedo | Circuito Penedo de Cinema – Dia 05 – 25/11
No último dia de exibição do 14º Festival de Cinema Brasileiro de Penedo, que teve sob curadoria de Luciana Oliveira – Mestra em Cinema e Narrativa Sociais pela Universidade Federal de Sergipe, pesquisa o Cinema Negro no Feminino e as políticas da coletividade nesses filmes. Co-idealizadora da EGBE – Mostra de Cinema Negro de Sergipe. Cineclubista no Cineclube Itinerante Candeeiro e sócia na Rolimã Filmes onde exerce as funções de direção e figurino; Nuno Balducci – Cinéfilo, cineclubista, realizador e pesquisador, atuando também como curador, oficineiro e crítico cinematográfico. Diretor e roteirista dos curtas-metragens “Atirou para Matar” (2014) e “Os Desejos de Miriam” (2017) e mestre em Antropologia Social pela UFAL, onde investigou a relação entre performance, masculinidade e identidade regional no cinema do Nordeste contemporâneo; e Ricardo Lessa – Doutor em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) com a tese “Sair da escuridão: notas sobre as imagens emergidas à luz” (2020). Mestre pela mesma Universidade com a dissertação: “Entre imagens e sobrevivências: notas sobre Noite e neblina e Shoah” (2016).
O curta Portugal Pequeno, de Victor Quintanilha (RJ), inicia-se em um baile funk, nele o MC Xerelete é convidado a entrar no palco, a batida é forte, o público acompanha a canção. Xerelete é o nome artístico de Jonatan, jovem negro e periférico que mora com seu pai, os dois são pescadores na Baía de Guanabara, Rio de Janeiro.
O sonho de ser famoso é o que guia Jonatan, em 19 minutos de filme temos um curta completo, um filme que não nos cansa. Vemos os esforços desses dois homens, do pai e do filho no trabalho de pescaria, temos um jovem em busca de melhores condições de vida e procura isso por meio de suas canções.
É em suas diferenças e isso nos é mostrado quando o MC leva o pai a um passeio ao shopping e o pai fica impressionado com o alto valor de um tênis, e quando ambos comem no McDonald’s, mas o pai não se agrada com aquele tipo de alimento. E em suas afinidades, quando terminam comendo uma peixada à beira da Baía, que vemos o quão bem entrosadas são estas personagens.
Mãe Solo, direção de Camila de Morais (BA), nos mostra duas personagens com histórias em comum, são mulheres, negras, moradores de comunidades em Salvador e mães solteiras.
Os relatos dessas mulheres nos são apresentados, bem como, dados políticos sociais sobre as mães solo no Brasil. Dos relacionamentos afetivos desfeitos, da dificuldade em manter-se bem durante a gravidez, parto realizado em casa, as tentativas em manter-se e em manter seus filhos. No Brasil um terço das crianças de 0 a 3 anos mais pobres está fora da creche por falta de vaga, mães precisam esperar em filas para terem acesso à uma vaga e quando isso não ocorre essas crianças ficam na casa de algum familiar. Essas mães solo também têm impedimentos de acesso ao mercado de trabalho.
O filme conta com a performance das atrizes Brenda Matos, Kalú Santana e Lindete Souza, e Maquiagem de Lailane Dorea.
As eleições de 2018 foram um marco histórico na maioria das famílias brasileiras. Em Medo da chuva em noite de frio, de Victor Hugo Fiuza (RJ) temos um documentário com relatos de pessoas que romperam contato com seus familiares e principalmente com os pais.
Soraia é uma das personagens, mas que resolve fazer uma tentativa de aproximação com seu pai indo à uma festa na casa daquele. Um certo mal-estar é instalado ali, como voltar a interagir com aqueles que escolheram pegar à Direita? Como olhar nos olhos, ou abraçar, e dirigir à palavra? O que era comum ganha outro peso, pesa a convivência, o distanciamento afetivo está presente.
A trilha sonora do curta-metragem conta com a canção “Nu”, composição de Júnior Almeida e Fernando Fiuza.
Uma pessoa trans é assassinada a cada três dias no Brasil, em Inabitável, de Matheus Farias e Enock Carvalho (PE) temos Marilene à procura de sua filha Roberta, mulher trans.
Entre idas à casa de amigas de Roberta, hospitais e necrotérios para identificação de corpos, Marilene quer respostas, ela não confia na polícia, pois para ela a vida de sua filha não tem importância para o Sistema. De acordo com relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), o Brasil teve 80 pessoas transexuais mortas no 1º semestre deste ano, em 2020 foi considerado como o país o que mais mata trans e travestis, ao longo do ano foram 175 assassinatos.
Na busca de pistas para saber onde sua filha se encontra, Marilene descobre um objeto não identificável, é nesse objeto, que ora se acende, ora se apaga, que a mãe tenta ser levada para uma revelação. Seria este o objeto causador do sumiço da filha, ou seria ele um portal para as respostas e inquietações dessa mãe?
Cartazes colados em paredes sobre sessões de fotos, assim inicia-se o curta De vez em quando eu ardo, com direção de Carlos Segundo (MG). Louise recebe em seu ateliê pessoas que estão dispostas a participar de sessões fotográficas diferenciadas. Fotografias em preto e branco em uma câmera pinhole, corpos desnudos e dançantes que formam imagens geradas pelo contraste luz e sombra, um negativo. Louise faz parte das fotografias, se conecta com a pessoa fotografada e compõe as imagens geradas.
Em uma das cenas temos ela e sua mãe em casa, Louise é liberdade e movimento, feminista, a mãe é religiosa e necessita de cuidados especiais e da atenção da filha.
A construção do filme caminha com a constituição das imagens suscitadas pela fotógrafa até receber em seu ateliê a jovem Tereza. Se o intuito da câmera pinhole é o de não ser penetrada pela luz, Louise é atingida pelo contato com essa nova cliente.
As mostras serão tanto no formato online quanto no presencial. A programação completa do Circuito poderá ser vista no site circuitopenedodecinema.com.br Os textos sobre a cobertura do Circuito Penedo de Cinema estarão disponíveis aqui.
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