Texto: Pedro Krull. Foto em destaque: Felipe Chimicatti e Pedro Carvalho.
BROOKLIN
Direção: Coletivo [CineLeblon]
De futuro próximo, o filme revela uma distopia silenciosa onde os residentes do bairro Brooklin são alvo de ações abusivas do “Estado Verdadeiro”, toques de recolher e o terror de sequestros relâmpagos com tortura.
O núcleo que rege a trama, composto por Sombra e Coqueiro, resistem por meio do uso de broadcast de uma rádio clandestina, cercados de imagens de Marielle à Sabotage. A sensação constante de observação e o peso de cada frame é realçado pela escolha estética de fotos still por vezes postas em movimento por difusão, semelhante à Vinil Verde (dir. Kleber Mendonça Filho, 2004) e por uma mise-en-scène engenhosa que coloca muitas vezes os personagens de costas para a câmera conversando entre si. Destaque para o design de som que, nesse caso, é responsável por dar ritmo ao filme seja na presença de cordas em pizzicato para realçar a tensão de um clímax, ou até mesmo na ausência sonora total.
O filme é noir em todos os sentidos: de ser um filme negro com força na atuação dos protagonistas, do conflito de luz e sombras que os protagonistas percorrem com a iluminação dura da rua até a narração-personagem que rege boa parte do filme.
BABI & ELVIS
Direção: Mariana Borges
Assistir Babi & Elvis é receber um convite para um casamento, puro e simplesmente. Acompanhamos Bárbara, mulher negra trans, na preparação, expectativa e realização de união com Elvis, por uma câmera na mão ultra pessoal na abordagem de planos e na relação com Babi.
Durante essa expectativa da cerimônia, um plano fortemente se destaca e acontece no bar onde Bárbara espera com certa angústia e ansiedade. Em um dos poucos planos abertos do filme, Babi entra no banheiro feminino com a banalidade e segurança de uma situação que já deveria ter sido mais do que normatizada – relembro da situação absurda e preconceituosa ocorrida no Shopping Pátio Maceió ainda neste mês onde Lanna Hellen foi expulsa por seguranças do local por precisar usar o banheiro.
Mesmo com algumas dificuldades técnicas, o curta se sobressai com o enquadramento de um corpo trans e negro envolto em um amor, não só de seu companheiro, mas de todos envolvidos na cerimônia, esta que ainda permanece à margem da sociedade. Assim concebendo uma nova imagética, não puramente romantizada, mas vitoriosa.
DIZ QUE É VERDADE
Direção: Claryssa Almeida e Pedro Estrada
Diz que é verdade é um documentário de gênero híbrido com musical moderno estrelando o cotidiano do Baixo Centro de Belo Horizonte e dos personagens, Sue Tayne e Alexandre Omar.
Os primeiros planos abertos e voyeuristas, Alexandre pintando uma casa ou Sue fazendo uma trança em um novo cliente, são invadidos por quebras na quarta parede com os personagens cantando músicas de todos os gêneros e tipos, Evidências de Chitãozinho e Xororó à Hit Me Baby One More Time de Britney Spears. Esses momentos são um aquecimento vocal, uma preparação para a grande noite de apresentação em um karaokê da cidade.
Pelo magnetismo dos corpos e vozes dos protagonistas a câmera se entrega sem purismo estético nas apresentações e duetos entre os personagens.
Brooklin, Babi & Elvis e Diz que é verdade foram exibidos no dia 26 de janeiro de 2020 na Mostra Foco Minas na 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Confira a programação.
Leave a Reply