COBERTURA | Circuito Penedo de Cinema: Quarto dia

Texto por Janderson Felipe e Leonardo Amaral. Revisão: Larissa Lisboa e Paulo Silver. Fotos: Divulgação.

O Circuito Penedo de Cinema iniciou seu quarto dia com o encerramento da Mostra Velho Chico de Cinema Ambiental e, de noite, apresentando a segunda sessão do 7º Festival de Cinema Brasileiro e concluindo o 10º Festival de Cinema Universitário de Alagoas.

A Mostra Velho Chico de Cinema Ambiental contou com uma sessão formada por três filmes convidados. O primeiro filme, Rio da Morte (de Elizabeth Rocha Salgado), trata dos efeitos da catástrofe ambiental de Mariana tomando uma abordagem semelhante a roadmovies, filmes de registro. Não Mangue de Mim (de Jaco Galdino) utiliza de exageros fílmicos e esteriótipos para compor uma narrativa anticolonizadora, enquanto Vento Forte (Patrícia Antunes) encerra ao ligar a questão ambiental com a violação dos direitos humanos.

A segunda sessão do 7º Festival de Cinema Brasileiro se mostrou confusa de início ao trazer filmes dentro de um alto padrão de produção, mas que apresentam falta de tato ao lidar com personagens femininas e sua representação diante do que vem sendo discutido no cenário atual. A começar com Quando Parei de Me Preocupar com Canalhas (de Tiago Vieira), que satiriza os atuais embates políticos polarizados trazendo momentos de divertimento e consegue manter uma progressão de eventos coerente, ainda que seus temas não se desenvolvam até um resultado satisfatório. Em contrapartida, Em Algum Lugar, Amanhã (de André Siqueira), não apresenta as mesmas qualidades de narrativa e ritmo mencionadas do anterior, pois prende os atores em um texto travado e que é especialmente danoso ao sustentar sua longa duração nesse aspecto.

Após esses dois filmes, a temática de traumas e percepção toma conta do Festival ao introduzir Enzo (de Daniel Souza Duarte), um filme que utiliza dos códigos do gênero de horror para traduzir a experiência alucinatória de seu protagonista ao público, mesmo que a empatia com a personagem principal não seja comum a todos que assistem. O curta seguinte, Tiro No Pé (de Raissa Tâmisa), encara um homem que tenta convencer uma autoridade de que foi responsável pela morte da sua namorada, o que os faz revisitar esses cenários num esforço para se assemelhar em um thriller argumentativo pautado em uma investigação. A sessão foi encerrada com Eu Sou Bixiga (de João Dias, Adriana Terra, Adeline Haverland) que propõe costurar a identidade do bairro de São Paulo através da sua formação negra, passando por elementos da música e espiritualidade.

Representantes dos filmes da última sessão do Festival de Cinema Universitário de Alagoas.

A última sessão do 10º Festival de Cinema Universitário de Alagoas trouxe em sua primeira metade duas simpáticas animações gaúchas. Bailarina (de Lucas Argenta) traz tridimensionalidade a uma narrativa experimental através de uma técnica que age como uma câmera que circunda a personagem, enquanto Solito (de Eduardo Reis) mescla personagens desenhados com um cenário de cartolina. Intercalando os filmes animados, Perambulação (de Samuel Peregrino) é um exercício de linguagem em roteiro cíclico, que utiliza da montagem de forma a ritmar uma repetição que colabora com o tema sobre cotidiano do filme.

A segunda metade se colocou como uma resposta ao início das sessões da noite ao se apresentaram ficções focadas em mulheres, primeiro focando em duas personagens negras nos documentários Angelita (de Jéssica Conceição e Mare Gomes), que de forma sensível captura a prática religiosa de sua personagem principal, ainda que sofra problemas para a compreensão das falas da personagem, e Maria (de Lucas Pena) que revela as relações de classe de forma não intencional, já que seu diretor se coloca em uma posição confortável ao tratar de forma ingênua Maria que foi empregada doméstica de sua família, sendo uma história que não merecia um tratamento tão simplório justamente por sua personagem trazer implicações maiores que o filme não abraça. Por fim, As Melhores Noites de Veroni (de Ulisses Arthur) recebe o destaque da sessão ao trazer uma narrativa fluida que confia na atuação de sua personagem principal e compõem uma estética simbólica bastante vibrante, ainda que se apoie no realismo.

Angelita, dirigido por Jéssica Conceição e Mare Gomes

Hoje haverá debate com os realizadores de 16:00 em frente a Casa da Aposentadoria, além do último dia da Mostra Competitiva às 19:00 do 10º Festival do Cinema Brasileiro.

Para saber mais sobre o Circuito acesse: http://circuitopenedo.iecps.com.br/

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