Cobertura: Escasso (dir. Clara Anastácia e Gabriela Gaia Meirelles)

Texto: Rosana Dias. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: divulgação.

O Brasil não vê o óbvio 

Escasso (RJ) – 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes – Mostra Cinema Mutirão 

Rose, interpretada por Clara Anastácia (roteirista na Produtora Floresta) nos apresenta sua casa e sua gata pretinha, Roseane Silveira de Oliveira reside na comunidade da Pavuna, a casa a qual nos é apresentada não é dela, mas uma casa que estava em seu caminho, em razão de sua espera, tantas coisas em comum com a antiga dona fez com que Rose passasse a morar naquela residência. Ela sentia como se houvesse um chamado. Uma energia maior a tinha levado até aquele lugar.

O curta-metragem com direção de Clara Anastácia e Gabriela Gaia Meirelles é tomado de irreverência, possui uma dinâmica relativa aos cortes, as tomadas, o enquadramento e composição do quadro, há um jogo quanto às misturas de diferentes proporções de tamanho da tela, e no dinamismo da colorização ao se apropriar pujante da granulação da imagem, essa é a estética em Escasso. A personagem interpretada por Clara Anastácia é icônica, toma a nossa atenção com uma atuação estonteante. O filme possui em sua trilha sonora a canção “Mulato”, música de Negro Léo, e fotografia de Luís Gomes.

Você entende que a casa não é sua, não é mesmo, mas é melhor sentir como se fosse, segundo Rose, sua mãe ficaria muito orgulhosa dela, em saber que havia realizado o sonho de ter sua casa própria, não propriamente dela, tem gente cuidadora de idosos, de crianças, mas a Rose cuida, cuida da sua casa, ou melhor, a da pessoa a qual ela só conhece por fotografias, uma mulher com características próximas às suas, tanto que ela usa as roupas dessa mulher, há também identificação concernente à religiosidade. 

O curta é um falso documentário com disposição e fome ao registro fílmico da verdade, algo relativo ao que tínhamos no Cinema Novo, e nele há uma inquietação quanto à quantidade de residências desocupadas versus a quantidade de pessoas desabrigadas. No Brasil há quase 215 mil pessoas em situação de rua, sendo a região Sudeste com 62% dessa população, segundo dados do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (POLOS-UFMG); em 2015 havia 7.906 milhões de propriedades desocupadas com potencial para serem ocupadas no país, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

O filme também é sobre política, denúncia social e sobre a tomada de ação – agir, obter posse antes que a oportunidade escape pelas suas mãos. Ponha a sua melhor roupa e se delicie.  

Be the first to comment

Leave a Reply

Seu e-mail não será divulgado


*